Toda Família tem seus Demônios: Darkshadows a la Tim Burton


 
"Não é muito pelo seriado em si, mas pelo clima que ele passava, pela dinâmica meio estranha, pelo menos pra mim. Queríamos muito capturar aquele tom, então por isso escolher o elenco era muito importante, e nós trabalhamos aqui com um ótimo elenco". Não só como protagonista, mas também como co-produtor do filme, Depp emenda: "Eu me fascinei com essa novela gótica quando era criança, assistia depois da escola. Sempre ficou na minha cabeça essa ideia, de como seria legal se isso virasse filme, e um dia Tim e eu, na época de Sweeney Todd, estávamos conversando que deveríamos fazer um filme de vampiros, e de uma hora pra outra já estávamos numa sala com Seth discutindo o projeto".
 
Como outras centenas de resenhas a minha também começa citando o novelão norte americano sessetista/setentista chamado "Darkshadows" que se tornou uma das mais marcantes febres vampirescas midiáticas de todos os tempos daquela época.Muito antes de Lestat e sua turma que foram criados por Anne Rice nos anos setenta, bem como seus primos moderninhos de "True Blood" e bem como da infâme franquia "Crepúsculo". Milhares de pessoas paravam para assistir as desventuras do vampiro Barnabas Collins e sua família amaldiçoada nas telinhas quando a televisão ainda era preto-e-branco. Vale contar que originalmente, nos primeiros episódios a série era só um novelão gótico que recordava aquele climinha de contos da Anne Radcliffe onde todo efeito sobrenatural era desmascarado como algum truque de algum farsante (a la Scooby Doo...e em geral a culpa era sempre de alguma traquinagem do David Collins...rsss...) responsável pelo baixo índice de audiência, então os produtores e o estúdio decidiram que o sobrenatural deveria ser realmente sobrenatural... tudo começou com a aparição de fantasmas revelando quem havia sido os autores de seus assasinatos. Dentre eles o fantasma de Josette DuPréss Collins foi ganhando cada vez mais importância na trama e preparando a entrada grandiosa do vampiro Barnabas Collins no episódio 210 (inicialmente ele era só um artíficio para aumentar a audiência da trama e que seria retirado em seguida... mas o resultado foi tão bom que se tornou personagem fixo e o "frontman" da série)
 
O seriado original foi criado por Dan Curtis baseado em um sonho que ele teve de uma garota misteriosa chegando a uma casa proibida. As tramas criadas por Dan e sua equipe foram repletas de bruxaria, ciganos,  possesões espirituais, licantropia e fantasmas. Os roteiristas do original lançaram mão de uma vasta gama de subtramas com viagens no tempo por regressão de memória (ou transferência física!), voodoo, adaptações insossas de romances góticos de autores como Mathew Gregory Lewis, Lord Byron, Colleridge e muitos outros. Não poderíamos ainda ficar sem citar os encontros da família Collins, capitaneada por Barnabas em diversas épocas da narrativa e seus confrontos com os "Leviatanos" criaturas inspiradas nos mitos de Chtullu de H.P Lovecraft. Embora muitas das tramas e momentos épicos sempre girassem em torno da amargurada e vingativa bruxa Angelique contra o vampiro Barnabas, interpretado pelo ator shakesperano Jonathan Fridd (bem menos amigável que a versão de Johnny Depp).
 
A série original teve cerca de 1245 espisódios(!), dois longa metragens House of Darkshadows(1970) e Night of Darkshadows(1971). Houveram ainda uma tentativa de uma nova versão do seriado com cerca de treze episódios gravado nos anos noventa. E uma ampla gama de livros, jogos de tabuleiro e videos de bastidores - bem como inúmeros fã-clubes na américa do norte e europa. Sendo uma das franquias vampirescas mais antigas e pioneiras no cultivo de fãs que a veneram até os dias de hoje.
 
Através do seríado Darkshadows podemos assistir a transição do personagem vampiresco através dos anos que antecederam a revolução sexual, de monstro matador de pessoas a anti-herói romântico quase que uma década antes da grande diva literária de New Orleans iniciar suas crônicas vampirescas. Factualmente, a tal construção vampiresca de antiherói romântico que vai tendo sua história aprofundada e se tornando mais densa psicológicamente - ao menos para as "massas" - aconteceu primeiramente em DarkShadows. E aprimorada e refinada na década seguinte nas obras de Anne Rice como Entrevista com Vampiro que irá despotar entre 1974 e 1976. Embora em minha opniã leiga eu pressinto a principal influência de Darkshadows não própriamentenas Crônicas Vampirescas de Anne Rice e sim na "Saga das Bruxas da familia Mayfair" apenas deslocando do Maine para New Orleans e adicionando um têmpero cajun à história. Não preciso sequer citar toda a influência desta transição de imagem nos tempos da proto-subcultura Vamp, conforme a sexualidade foi deixando de ser demonizada e banída das artes, gradativamente o arquétipo do vampiro tornou-se uma interface para se abordar estes temas na arte, atualmente vemos tal questão escrachadamente retratada no seriado True Blood da HBO.
 
