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Toda Família tem seus Demônios: Darkshadows a la Tim Burton


 
"Não é muito pelo seriado em si, mas pelo clima que ele passava, pela dinâmica meio estranha, pelo menos pra mim. Queríamos muito capturar aquele tom, então por isso escolher o elenco era muito importante, e nós trabalhamos aqui com um ótimo elenco". Não só como protagonista, mas também como co-produtor do filme, Depp emenda: "Eu me fascinei com essa novela gótica quando era criança, assistia depois da escola. Sempre ficou na minha cabeça essa ideia, de como seria legal se isso virasse filme, e um dia Tim e eu, na época de Sweeney Todd, estávamos conversando que deveríamos fazer um filme de vampiros, e de uma hora pra outra já estávamos numa sala com Seth discutindo o projeto".
 
Como outras centenas de resenhas a minha também começa citando o novelão norte americano sessetista/setentista chamado "Darkshadows" que se tornou uma das mais marcantes febres vampirescas midiáticas de todos os tempos daquela época.Muito antes de Lestat e sua turma que foram criados por Anne Rice nos anos setenta, bem como seus primos moderninhos de "True Blood" e bem como da infâme franquia "Crepúsculo". Milhares de pessoas paravam para assistir as desventuras do vampiro Barnabas Collins e sua família amaldiçoada nas telinhas quando a televisão ainda era preto-e-branco. Vale contar que originalmente, nos primeiros episódios a série era só um novelão gótico que recordava aquele climinha de contos da Anne Radcliffe onde todo efeito sobrenatural era desmascarado como algum truque de algum farsante (a la Scooby Doo...e em geral a culpa era sempre de alguma traquinagem do David Collins...rsss...) responsável pelo baixo índice de audiência, então os produtores e o estúdio decidiram que o sobrenatural deveria ser realmente sobrenatural... tudo começou com a aparição de fantasmas revelando quem havia sido os autores de seus assasinatos. Dentre eles o fantasma de Josette DuPréss Collins foi ganhando cada vez mais importância na trama e preparando a entrada grandiosa do vampiro Barnabas Collins no episódio 210 (inicialmente ele era só um artíficio para aumentar a audiência da trama e que seria retirado em seguida... mas o resultado foi tão bom que se tornou personagem fixo e o "frontman" da série)
 
O seriado original foi criado por Dan Curtis baseado em um sonho que ele teve de uma garota misteriosa chegando a uma casa proibida. As tramas criadas por Dan e sua equipe foram repletas de bruxaria, ciganos,  possesões espirituais, licantropia e fantasmas. Os roteiristas do original lançaram mão de uma vasta gama de subtramas com viagens no tempo por regressão de memória (ou transferência física!), voodoo, adaptações insossas de romances góticos de autores como Mathew Gregory Lewis, Lord Byron, Colleridge e muitos outros. Não poderíamos ainda ficar sem citar os encontros da família Collins, capitaneada por Barnabas em diversas épocas da narrativa e seus confrontos com os "Leviatanos" criaturas inspiradas nos mitos de Chtullu de H.P Lovecraft. Embora muitas das tramas e momentos épicos sempre girassem em torno da amargurada e vingativa bruxa Angelique contra o vampiro Barnabas, interpretado pelo ator shakesperano Jonathan Fridd (bem menos amigável que a versão de Johnny Depp).
 
A série original teve cerca de 1245 espisódios(!), dois longa metragens House of Darkshadows(1970) e Night of Darkshadows(1971). Houveram ainda uma tentativa de uma nova versão do seriado com cerca de treze episódios gravado nos anos noventa. E uma ampla gama de livros, jogos de tabuleiro e videos de bastidores - bem como inúmeros fã-clubes na américa do norte e europa. Sendo uma das franquias vampirescas mais antigas e pioneiras no cultivo de fãs que a veneram até os dias de hoje.
 
Através do seríado Darkshadows podemos assistir a transição do personagem vampiresco através dos anos que antecederam a revolução sexual, de monstro matador de pessoas a anti-herói romântico quase que uma década antes da grande diva literária de New Orleans iniciar suas crônicas vampirescas. Factualmente, a tal construção vampiresca de antiherói romântico que vai tendo sua história aprofundada e se tornando mais densa psicológicamente - ao menos para as "massas" - aconteceu primeiramente em DarkShadows. E aprimorada e refinada na década seguinte nas obras de Anne Rice como Entrevista com Vampiro que irá despotar entre 1974 e 1976. Embora em minha opniã leiga eu pressinto a principal influência de Darkshadows não própriamentenas Crônicas Vampirescas de Anne Rice e sim na "Saga das Bruxas da familia Mayfair" apenas deslocando do Maine para New Orleans e adicionando um têmpero cajun à história. Não preciso sequer citar toda a influência desta transição de imagem nos tempos da proto-subcultura Vamp, conforme a sexualidade foi deixando de ser demonizada e banída das artes, gradativamente o arquétipo do vampiro tornou-se uma interface para se abordar estes temas na arte, atualmente vemos tal questão escrachadamente retratada no seriado True Blood da HBO.
 
(Clique na imagem para ver outras fotos do evento)
 
Na questão fashionismo tanto o seriado e seus desdobramentos quanto a nova versão de Tim Burton devolvem o vampiro a imagem romântica vitoriana e profundamente inspirada na obra Dracula escrita por Bram Stocker (que comemorou cem anos de morte em 2012) aqui no Brasil tal acontecimento foi homenageado por um desfile de vestimentas criadas por Lili Angélika (da grife Fetishe Furry - www.fetishefurrys.com.br) no legendário Madame Underground Club, durante os festejos do Bazar alternativo Madame Freak. Na pré-estréia de Darkshadows, no Brasil traduzido como "Sombras da Noite"(uma tradução dispensável ao meu ver) a estilista, levou todos seus modelos daquele desfile devidamente trajados a caráter e encantaram o público presente como vocês podem conferir na foto acima. E depoi dela vamos aos meus pitacos sobre o filme e claro, falar sobre a pré-estréia...
 
Na quarta-feira 20 de Junho foi a vez dos brasileiros assistirem a pré-estréia de Darkshadows (Sombras da Noite, aqui no Brasil) o evento foi organizado pela Warner e ganhamos nossos ingressos colaborando com a promoção capitaneada pela atriz, cineasta e escritora Liz Marins que interpreta a vampira Liz Vamp e os amigos da Ravens House BR, Rosana Raven e Iam Godoy. Naquela noite fria e chuvosa fomos todos para o cinema do Shopping Eldorado. Lá reencontramos amigas e amigos, muitos Vamps trajando seus melhores visuais e claro a participação dos modelos da estilista Lili Angélika passeando entre o povo e tirando muitas fótinhos.
 
E finalmente assistimos ao ator Johnny Depp interpretar um vampiro. Também assistimos um filme de vampiros dirigido por Tim Burton. Uma combinação para lá de interessante e esperada há muito tempo. A ansiedade era grande entre os nossos leitores e leitoras que compareceram, faziam meses que promovíamos a adaptação em nosso portal REDE VAMP. Certamente é um grande filme e vocês irão se divertir bastante com o verniz burtoniano da obra. No elenco ainda tempos ainda Michelle Pfeiffer, Eva Green, Helena Bonham Carter, e as inusitadas presenças de Alice Cooper e do grande Christopher Lee. Sem dúvida a fina ironia de Burton reune picotes do célebre romance "Love Story", referências poéticas beatnicks variadas... traz ainda Alice Cooper quando vivia o auge ou a melhor fase de sua carreira de rockstar aterrorizante na década de setenta. A trama principal reúne os personagens Barnabas, Liz, David, Roger, Victoria, a doutora e a asquerosa Angelique como a antagonista principal - em conflitos interessantes, que evitarei descrever para não estragar a diversão de vocês...
 
No entanto será que sou apenas eu ou teve mais gente que achava que se Darkshadows houvesse sído uma animação a la "Estranho Mundo de Jack" ou "Noiva Cadáver" a produção teria soado mais verossímel? Pois basicamente toda a estrutura da obra remetia inexoravelmente a trabalhos que apenas a plasticidade (e a fina ironia) da animação tornaria mais evidentes e elaborados. Claro, o roteiro também lembrava antigas histórias em quadrinhos clássicas de terror vampiresco da "Contos da Cripta" e afins, o que particularmente eu adorei. A finesse é o confronto do vampiro Barnabas Collins(Depp) despertando em 1972 (depois de 200 anos de sono) e confrontando uma letra "M" dourada e gigantesca, interpelando-a como "Mefistófoles" é hilária. O fato é que o filme remete para o bom-humor(num tom de paródia e homenagem aos anos setenta) ao invés do "terrorzão" gótico do antigo seriado e isso desagradou muita gente.
 
Questionado sobre o tom campy, caricatural, Burton se revolta: "O filme não é campy. Vou embora, acho isso um insulto", brinca. Grahame-Smith emenda: "Nós nunca paramos pra discutir se faríamos um drama, uma comédia, um romance ou um horror gótico. Estamos fazendo Dark Shadows".
 
Burton explica melhor: "O seriado era bastante sério, mas todo mundo aqui que lembra de Dark Shadows tem lembranças afetivas. Então mesmo que tivesse aquela seriedade excessiva, havia também uma energia; não era especificamente engraçado, mas para nós havia humor ali. Nossa intenção não era fazer um negócio caricato, mas emular aquele tipo de novela bizarra com atuações não muito realistas. Aquele tipo de diálogo, aquele tipo de atuação, os personagens andando pra câmera na hora dos seus close-ups, é aquele espírito que queremos pegar. Eu amo o seriado, mas pra quem não conhece Sombras da Noite talvez pareça um filme que Ed Wood faria".
 
O interessante do personagem Barnabas(Depp) é o fato dele ser um vampiro que mata suas vítimas para tomar o sangue sem frescuras, porém continua mantendo sua aristocracia de espírito, sensibilidade, lealdade a família e a consciência de que matar pessoas é algo realmente desprezível... mas não tem jeito e nem sempre é algo pessoal. Enfim, assistam DARKSHADOWS e divirtam-se!
 
Sobre a saturação dos vampiros hoje em dia: "Pra mim, os vampiros nunca foram moda, porque a gente aqui assiste a filmes de vampiros desde os cinco anos de idade. Sempre assistimos. Não encaramos então [fazer um filme de vampiro] como uma coisa positiva ou negativa, e sim buscamos o seriado e tentamos pegar dali as coisas de que gostávamos, tudo o que era único e pessoal", diz Burton. Depp completa: "Para nós, resgatar Barnabas não tem a ver com a moda dos filmes de vampiros, mas com a ideia de fazer um filme clássico de monstros".
 

Vampira e James Dean: O lado sombrio de Pietá


Publicado originalmente em Vampyrismo.Org

O mais instigante nesta imagem é o título da matéria, James Dean e a "Madona Negra", Madona é um nome italiano para a "Virgem Maria"...Existiu entre o século XI e XII na Europa, o culto as "Madonas Negras" - originalmente deusas da terra e da fertilidade, vestidas posterioremente pela igreja de Nossa Senhora, o que marca também o início do culto a Nossa Senhora no Catolicismo e no Cristianismo.

Nossa Senhora desde 380 D.C era uma deídade menor e coadjuvante e só depois de quase 1000 anos de catolicismo, que foi reconhecida e exaltada. Saindo da história medieval e voltando para a década de 1950, o termo Madona Negra é utilizado nesta matéria folhetinesca para referir-se a "Vamp Maila Nurmi". Eu já comecei algumas palestras com esta velha história dos bastidores da tv da década de 1950 nos Estados Unidos. Também apresento esta historieta de forma mais detalhada no texto A Vampe e na apostila "A Fera Bela, A Bela Fera:A Vamp e o Feminino Deletério".

Maila Nurmi, uma atriz finlandesa inventa uma personagem chamada Vampira, inspirada na personagem dos quadrinhos "Dragon Lady" de "Terry e os Piratas" e em sua antecessora Theda Bara. A personagem de Maila, se tornará uma imagem poderosa a influenciar toda cena fetichista e subculturas jovens posteriores. Uma vampira, selvagem, incontrolável e amoral. Uma Deusa Mãe da escuridão, que servirá até como imagem para Lilith entre apreciadores de temas místicos. E que diferente de Lilly Munster e Mortícia Addams, vampiricas, já lavadinhas de um terror ctônico...

Maila Nurmi e sua personagem apavoraravam e poderiam realmente devorá-lo sem remorso. Como era de se esperar, Vampira tinha um jovem adolescente agonizante como seu assistente e como era mais novinho que ela, sua criação pessoal e aspirante a Adônis ou Tammuz. Era o iniciante James Dean, pouco antes de tornar-se famoso no cinema. Há quem diga que ambos tiveram um envolvimento amoroso, há fontes que dizem que não houve. O que aconteceu na realidade foram entrevistas ambíguas tanto de Maila, quanto de James - que dá a impressão de haver ocorrido algum envolvimento. Logo depois da fama, ele renegou Maila e chamou-a de "farsa".

Dizem que em resposta, durante uma campanha promocional de fotos em um cemitério, ela tirou uma foto e enviou para ele com a sutíl dedicatória de "quisera que estivesse aqui" escrita sobre um túmulo. James Dean morreu alguns dias depois.

Poderíamos partir para o prato sensacionalista de sempre com esta histórieta de folhetim. Adicionar maldições ou mal-olhados e inventar tradições que assegurariam tal fato e coisas do gênero. No entanto, mitologia comparada, re-significação e re-apropriação de símbolos e mitos é muito mais interessante e sábio. Mas para um melhor aproveitamento deste conteúdo solicito ao leitor a prévia leitura de outros textos ao longo deste blog.

Adônis e Afrodite Na obra de Camile Paglia, Personas Sexuais, no decorrer do segundo capítulo tem um trecho interessantíssimo:"(...) O principal discipulo da Grande Mãe e seu filho e amante, o deus agonizante da religião de mistério do Oriente Próximo. Neumann diz de Atis, Adonis, Tamuz e Osiris: "Eles são amados, assassinados, enterrados e pranteados por ela, e depois renascem através dela". A masculinidade e apenas uma sombra posta a rodar no eterno ciclo da mãe natureza. Os deuses meninos são "consortes fálicos da Grande Mãe, zangões que servem a abelha-mestra e são mortos assim que cumpriram seu dever de fecundação" . O amor de mãe sufoca o que abraça. Os deuses agonizantes são "flores delicadas, simbolizadas nos mitos como anêmonas, narcisos, jacintos ou violetas".

Tammuz "Os jovens, que personificam a primavera, pertencem a Grande Mãe. São seus escravos, suas propriedades, porque são os filhos que ela teve. Consequentemente, os ministros e sacerdotes escolhidos da Deusa Mãe são eunucos [...] Para ela, amar, morrer e ser emasculado é a mesma coisa". "A masculinidade flui da Grande Mãe como um aspecto dela própria, e é chamada e cancelada por ela à vontade. O filho dela é um servo de seu culto. Nao há como ir além dela. A maternidade envolve a existência.(...)" O jovem Adônis é o personagem principal de um destes mitos.Ele nasce de um incesto, uma vingança Afrodite, para com alguns mortais. O jove é um dos mais belos humanos já nascidos...Afrodite pedirá a Perséphone cuidar dele enquanto cirança, mas ela também se apaixonará por ele - e sua paixão não consumada é que abrirá as portas para encontrar seu Hades, mas está é história para outro dia.

Adônis vai crescer e ganhar os amores de Afrodite.O que irritará sevéramente Ares, o deus da Guerra amante mais antigo de Afrodite.Como sacanagem, ele irá inspirar no jovem, a sede pela adrenalina e a caçada.Para após algum tempo, acabar com a vida do jovem - durante uma caçada.

Afrodite cochilava após uma tarde de amor com Adônis e não pode salva-lo do destino armado por Ares. Adônis irá morrer e a tristeza de Afrodite trará o inverno sobre a terra.A primavera só retorna, quando passa o luto de Afrodite pela perda de seu amante...ela se anima quando vê as flores que eles brincavam nascendo novamente...

Em The Golden Bough, traduzido como "O Ramo de Ouro" de Frazer veremos uma analogia pouco comentada, sobre a analogia entre Jesus e os Deuses Agonizantes.Neste trecho é apresentado o ritual cristão de morte e redenção, claramente como uma apropriação e sobrevivência das antigas religiões de mistérios pagãos.Foi uma gratificante surpresa vêr também esta citação na obra de Camile Paglia, reproduzida abaixo:

"Diz Frazer: "O tipo, criado por artistas gregos, da deusa dolorosa com o amante morrendo em seus braços, assemelha-se e pode ter sido o modelo da Pietá da arte cristã ". Os primeiros Cristos cristãos e bizantinos eram viris, mas assim que a Igreja se estabeleceu em Roma, o paganismo romano residual tomou conta. Cristo recaiu no Adonis. A Pietá de Michelangelo é uma das obras de arte mais populares do mundo em parte por sua evocação da arquetípica relação com a mãe. Maria, com seu rosto de virgem imaculada, e a Deusa Mãe sempre jovem e sempre virgem. Jesus é admiravelmente epiceno, com mãos aristocráticas e pés de mórbida delicadeza. O agonizante deus andrógino de Michelangelo funde sexo e religião a maneira pagã.

Chorando em seus mantos opressivos, Maria admira a beleza sensual do filho que ela fez. Os vítreos membros escorregando para baixo no colo dela, Adonis afunda de volta a terra, a força esgotada pela mãe imortal e a ela devolvida. Freud diz: "É destino de todos nós, talvez, dirigir nosso primeiro impulso sexual para nossa mãe". 0 incesto esta no inicio de toda biografia e cosmogonia. O homem que encontrou sua verdadeira esposa, encontrou sua mãe. O domínio masculino no casamento é uma ilusão social, alimentada por mulheres que exortam suas criações a brincar de andar. No núcleo emocional de todo casamento ha uma pietá de mãe e filho. Vou encontrar vestígios do incesto arcaico dos cultos da mãe em Poe, James, e em De repente no ultimo verão (Suddenly last summer), de Tennessee Williams, onde uma mãe rainha, reinando sobre um brutal jardim primevo, dá em casamento seu filho esteta e homossexual, o qual é ritualmente assassinado e pranteado. O dinamismo feminino e a lei da natureza. A terra desposa a si mesma.

Uma inversão da Pietá Clássica, no entanto os vampiros de Anne Rice não tinham persona masculina ou feminina rígida...heheheh...A ironia do filme Entrevista com o Vampiro, para com esta re-leitura de Pietá, talvez seja que no século XIX, a sociedade e o homem houvessem roubado o papel de limitador e devorador do feminino e do Ecossistema...um dia aprofundo esta parte...

A mulher fatal mais experiente e o jovem que encontrará a morte depois da servidão e incapacidade de penetra-la, é um tema recorrente na produção cultural do ocidente.Nos filmes mudos, o jovem as vezes era um adulto na casa dos trinta anos - vitima da "Vamp" Theda Bara. Nos filmes vampíricos europeus, dos anos sessenta e setenta esta será uma temática comum, acompanhada de cores e ângulos de camêras que até hoje são aulas de fotografia no cinema. A vampira como a face da Deusa-Mãe mais sombria...o turbulento e destrutivo ecossistema...

Embora estranha a imagem, ela oferece uma visão e uma saída do dilema. No entanto, não desejo encerrar este texto, sem oferecer uma resposta ou uma saída ao dilema, que todos se perguntam - sobre o como sobreviver ou como sair da tal situação e se nos mitos da antiguidade haveriam alguém ou algo que controlasse tal devoradora.

A resposta é, sim, existe. O mito se encontra na Roma Imperial, e discretamente disfarçado e despercebido em todos os nossos calendários modernos.Despeço-me do leitor com um trecho do texto "Jano e Jana" de Gwydion Drake, publicado no Tribos de Gaia:

"(...)Jano era representado com uma cabeça bifronte (com dois rostos), um jovem e imberbe olhando para frente, podendo ver o futuro, e outro mais adulto e barbado olhando para trás, vendo o passado. Era considerado nos documentos que persistem no tempo como o Deus das Portas e dos Inícios, mas provavelmente nos antigos cultos latinos e/ou etruscos ele representava mais que isto.

Sendo o presente, que contempla o passado e o futuro, podemos considera-lo como um senhor do tempo, como o Chronos grego, ou ainda mais, já que ele era o deus das portas e das chaves, ou seja, tinha também o poder de abrir e fechar as portas da eternidade. Contemplando o mundo a partir de todas as perspectivas, visualizando a totalidade, sem nenhuma dualidade. Para Jano, não existia o bem e o mal, o branco e o negro, luz e trevas.

Tudo era assimilado e compreendido por ele. Apenas um deus com estas as características poderia ser capaz de penetrar, compreender e dar sentido à natureza criada por Jana, a Deusa Mãe adorada nos cultos ancestrais, através de mil nomes. Jana, Iana, Djana, Diana e com todas as variações possíveis da Raiz indo-européia “Dan” Don, Danan, e outras tantas, neste contexto, cuidava amorosamente de tudo que vivia e crescia no mundo.

Jana incorporava a ordem universal, desde o seu domínio sagrado da realidade temporal, da sacralidade cíclica à transcendência. Nela tudo se fundia e os contrários se encontravam criando o sentido do absoluto. Mesmo o posterior cristianismo adota Santa Ana, a mãe da virgem Maria, mãe de Deus, deixando claro que Jana, acompanhada de Jano, permanece absoluta como a grande Deusa Mãe universal. Jano controlava a vida que Jana criava e nutria.

Estas eram as portas que se abriam e se fechavam, transformando em presente o passado e o futuro, que só existem para quem não crê na totalidade da vida. Como os ciclos do carvalho, que aparentemente morre e perde suas folhas, para renascer de si mesmo, representando a renovação de todo o universo representado por Jana e sua imagem perene do azevinho, que nunca perde suas folhas. Ambos, enquanto simbolizavam a união dos contrários, eram na realidade uma coisa só: uma idéia superior que rompe com todos os padrões estabelecidos pelas aparências, eram uma unidade e marcavam a quebra de todas as falsas realidades e limites da vida.(...)" .

A Arte da Mordida


Em todo o oriente foram difundidas várias versões dos Vinte e Cinco Contos do Vampiro (वेतालपञ्चविंशति) que versam sobre as desventuras do rei Vikramaditya – um homem recatado e conservador – ao conduzir o corpo de um jovem enforcado até o cemitério. O defunto não para de falar pois está possuído por um vetāla ou baital desinibido, de idéias liberais, que se diverte com a vergonha do rei, narrando contos eróticos picantes. Na versão tibetana ele ensina como um homem deve agir para conquistar o amor das mulheres:

Quando as sombras caíram sobre a face da terra e aqui e ali uma estrela cintilou no pálido firmamento, o filho do ministro chamou Vajramukut, que passara pelo menos metade daquele dia se embelezando. Barbeara-se cuidadosamente. (...) Arqueara as sobrancelhas arrancando com pinças os finos pêlos em volta delas. Puxara suas encaracoladas madeixas graciosamente sobre o rosto. Traçara largas linhas de antimônio ao longo das pálpebras. Um sinal sectário mais brilhante estava afixado à sua fronte. Avivara a cor de seus lábios mascando bétel (...) e branqueou o pescoço. (...) Corou os lóbulos das orelhas apertando-os, fez os dentes brilharem esfregando pó de cobre nas raízes e realçou a delicadeza de seus dedos colorindo as pontas com hena. Não fora menos cuidadoso com sua vestimenta. (...) Além disso cobriu-se de armas, de modo a parecer um herói – o que as jovens donzelas admiram[1]

As cores capitais da paixão oriental eram o preto, o vermelho e o cobre. Negro era o contorno dos olhos de gazela, pintados quase à moda egípcia, e as tatuagens removíveis em motivos tribais. Vermelho era a marca sectária do status real e místico – o olho de Śiva no centro da testa – e os lábios rubros contornando poderosos dentes metálicos que expressavam a fúria contida no coração flamejante do nobre guerreiro. Estes são os dentes “com pontas afiadas” e “passíveis de serem coloridos”, tão elogiados por Vatsyayana.[2]

A aparência é importante para o sucesso nos relacionamentos conjugais. Porém, sobretudo, o amante deve estar psicologicamente preparado:

Quando desejares cativar uma mulher, sempre te impõe a ela. Dize-lhe que és seu senhor, e ela imediatamente acreditará que é tua serva. Informa-a de que ela te ama, e imediatamente te adorará. Mostra-lhe que não te importas com ela, e não pensará senão em ti. Prova-lhe pelo teu modo de proceder que a consideras uma escrava, e se tornará tua paria. (...) Cuidado com a virtude fatal que os homens chamam reserva e as mulheres timidez. (...) A ocasião de cortejar uma mulher é o momento em que a encontras, antes que ela tenha tempo de pensar; deixa-a usar a reflexão, e ela poderá escapar ao laço.[3]

Na versão hindu atribuída ao sábio Somadeva, o vampiro narrador entretém o envergonhado Vikramaditya com antigas estórias sobre o amor do Rei Yasaḥketu pela princesa asura Mṛgāṅkasena, uma reencarnação da alegre esposa de Yasaḥketu numa de suas vidas passadas. O reencontro dos amantes no mundo inferior foi intensamente marcado pela prática livre da “arte da mordida", descrita de forma bastante vívida.

Partilharam ambos a felicidade da volúpia; o amor fabricou para ela uma segunda série de enfeites: Em seus cabelos, de onde haviam caído as guirlandas, os dedos de seu amante que os seguravam pareciam madrepérolas; a mordida dos dentes havia tornado vermelhos seus lábios, antes secos e sem cor; em seus seios as unhas haviam traçado uma nova coroa de rubis; em seu corpo, de onde os pós das pinturas haviam desaparecido, os fortes abraços haviam produzido novo rubor.[4]

A moral da história dos contos do vampiro orientais é que no fim das contas o vampiro sempre tem razão. É ele quem salva a vida de Vikramaditya no final e é ele quem ensina aos leitores a não ter medo de amar. A arte da mordia é igualmente ensinada no Kama Sutra que, como o próprio nome revela, é um sutra e, portanto, um livro religioso sagrado, destinado a lecionar virtudes aos leitores de sua época e lugar (os Contos do Vampiro desfrutam de status semelhante, somente um pouco inferior).

A arte da mordida no Kama Sutra

O Kama Sutra é um antigo texto indiano sobre o comportamento sexual humano, amplamente considerado o trabalho definitivo sobre amor na literatura sânscrita. O texto foi escrito por Vatsyayana, como um resumo dos vários trabalhos anteriores que pertenciam a uma tradição conhecida genericamente como Kama Shatra. O quinto capítulo desta obra magnífica é dedicado exclusivamente à mordida apaixonada, sugerindo “meios a serem empregados com mulheres de diferentes países”, recomendando a imitação dos prazeres e a interação cultural. Vatsyayana ressalta a sabedoria de Suvarnanabha, que nos ensina a praticar primeiro as carícias e afagos que aumentam a paixão, para somente depois incrementar a relação com atos voluptuários de selvageria romântica. É nesta última categoria que se inclui a arte da mordida:

Quando o homem morde a mulher com força, ela deve fazer o mesmo com ele, com força ainda maior. Assim, um “ponto” deve ser retribuído com urna “linha de pontos”, e esta com uma “nuvem quebrada”, e, se estiver profundamente irritada, iniciará uma briga de amor. Deve então segurar o amante pelo cabelo, inclinar-lhe a cabeça para baixo, beijar-lhe o lábio inferior e, embriagada pelo amor, fechar os olhos e morder o amante em diferentes partes do corpo. Mesmo de dia e em lugar público, quando seu amante lhe mostrar alguma marca que ela lhe possa ter infligido no corpo, deve sorrir à vista dessa marca, e, voltando a face como se o fosse censurar, mostrar-lhe com um olhar zangado as marcas no seu próprio corpo que tenham sido feitas por ele. Assim, se o homem e a mulher agirem de acordo com o gosto de ambos, o seu amor não diminuirá, nem mesmo ao fim de cem anos.[5]

Vatsyayana interpretou os numerosos termos técnicos referidos no fragmento de Suvarnanabha da seguinte forma:

Todas as partes do corpo que podem ser beijadas podem ser mordidas, com exceção do lábio superior, o interior da boca e os olhos. As qualidades dos bons dentes são as seguintes: Devem ser iguais, ter um brilho agradável, passíveis de serem coloridos, de proporções adequadas, ininterruptos e com pontas afiadas. Por outro lado, os defeitos dos dentes consistem em serem embotados, descarnados, ásperos, moles, grandes e espaçados. São as seguintes as diferentes formas de mordidas:

A mordida oculta
A mordida inchada
O ponto
A linha de pontos
O coral e a jóia
A linha de jóias
A nuvem quebrada
A dentada do javali

A mordida que só se evidencia pela vermelhidão excessiva da pele mordida é chamada de "oculta". Quando a pele é comprimida de ambos os lados, temos a "mordida inchada". Quando uma pequena porção da pele é mordida com todos os dentes, temos a "linha de pontos". A mordida conjunta de dentes e lábios é chamada de "coral e jóias". Os lábios são o coral, os dentes as jóias. Quando a mordida é feita com todos os dentes, recebe o nome de "linha de jóias". A mordida que consiste em um círculo de protuberâncias desiguais resultantes dos espaços entre os dentes denomina-se "nuvem quebrada", sendo feita nos seios.A mordida que consiste em muitas linhas largas de marcas próximas umas das outras, e com intervalos vermelhos, é chamada "dentada de javali". faz-se nos seios e ombros. Esses dois últimos modos de morder são peculiares de pessoas de intensa paixão.O lábio inferior é o lugar da "mordida oculta", da "mordida inchada" e do "ponto"; as "mordida inchada" e "coral e jóias" são praticadas nas faces. O beijo, o apertão com ajuda das unhas e a mordida são ornamentos da face esquerda, e quando se fala em face, devemos entender sempre a esquerda.Tanto a "linha de pontos" como a "linha de jóias" devem ser feitas na garganta, nas axilas e nas articulações das coxas; só a linha de pontos, porém, deve ser praticada na fronte e nas coxas.As marcas de unha e as mordidas nos objetos seguintes: Um ornamento da testa, um brinco, um ramo de flores, uma folha de bétel ou de tamala, usados ou pertencentes à mulher amada são sinais do desejo de prazer. Aqui terminam as diferentes formas de mordidas.[6]

Vatsyayana prossegue compilando os costumes praticados em vários países à sua época. Em certos lugares as mulheres praticavam todas as formas de prazer, mas cobriam os corpos e insultavam os que proferiam palavras grosseiras. Noutras partes elas gostavam da publicidade escandalosa, amavam os prazeres perversos, eram conquistadas com pancadas, diziam palavras grosseiras e gostavam que os amantes lhes falessem no mesmo tom. Em Aparatika e Lat as mulheres apreciavam os beijos ruidosos, com sons de estalo. Em Abhira e no país próximo do Indo e dos cinco rios (isto é, o Penjabe) elas eram conquistadas “pela Auparishtaka, ou congresso oral”.[7] Em Stri Rajya e Koshola usava-se medicamentos para aumentar o fluxo do sangue menstrual das mulheres para que fosse, provavelmente, bebido pelos seus parceiros.[8] Contudo, o mais importante conselho de Vatsyayana é que nas questões de amor, o homem só deve fazer aquilo que for agradável às mulheres. Ou seja, se sua parceira não gostar de ser machucada com arranhões e mordidas, então o amante deverá ceder a outras formas de união sexual.

A mordida de amor usada como instrumento de punição judicial na antiguidade

Existiu uma época em que isto que nós chamamos de “antiguidade” era o presente e as pessoas lembravam de estórias mais antigas do que a história. A lesão corporal irreversível não consentida com aplicações conjugais e jurídicas fazia parte desse passado remoto, há muito abolido e repudiado.O vampiro que narra os contos orientais raramente conta estórias de outros vampiros. Uma preciosa exceção consta na versão tibetana onde um pisach age como um baital e entra num cadáver para divertir-se, pois vê que a estúpida amante do homem morto lhe estava enchendo de carícias:

Quando Jayashri chegou ao lugar desejado, entrou na casa e encontrou o amante estendido na porta. Estava morto, apunhalado pelo salteador. Mas ela, crendo que ele, como de costume, se havia embriagado com haxixe, sentou-se no chão erguendo-lhe a cabeça, pousou-a suavemente no colo. (...) Por acaso um pisach (espírito maligno) estava sentado em uma grande figueira fronteira à casa e ocorreu-lhe, ao contemplar a cena, que podia se divertir de modo característico. Pulou, pois, do galho, vivificou o cadáver e começou a retribuir as carícias da mulher. Quando, porém, Jayashri curvou-se para beijar-lhe os lábios, ele arrancou-lhe a ponta do nariz com uma dentada. Em seguida, saiu do corpo e voltou ao galho onde estivera sentado.[9]

Este episódio utiliza um recurso jurídico típico da legislação do antigo oriente: Quando ficava comprovado que uma mulher casada era adúltera, o marido ou o amante poderia lhe arrancar a ponta do nariz para que ela ficasse feia, causasse asco, e não fosse mais desejada pelo outro homem. (Talvez seja por isso que surgiu o costume de cobrir a face, abaixo dos olhos, com um véu).

As tradições normalmente originárias da Índia e do Tibet circulavam e eram traduzidas até nas áreas mais longínquas do oriente. Por exemplo, os chineses atribuem a autoria do I Ching ao Rei Wen, da dinastia Chou, e a de alguns dos seus comentários a Confúcio. O Livro das Mutações atualmente disponível possui sessenta e quatro hexagramas que podem ser interpretados de forma oracular ou filosófica, mas para o presente estudo somente interessará o hexagrama 21. A existência de carne seca cartilaginosa pressionada entre os maxilares de alguém deu origem ao chinês SHIH HO, traduzido literalmente como uma “união pela laceração” notadamente “por meio da mordida”. A natureza da amputação do nariz fica clara no comentário à posição da linha móvel traçada em segundo lugar:

A segunda linha, interrompida, mostra alguém mordendo a carne tenra de lado a lado, e (passando a) tirar fora o nariz. Não haverá erro. “Ele morde de lado a lado a carne tenra e (passa a) tirar fora o nariz”.[10]

Indícios de conflitos conjugais podem ser vislumbrados nesta hipótese, que mostra alguém arrancando o nariz de outrem à dentadas, pois antigamente a lei dos povos orientais permitia ao esposo traído amputar o nariz da esposa adúltera e mais ninguém além da mulher infiel tinha o nariz cortado...

A sorte posterior do consulente muda de acordo com a posição da linha móvel, versando sempre sobre problemas jurídicos de natureza civil e com implicações financeiras (a exemplo do rompimento do contrato de casamento). Se a linha móvel ocupa o quarto lugar, ela mostra alguém roendo até o osso, “granjeando as garantias do dinheiro e rapidez”.[11] Se linha móvel está na quinta posição, o sujeito simbólico está “roendo carne ressequida, e encontrando o ouro”.[12] No primeiríssimo lugar o problema inexiste e não há mordida, pois a esposa é fiel:

A primeira linha, inteira, mostra alguém com seus pés dentro das meias e despojado de seus dedos. Não haverá erro. “Seus pés estão dentro das meias, e ele está despojado de seus dedos”: — não haverá caminhada (para fazer o mal).[13]

Isso não é uma alegoria simbólica, pois quando as meninas enfaixavam seus próprios pés o processo de diminuição pela contração comumente causava fratura nos ossos e necrose nos dedos. O objetivo da prática voluntária era fazer os membros caberem dentro de minúsculos sapatinhos ornamentais e permitir que as moças andassem sempre rebolando como ‘um elefante bêbado’ (alguns cronistas acreditavam que elas estavam sempre a dançar). Porém um efeito colateral daquele costume era a confiança do esposo que, obviamente, nunca teria o desprazer de ver sua mulher fugir correndo atrás de outro. (Ainda hoje existe um número cada vez menor de damas orientais despojadas de dedos, que sempre caminham “com seus pés dentro das meias”).

Notas:
[1] BURTON, Richard Francis. Vikram e o Vampiro. Trd. Sergio Augusto Teixeira. Sçao Paulo, Círculo do Livro, p 65-66.[2] MALLANAGA VATSYAYANA. Kama Sutra: Traduzido da versão clássica de Richard Burton. Trd. Walternsir Dutra. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1981, p 104.[3] BURTON, Richard Francis. Op Cit., p 66.[4] CONTOS DO VAMPIRO. Trd. Luís Cláudio de Castro e Costa. São Paulo, Martins Fontes, 1986, p 79.[5] MALLANAGA VATSYAYANA. Op Cit., p 106.[6] MALLANAGA VATSYAYANA. Op Cit., p 104-105.[7] MALLANAGA VATSYAYANA. Op Cit., p 105.[8] MALLANAGA VATSYAYANA. Op Cit., p 106.[9] BURTON, Richard Francis. Op Cit., p 103.[10] I CHING: O livro das mutações. Trd: E. Peixoto de Souza e Maria Judith Martins. São Paulo, Hemus, p 151.[11] I CHING: O livro das mutações, p 151.[12] I CHING: O livro das mutações, p 151.[13] I CHING: O livro das mutações, p 151.

FONTE:
Rede Vamp

PRIEST: Vampiros, Teocracia e o que virá...



Apesar de todo "oba-oba" na internet que rodeava a produção de Priest, considero que ele ficou "aquém" do esperado. Por gentileza, não me leve a mal por este comentário inicial, existem bons momentos na película e um certo humor negro que equilibram a história do super-padre caçador de vampiros - há também um "q" de antiherói no personagem título que o levará a questionar a instituição religiosa corporativa que integra e se rebelar contra seus ditames e padrões dissociativos de conduta do rebanho.

O universo vampírico de "Priest" é bem interessante, logo na abertura, através de uma animação é contado sobre uma guerra atemporal de "cavaleiros" contra vampiros através dos tempos. A guerra destruiu os recursos naturais do planeta e boa parte da sua população. Logo, a igreja criou cidades-fortalezas e assumiu um caráter tecnocrático de comando das massas: "Se você está contra a Igreja, está contra Deus..." como vemos nos alto-falantes da cidade, no horário que todos cidadãos devem obrigatóriamente confessarem-se com os padres através de computadores. Um lugar pouco convidativo de se viver... E um retrato bem interessante de possibilidades futuras que abordaremos no subtexto ao final desta resenha.

Os "Priests" ou sacerdotes e sacerdotisas foram super-guerreiros que nasceram humanos mas dotados de dons como ampliação de sentidos e reflexos, força e vigor mais elevados que um humano normal e se tornaram a principal arma a varrerem os vampiros da existência.Depois de cumprirem tal missão, foram dispensados pelo mundo em profissões pouco honrosas pela própria igreja do filme.Pairava uma crença que não existiam mais vampiros e a necessidade destes guerreiros havia sido extinta...

Particularmente penso que no contexto futuro apocalíptico e guerreiros-santos consagrados a combater vampiros, a série de livros Bento, Vampiro-Rei 1&2 do autor André Vianco foi muito mais criativa e empolgante - além do apêlo mais realista nas situações vivenciadas pelos personagens.Resta sonhar para que algum estúdio se enamore desta obra...

Bom, vamos entrar na história do filme agora...

Neste e nos próximos 2 parágrafos abaixo haverão alguns "spoilers, então pule para o subtítulo em negrito abaixo para voltar ao texto opinativo. A história se inicia com os pesadelos do personagem-título que lhe recordam dos tempos de glória e do auge da eterna guerra contra os vampiros. Numa destas batalhas, houve um final trágico, seu melhor é arrastado para a escuridão pelos vampiros e provavelmente morre...No presente da narrativa, uma família é massacrada e uma linda jovem é raptada pelos vampiros; aparentemente ela é sobrinha do personagem-título e será o gancho que unirá os outros personagens da trama. O xerife do vilarejo distante onde ela morava, que irá procurar o tio dela e posteriormente uma "padre" mulher, talvez o termo "sacerdotisa" e "sacerdote" fosse mais apropriado.

Ao longo de muitas aventuras o trio de protagonistas virá a se reunir e desvendar que os vampiros e sua rainha ainda existem e que têm um plano macabro para invadirem a cidade principal do filme e transformarem seus habitantes numa nova raça híbrida humana e vampira. Aqui temos algo interessante, os vampiros aparentemente são uma outra espécie, deformados, sem rostos e dignos de filmes de ficções-científicas menores. Lembram um pouco os demônios do filme Constantine. Eles têm uma rainha, gigantesca e inhumana. E claro, são bestas sanguinárias que se alimentam de sangue...o que os torna digno da grande piada do filme: "Ponto 1 você tem que querer matar um vampiro... Ponto 2 você mata o vampiro..." eles não vão fazer falta mesmo...

Mas toda história demanda um vilão, de preferência um traidor sofisticado e bastante sórdido que surgirá na figura daquele "melhor amigo" do personagem-título que se deu mal logo no começo. Falamos dele dois parágrafos acima. Ele sobreviveu, tomou o sangue da rainha e raptou a donzela, sobrinha do Priest igualmente mencionada acima. Teremos combates bem interessantes e certo drama até o final do filme. Embora, faltem grandes surpresas ou reviravoltas inesperadas. Bom, encerro por aqui os "spoilers".



SERÁ QUE A IGREJA ESTÁ CARENTE E DESESPERADAMENTE PRECISANDO DE HERÓIS CINEMATOGRÁFICOS PARA RECUPERAR-SE DAS CRISES DE IMAGEM RECENTES?

Tenho acompanhado que desde o ano passado tivemos uma maré de filmes de fantasia, terror ou de ficção preocupados em exaltar heróicamente personagens objetivamente ou subjetivamente ligados ao catolicismo e sua mítica - Priest - vêm apenas a ser mais um dos heróis religiosos desta atual safra. Há poucos meses atrás tivemos o lançamento do filme "Ritual" protagonizado pelo célebre Sir Anthony Hopkins que encena um padre exorcista que virá a ser possuído pelo próprio Baal. O filme também trabalha com um contexto extremamente atual que marcou a re-abertura do curso de exorcismo clássico do Vaticano e marcantes desastres ambientais que ocorreram na europa em 2010.

Um pouco antes da produção "Ritual" tivemos também o medievalesco "Caça as Bruxas" protagonizada por Nicholas Cage, que narra a história fantasiosa da descoberta do Legemeton e coloca a igreja e seus cruzados como heróis na luta contra o mal. Antes ainda tivemos a adaptação cinematográfica de "Salomon Kane - Caçador de Demônios" um puritano do século XVII que após ter sido um pecador, torna-se um matador de demônios da igreja. Antes disso tivemos bastante (e desastrosos) filmes sobre exorcismos, inspirados em casos reais e afins. Para mim, no caso de filmes de exorcismos só aceito "O Exorcista" aquele mesmo com a Linda Blair, por ser um clássico do terror e o "Ritual" com o Anthony Hopkins, por ser o primeiro filme inteligente deste incomun segmento...

Respondendo diretamente a pergunta deste subtítulo, penso que após os numerosos e recentes escândalos de pedofilia, politicagens e muitas outras baixarias - a imagem pública da igreja católica tenha ficado bastante arranhada perante os fiéis e adeptos de outras religiões no mundo todo - logo esta nova safra de filmes que exaltam seus aspectos heróicos e nobres, seja uma medida política de recomposição da imagem abalada. O que não tem nada demais e até pode ser considerado saudável - pois como em toda instituição humana, há pessoas acertadas e pessoas desajustadas, seria injusto e inquistorial generalizar todos integrantes baseado nas condutas irregulares e criminosas de uns poucos.

No entanto temos que reconhecer que um credo ou um dogma baseado na separação ontológica entre criador e criatura nos remete não a uma comunhão com o transcendente e sim a uma convivência social entre irmãos e depois para com Deus - que não são a mesma coisa, por assim dizer. O que difere bastante da ethos orientalizada que vêm ganhando bastante espaço entre as gerações mais novas - onde a distinção criador e criatura inexiste e a submissão social ao que se considera ou se imagina como sagrado é questionável.

Na tradição religiosa ocidental, quando nos voltamos voltamos para sí, o sagrado não existe dentro de nós - está do lado de fora; a alma humana pode não estar num relacionamento apropriado com o criador, a natureza e o ecossistema são apresentados como corruptos, desde o tal do pecado original. Você cai em pecado porque crê-se que você tem uma obrigação de responsabilidade para com Deus e que deve obdecer algum tipo de lei que imagina ter sido promulgada por ele. Estas leis são administradas e conduzidas por uma instituição composta de grupos sociais hierarquizados e eclesiásticos - cujo as recentes descobertas científicas e históricas os rodeiam constantemente e levam a um profundo questionamento de seus dogmas.Logo somos privado de um contato com inefável ou o sagrado senso da divindade, somos guiados neste campo meramente por compromissos sociais e hierárquicos de obediência a instituição e seus princípios - e as afirmações artificializadas destes grupos, dificilmente encontra respaldo em nossas experiências pessoais com o sagrado ou uma realidade não-ordinária...fica aqui uma lacuna que desafia a validade do projeto humano...

...Curiosamente no mundo desértico, eclesiástico e artificializado do filme "Priest" temos um retrato fiél das consequências que tais padrões de comportamentos religiosos ocidentais podem atingir num futuro não muito distante. Se eu detalhar mais tais ligações, o leitor desta espirituosa resenha irá perder bons momentos de telão, pipoca e de algum entretenimento e descanso cerebral... Diferentemente da instituição que serviam a principio cegamente, os padres-guerreiros do filme percorrem o deserto em busca da verdade e da salvação do bem mais precioso - a vida humana em amplitude e diversidade.

Cronologia Vampirica & Vampyrica


O Brasil tem mais de quarenta anos de produção cultural com temática vampiresca e a maior parte destes personagens, filmes, peças de teatro, quadrinhos e até novelas (do começo dos anos de 1980, ainda!) são desconhecidos da maior parte dos apreciadores deste gênero em nosso país.
 
Não admira que quando aparece o assunto, vamos falar de um vampiro brasileiro a maior parte das pessoas ainda aponte apenas o personagem cômico “Bento Carneiro” do célebre humorista Chico Anísio.Entretanto, ele é apenas “mais um” dentre mais de pelo menos duzentos vampiros e vampiras inventados em terra brasilis ao longo dos últimos quarenta anos.
 
Durante a última década cataloguei e organizei uma ampla cronologia sobre a produção cultural vampirica no Brasil e também sobre a Subcultura Vampyrica e ainda a datação e utilização do termo vampiro ao longo da história. Há alguns anos eu publiquei parciais desta pesquisa no site The MaoZoleuM e também no Vampyrismo.org. Agora divido com vocês aqui na coluna Dionisíaco Vampírico os links para acessarem este material dividido por gavetões temáticos e temporais…
"Nunca em toda a minha existência ví um desrespeito às leis da estética. A beleza, o ritmo, a simetria, são as únicas leis que conhecí que pareciam naturais.E sempre as chamei de Jardim Selvagem!Porque elas pareciam impiedosas e indiferentes ao sofrimento, à beleza da borboleta presa na teia da aranha!Ao gnu que jaz na savana com o coração ainda pulsando enquanto os leões vêm lamber o ferimento no seus pescoço."  Lestat em Memnoch,O Demônio - Anne Rice.

O termo Eu-Feral encontra paralelos com a romântica "alma selvagem" da Clarissa Estés Pinkoulas e ainda com ressonâncias diversas vindas do Xamanismo ou da Bruxaria.Também tem ressonâncias com conceitos oríundos da Golden Dawn, Thelema, Zos Kia Cult e muitos outros.Ou ainda do próprio autor Jack London, do romance "Caninos Brancos" - que é o nosso favorito.

O Vampyro e a Vampyra com suas fangz (próteses de dentes caninos removíveis ultrarealistas), lentes de contato, garras - ou ainda sem tudo isso e com sua postura mais presencial e magnética dentro de um determinado ambiente, relaciona-se diretamente com a modelagem do "Eu-Feral" ou ainda "Eu-Selvagem". Em termos fashionistas só um visual elaborado e ousado.Em termos de cosmovisão, uma re-leitura dos inúmeros xamãs da américa do sul e central que encontravam no morcego, um totem ou animal de poder envolto pela noite e conhecedor dos mistérios do útero cavernar da natureza e do mundo - assim como da arte de se orientar pelas ressonãncias do seu próprio grito através do mundo!

Uma melhor compreensão deste texto pode ser alcançada com a leitura de "Por que o Vampiro?" e ainda de "Porque o Vampyro ou a Vampyra?" ambos publicados em www.vampyrismo.org/circulostrigoi

Para alguns, seus elementos são percebidos metalinguisticamente como dotados de linhas e condutas mais lupinas (ocorre com bastante frequência numérica no exterior), para outros felinas(provavelmente superior numéricamente que o primeiro em países latinos), para outros de animais de casco, serpentes, voadores e muitos outros.Para uma visão ficcional apropriada visualize o filme Drácula de Bran Stocker, quando o próprio passeia por Londres buscando por Mina Harker.Um perfeito dândi, um gentleman que esconde uma fera, quando abaixa o óculos escuro e encontra sua amada.

Na cosmovisão Vampyrica temos animais que são associados as virtudes e méritos dos nobre-caçadores, que vão atrás e atraem para sí o que precisam de forma vitalizada, imprevisivel e ainda pró-ativa - sem tempo para encenações e outras condutas pouco elaboradas.Naturalmente, não temos parasitas de qualquer gênero como carrapatos e afins nestas representações e repudiamos tais associações descaracterizantes.

O Eu-Feral de cada Vampyrica e Vampyrico é o seu ponto de contato com o daimônico, a vastidão, a amplitude, o atmosférico e o draconar.Tal vastidão é representada graficamente nos atributos da "Árvore-do-Mundo" presentes na identidade pagã da Cosmovisão Vampyrica, representada sob os aspectos do Ankh, como você pode estudar a direita de nosso site do Cìrculo Strigoi.

Sejamos francos e diretos o termo "feral" vêm de féra e isto per si, assusta e pode ser sumariamente considerado grotesco ou sublime.A formação cultural imperante atribui ao "feral" seu mal-mítico e a noção daquilo que toma como inaceitável.O próprio ser humano gargalha de tudo aquilo que lhe recorda que é um "animal" mesmo sem perceber.A fera causa repulsão, horror e até aversão - ela pode te despedaçar.Justamente por isso é mais interessante e poderoso - inclusive como "caminho de cura" - a fusão com o feral e não com os opostos costumeiramente aceitos por aí.Salvador Dalí já dizia que a Ilha do tesouro de nossos sonhos pode estar precisamente naquelas imagens de horror e medo do inconsciente - para nós, do não-modelado ou lado noturno - naturalmente repulsivas ao consciente - ou do "modelado ou lado diurno.Estas permutações e escambos com o Eu-Feral, ampliam sua imanência, magnetismo pessoal, consciência, presença, saúde, auto-controle, tolerância, atração sexual, compreensão e compaixão (vício de rei e rainha) - de forma muito mais eficaz e prática do que jamais pode ter sido experimentado em outras trilhas espirituais.

Através do "Eu-Selvagem", montamos nosso gênio-emocional e caçamos aquilo que desperta vitalidade e presença no momento presente, aplacando a sede causada pela mesmice; esta doce eletricidade líquida nos impulsiona para explorarmos aspectos mais ígneos ou mais gélidos, verticais, horizontais, entremeios, as profundezas e as alturas nos tornam pessoas íntegras e capazes de nos integrarmos melhor com a impetuosa força de mudança da vida - em seu sequenciamento perpétuo através da roda do ano sob o longo e aveludado véu negro - assim interagindo e participando de sua imortal alquimia de morte e renascimento determinada nos ciclos do sol-negro - e que os atos e obras resultados destas caçadas alcem a imortalidade(*).

Sob uma visão cosmológica o "Eu-Feral" seria o equivalente ou a manifestação do sujeito nos tempos da chamada "idade-do-ouro" mitológica.As vezes ainda honradas nas Saturnálias ou quando o sol entra na casa de cáprica no aveludado céu noturno.Este tema do "Eu-Feral" pode sucitar comparações ou questionamentos associados com theriantropia, licantropismo ou ainda práticas dos otherkins - no entanto no que tenho observado na Cosmovisão Vampyrica esta seria uma procedência pouco provável ou dificilmente constátavel pois todas as práticas citadas tem identidades e expressões muito próprias e diferenciadas.Em termos efetivos, na Cosmovisão Vampyrica, o Eu-Feral tem laços mais firmes com os mitos da "Caçada Selvagem" e o processo extático.Cada uma destas palavras merecem uma meditação e uma postura reflexiva pessoal da parte das leitoras e leitores.Antes de avançarem para o texto da Sêde.

(*) Negro no sentido de infinitude de possibilidades, de velado e resguardado simbólicamente em nosso coração, local de sentimentos, acalentos e alentos na antiguidade...Dioniso no papel do purificador supremo.

(**) Acaba sendo traduzido como "Fera" ou "Feral".Como nunca vimos em nenhuma tradução clássica a historieta infantíl "A Bela e a Besta" (sem piadinhas com crepúsculo por favor:-) - o que também é uma tradução mais apropriada que duas infâmes editoras de ficção prosáica foram incapazes de atribuir corretamente.

(***) Não tomamos como feral: a esquizofrenia, a depressão ou comportamentos de ímpeto criminosos que justifiquem através do eu-feral, a agressão fisíca, a auto-mutilação, linchamentos ou coisas parecidas - e outras tantas que entrem em conflito com os termos do código de ética e de bom-senso Black Veil.

O Tarot dos Vampiros


O Tarot dos Vampiros – O Oráculo da Noite Eterna é um belíssimo lançamento da editora Madras realizado no Brasil sem muito alarde no meio de dezembro de 2010. Particularmente, já o conhecia na versão importada e qual não foi minha surpresa ao ver que a qualidade e beleza da edição nacional ficou digna, bem elaborada e que a arte do livreto e da capa ficaram ainda melhores do que a importada.
 
 
Realmente, um deck de tarô bélo e inspirador, para quem sente afinidade e convergência com esta temática.Diferentemente de outros decks “vampirescos,” que sempre apelaram para artes gráficas pouco lapidadas ou mesmo enfandonhas que priorizavam o “grotesco” e o exagerado tanto no folclore como na produção cultural do gênero.Já neste “Oráculo da Noite Eterna” lançado pela Madras, temos exatamente o contrário vemos priorizados nas artes de cada lâmina-o romance, a sedução, o lirismo, a tensão e a beleza – expressivamente retratadas pelo “ilustratore” italiano Davide Corsi na última década. Certamente tal “deck” e seus intérpretes serão extremamente bem sucedidos, pois as imagens realmente evocam aquela sensação de caminhar sob o luar, sentindo os ventos no cabelo e com o olhar iluminado por chamas negras,no sentido de veladas de nossos corações…sendo assim possível encontrar poesia e palavras aladas que aconselhem a melhor rota para caçarem aquilo que lhes aplaca a eterna “sêde” por Viver mais e mais a cada instante.
 
No entanto, penso que atualmente o Tarô dos Vampiros, O Oráculo da Noite Eterna venha a ser um excelente ponto de inicio para quem está começando ou sente interesse nas artes divinatórias e na Subcultura Vampyrica, principalmente em sua vertente de Cosmovisão.Digo isso, pois as vezes é pouco estimulante para nós vermos tantos tarôs de bruxas e outros coloridos em excesso por aí.Então é muito bom, poder se envolver com este amplo e vasto universo divinatório acessando-o a partir de matizes de gosto e temperamento com o qual nos afinamos.Para os mais “escolados” e aprofundados nestas artes, independentemente da utilização de uma via interpretativa ou de uma via de revelação espiritualizada – tenho absoluta certeza que quem faz o tarô funcionar é quem o interpreta com inspiração, “fundamentação” e verdade nas palavras, alinhava sua narrativa,tece suas idéias e envolve o consulente num reino de descobertas e re-avaliações profundas e escolhas mais sincronizadas e estruturadas.
 
Outro fator interessante de se observar durante o decorrer de uma consulta de tarô é a mudança do “clima” e como cada nova carta virada provoca o sensorial e mexe com o cinestésico dos envolvidos.Querendo ou não querendo, a esta parte é dado nomes interessantes como “reciclagem energética”, tirar coisas estagnadas e substituir por coisas novas, o desafio de olhar através da arte para sí e assumir a regência ou pelo menos a percepção do que fica e do que não ficará mais nas atitudes e pensamentos.Tais elementos convergentes a estes, transbordam nos conteúdos da Cosmovisão Vampyrica.Neste caso penso que as artes e o “clima” narrativo invocado pelo “Tarô dos Vampiros – “Oráculo da Noite Eterna” atinge seus objetivos esplêndidamente.O clima de intimidade e de romantismo vem a ser perene em cada uma de suas lâminas, tocando com sutileza aspectos as vezes difíceis de serem abordados como o porquê da falta de ânimo e de gênio emocional para alavancar e manter suas conquistas, entre muitos outros.
 
O vampiro tanto no folclore quanto na produção cultural ao longo dos últimos dois séculos adquiriu um tom de sedução, reserva e do compartilhar segredos e sussurros que versam sobre a fatídica questão “o que é realmente viver?”Certamente, conversas que revelam e desvelam segredos e vivências muito muito particulares que os outros dificilmente expressam por temerem críticas, distanciamentos e acusações…o Tarô dos Vampiros tem em sua imagética chaves bem interessantes para destrancarem e libertarem tais esqueletos dos armários do inconsciente que assombram tais pessoas com a merecida sutileza e precisão.Outro ponto é o “charme” de uma consulta dessas em ambiente velado, na penumbra, luzes de velas, aromas deliciosos, vinho, rosas e boa música…Certamente, se convidados, Dioniso, Afrodite e Apolo se fariam presentes em tal refúgio…
 
Leitoras e leitores menos acostumados com o teor de meus textos, devem pensar em termos de “arte” para quando abordo aspectos da “Cosmovisão Vampyrica”, uma interpretação de tarô ou abertura de oráculo e as ferramentas utilizadas sempre irão depender de uma via horizontal(nós de carne e osso) e uma via vertical(a tal da inspiração, do sublime e do espiritual no sentido de expressão de valores maiores) onde acontece a interpretação é a tal da encruzilhada simbólica – onde lapidamos o diamante negro e a chama negra em nosso “sentir”; são negros apenas no sentido de velados e resguardados de terceiros.No cerne desta simbólica encruzilhada há o encontro entre o consulente, seu “querer” e o que “precisa saber” e também do intérprete com sua base de fundamentos e sua inspiração para desvendar a perene e imortal trilha que uma consulta de tarô lhe expõem.
 
Há aqueles que dizem que o intérprete apenas atribui a cada lâmina uma ou mais vivências que ele mesmo experimentou, conforme vai cortando e desvelando as lâminas para outro, tal intérprete apenas “remembra” tais experiências e as apresenta em forma de poética ou narrativa – mas que por ressonância falam diretamente sobre o tema indagado pelo consulente.O que irá prevalecer ao final é a lembrança e a verificação do que foi evidenciado e experimentado tanto pelo intérprete quanto pelo consulente…ainda assim, aqui temos histórias…e mais histórias…como essas histórias irão afetar efetivamente e serem lembradas depois de muitos anos – e ainda influenciarão o modo do consulente tomar decisões – é bom que haja “fundamentação”, embasamento, coerência e verdade nelas.
 
Toda arte se constitui de símbolos, interpretados e articulados por alguém inspirado, que traduz para o consulente seus conteúdos e indagações.Quem se afina e encontra “charme” em um universo vampírico – sem culpas, ranços e temores externos a este meio – certamente vai sentir-se a vontade e rapidamente tecerá suas histórias e descobertas, pois de algum modo randômico aqueles símbolos alí presentes lhe fazem mais sentido do que outros que alí poderiam estar aplicados.Isso não dispensa ninguem de estudar e conhecer tarôs como o de Marselha, Waite, Golden Dawn e mesmo o de Crowley como forma de aprimoramento e de “Fundamentação” daquilo que está a executar.Como em toda arte, é preciso dosagem de loucura e habilidades fundamentadas para executa-las apropriadamente sem causar danos para sí ou terceiros.
 
Em relação a origem do tarô, dos primeiros baralhos do gênero ( e não deste que apresentamos ao longo deste texto), alguns (muitos aliás) dizem que ele vem do Egito ou algo assim.Outros postulam o famigerado Sul da França nas épocas das Cruzadas e das Heresias…No entanto, a minha favorita versa as origens do tarô por volta dos séculos em que Espanha e boa parte de Portugal estavam invadidas pelos árabes ou “mouros” e diversas culturas católicos, mouros e judeus partilhavam das mesmas localidades em relativa convivência comercial, só assim para não se matarem indicriminadamente como o fizeram nos séculos seguintes…Mas aí fica para outra história…

Tarô dos VampiroS,
Oráculo da Noite Eterna
Editora Madras


O escritor e autor Adriano Siqueira é um dos grandes pioneiros das letras vampirescas no Brasil, sua trajetória teve início ainda no final da década de noventa – e até hoje seguiu initerruptamente através da internet, fanzines, radionovelas e animações independentes. Finalmente agora os leitores serão presenteados com a impressão de suas obras, graças a editora Estronho de M.D. Amado. A história da arte e das letras “vamps” em português, agradecem!
 
 
A Editora Estronho vai lançar em Abril de 2011 o livro “Adoravel Noite Adriano Siqueira” um livro que certamente deve estar na estante de qualquer leitor que aprecia o tema “vampiros”! Conto com o apoio de sempre, e agradeço todos que me deram a sua força e a sua confiança, pois o livro certamente mostrara o vampiro tradicional como merece.
 

Vox Vampyrica Lounge


Vox Vampyrica Lounge é um novo evento periódico (sem localidade fixa) inspirado na estética do programa semanal Vox Vampyrica (que vai ao ar na webradio Gato Preto ) esta noite de estréia será inspirada no contexto do filme “Lost Boys – Os Garotos Perdidos” um clássico vampiresco dos anos de 1980, que inspira a decoração da locação desta noite de abertura que recordará a caverna onde moravam os “vamps” deste filme…Além disso comemoraremos também um ano e meio de atividades do programa Vox Vampyrica!

Imagine um Lounge ambientado em um ambiente que recorda uma caverna, uma área externa com uma fogueira ardente com doces aromas, poetas e poetisas do próprio público compartilhando seus escritos…mesinhas com luz de velas, leitura de poesia, performances de danças étnicas (como dança do ventre ou tribal), bebidas com preços acessíveis, expositores, conversas interessantes, pessoas agradáveis e com belos visuais e boa música durante toda a noite…em uma cidadezinha de arquitetura inglesa centenária encoberta na névoa…uma noite romântica e intimista…para poucos…

Ao longo da noite teremos um especial da banda inglesa Inkubus Sukkubus e Top3´s com Clan of Xymox, Sisters of Mercy e Faith and the Muse. Durante o transcorrer desta longa noite o melhor do 80´s, 90´s, 00´s, Goth Classics, Gothic Rock, Darkwave, Darkeletro, Ethereal, Neofolk e vertentes de todas as décadas…O Line-up de Djs incluem Pherro (Gotham Pub, 69 Fetish for Fun), Lucius & Marian(Satwa, Dj Club) e Lord A:.(Theatro dos VampiroS, Black Cat e atualmente apresentador e Dj do Vox Vampyrica).

O Vox Vampyrica Lounge vêm para trazer bons momentos de música, convivência e proximidade; aliado com um delicioso sarau a luz de uma fogueira com a participação do público e de autores convidados, expositores de artigos relacionados a cena, pequenas exposições de arte em telão ou no local do evento e ainda apresentações perfomáticas de danças étnicas – tudo quase sempre inspirado diretamente ou subjetivamente em uma temática Vamp.O evento conta com a coordenação e produção de Kate Steinherz e Lord A:.

A primeira edição do Vox Vampyrica Lounge acontecerá acontecerá no aconchegante “Cavalo de Tróia Café & Rock Bar” no sábado 14 de Agosto a partir das 21h na cidade de Paranapiacaba, durante a noite do tradicional “Encontro de Bruxas e Magos de Paranapiacaba” – uma mega convenção que reúne mais de 4000 visitantes ao longo dos seus dois dias de duração – pessoas que apreciam a cultura, a música alternativa, a cena holística e o livre-pensar residentes em São Caetano, Santo André, São Bernardo do Campo, São Paulo e até mesmo outros estados…

VOX VAMPYRICA LOUNGE - sábado 14 de Agosto das 21h até o Amanhecer em Paranapiacaba no Cavalo de Tróia Café e Rock Bar – avenida Campos Salles, 459 (em frente o antigo mercado de Paranapiacaba/local dos expositores do Encontro de Bruxas e Magos) – Entrada no Vox Vampyrica Lounge R$10 – cortesia um copo de vinho – Especial: Inkubus Sukkubus + top 3: Clan of Xymox, Sisters of Mercy e Faith and the Muse.Organização: Kate Steinherz & Lord A:.(este evento é uma atração independente do VII Encontro de Bruxas e Magos de Paranapiacaba).
 
SITE OFICIAL
email: officinavampyrica@yahoo.com.br
telefone: 11-7253-5852

*Importante: Para assistir o Workshop de Lord A:. 2012:Visões Vampyricas sobre Cosmogonia, Escatologia e Destino que acontece no “VII Encontro de Bruxas e Magos de Paranapiacaba” no sábado 14 de Agosto as 19h, você deve se inscrever no evento através do site http://www.casadebruxa.com.br ou dos fones:4994-4327 e (11) 2534-4001 (confira no site do evento sugestões de pousadas e hospedarias)

Lançamento do livro, Meu amor é um Vampiro



No gélido poente do dia dos namorados deste ano realizei uma interessante palestra sobre a história da produção cultural e o folclore de temática vampiresca lá no lançamento do livro “Meu Amor é um Vampiro”, coletânea organizada pelo Eric Novello e a Janaína Chervezan e publicada pela editora Draco. O evento aconteceu na livraria Saraiva Mega Store do Shopping Paulista e reuniu naquele finalzinho de tarde apreciadores de literatura fantástica, autores amigos, participantes da coletânea, cosplays e fãs de Crepúsculo… O evento se iniciou com as boas vindas ao evento realizadas pela Natasha (presidente do Twilight Universe) e o Rafael Viana (site Bookeando);Depois tivemos uma breve apresentação do livro pelo Erick Sama da Editora Draco.Na sequência foi a vez da mesa principal contou com a participação das autoras Rosana Rios, Giulia Moon e do palestrante convidado, “Lord A:.”.

Na palestra, resgatei conteúdos do começo dos romances vampirescos, que se iniciam com a poesia Christabel de Samuel Taylor Coleridge na segunda metade do século XVII – onde os vampiros são tomados dos contos folclóricos e passam a servirem como máscaras para artistas e escritores falarem e explorarem temas considerados como tabús, tais como: morte, vida, o que é realmente viver e ainda sexualidade… Notem que a personagem Geraldine (uma vampira) é lésbica e tem um caso com Christabel (personagem título).Esta abordagem alegórica irá se tornar uma tradição nas obras dos “descendentes literátos” de Coleridge como Byron, Poe, Baudelaire, Bran Stocker e este alegórico “DNA literato” alcança até Anne Rice ou Popy Z.Brite… No Brasil temos mais de quarenta anos de produção cultural de temática Vampiresca. As primeiras aparições começam na segunda metade da década de 1960 com a participação da atriz Norma Benguell na produção italiana Planeta dos Vampiros e com um longa metragem nacional chamado “Um Sonho de Vampiros”.Depois destes tivemos muitos filmes, peças teatrais e até novelas com Drácula em pleno anos de 1980.Uma das grandes curiosidades é a criação da personagem “Mirza, A Mulher-Vampiro” de Eugênio Collonesse e Rodolfo Zalla que antecedeu em três a cinco anos a personagem Vampirella dos norte-americanos. Na palestra sublinhei um retrato bem detalhado sobre as primeiras autoras que exploraram a temática “vamp” como Flávia Muniz, Martha Argel e Giulia Moon e sua importância e pioneirismo para a cena da literatura fantástica de temática vampírica brasileira. Isso sem falar na campanha do Dia dos Vampiros que se tornou data oficial da cidade de São Paulo, empreendida anualmente pela cineasta Liz Marins que interpreta a vampira Liz Vamp nos cinemas. Quem desejar conhecer mais sobre a trajetória cultural do vampiro no Brasil pode consultar a cronologia da produção cultural vampirica no Brasil no RedeVamp.

Depois da breve-palestra foi a vez das autoras estreantes Adriana Araújo, Ana C. Silveira e Cristina Rodriguez contarem um pouco de suas trajetórias e da emoção de participarem desta bela coletânea. Um assunto muito interessante que foi levantado pelo público presente ao evento durante as falas das autoras e do convidado – foi a questão do preconceito sofrido por apreciadores de literatura fantástica e até mesmo integrantes de cenas culturais alternativas. Soubemos de um caso aterrador acontecido há pouco tempo, onde uma mãe-de-família evangélica decidiu incinerar na fogueira livros de ficção ou de fantasia em praça pública… uma barbárie sem tamanho em pleno século XXI. Note que falamos de obras de arte e de imaginação sem qualquer cunho ou perspectiva de cosmovisão ou ainda religiosa.

Durante o evento ainda tivemos as presenças do autores Sérgio Pereira Couto, Martha Argel, Flávia Muniz, Adriano Siqueira, Eric Novello e da cineasta e atriz Liz Marins que interpreta a personagem Liz Vamp. E também de muitos cosplays de personagens vampirescos e ainda do público que compareceu para prestigiar este delicioso lançamento.

FONTE: RedeVamp