(Clique na imagem para ver outras fotos do evento)
 
Na questão fashionismo tanto o seriado e seus desdobramentos quanto a nova versão de Tim Burton devolvem o vampiro a imagem romântica vitoriana e profundamente inspirada na obra Dracula escrita por Bram Stocker (que comemorou cem anos de morte em 2012) aqui no Brasil tal acontecimento foi homenageado por um desfile de vestimentas criadas por Lili Angélika (da grife Fetishe Furry - www.fetishefurrys.com.br) no legendário Madame Underground Club, durante os festejos do Bazar alternativo Madame Freak. Na pré-estréia de Darkshadows, no Brasil traduzido como "Sombras da Noite"(uma tradução dispensável ao meu ver) a estilista, levou todos seus modelos daquele desfile devidamente trajados a caráter e encantaram o público presente como vocês podem conferir na foto acima. E depoi dela vamos aos meus pitacos sobre o filme e claro, falar sobre a pré-estréia...
 
Na quarta-feira 20 de Junho foi a vez dos brasileiros assistirem a pré-estréia de Darkshadows (Sombras da Noite, aqui no Brasil) o evento foi organizado pela Warner e ganhamos nossos ingressos colaborando com a promoção capitaneada pela atriz, cineasta e escritora Liz Marins que interpreta a vampira Liz Vamp e os amigos da Ravens House BR, Rosana Raven e Iam Godoy. Naquela noite fria e chuvosa fomos todos para o cinema do Shopping Eldorado. Lá reencontramos amigas e amigos, muitos Vamps trajando seus melhores visuais e claro a participação dos modelos da estilista Lili Angélika passeando entre o povo e tirando muitas fótinhos.
 
E finalmente assistimos ao ator Johnny Depp interpretar um vampiro. Também assistimos um filme de vampiros dirigido por Tim Burton. Uma combinação para lá de interessante e esperada há muito tempo. A ansiedade era grande entre os nossos leitores e leitoras que compareceram, faziam meses que promovíamos a adaptação em nosso portal REDE VAMP. Certamente é um grande filme e vocês irão se divertir bastante com o verniz burtoniano da obra. No elenco ainda tempos ainda Michelle Pfeiffer, Eva Green, Helena Bonham Carter, e as inusitadas presenças de Alice Cooper e do grande Christopher Lee. Sem dúvida a fina ironia de Burton reune picotes do célebre romance "Love Story", referências poéticas beatnicks variadas... traz ainda Alice Cooper quando vivia o auge ou a melhor fase de sua carreira de rockstar aterrorizante na década de setenta. A trama principal reúne os personagens Barnabas, Liz, David, Roger, Victoria, a doutora e a asquerosa Angelique como a antagonista principal - em conflitos interessantes, que evitarei descrever para não estragar a diversão de vocês...
 
No entanto será que sou apenas eu ou teve mais gente que achava que se Darkshadows houvesse sído uma animação a la "Estranho Mundo de Jack" ou "Noiva Cadáver" a produção teria soado mais verossímel? Pois basicamente toda a estrutura da obra remetia inexoravelmente a trabalhos que apenas a plasticidade (e a fina ironia) da animação tornaria mais evidentes e elaborados. Claro, o roteiro também lembrava antigas histórias em quadrinhos clássicas de terror vampiresco da "Contos da Cripta" e afins, o que particularmente eu adorei. A finesse é o confronto do vampiro Barnabas Collins(Depp) despertando em 1972 (depois de 200 anos de sono) e confrontando uma letra "M" dourada e gigantesca, interpelando-a como "Mefistófoles" é hilária. O fato é que o filme remete para o bom-humor(num tom de paródia e homenagem aos anos setenta) ao invés do "terrorzão" gótico do antigo seriado e isso desagradou muita gente.
 
Questionado sobre o tom campy, caricatural, Burton se revolta: "O filme não é campy. Vou embora, acho isso um insulto", brinca. Grahame-Smith emenda: "Nós nunca paramos pra discutir se faríamos um drama, uma comédia, um romance ou um horror gótico. Estamos fazendo Dark Shadows".
 
Burton explica melhor: "O seriado era bastante sério, mas todo mundo aqui que lembra de Dark Shadows tem lembranças afetivas. Então mesmo que tivesse aquela seriedade excessiva, havia também uma energia; não era especificamente engraçado, mas para nós havia humor ali. Nossa intenção não era fazer um negócio caricato, mas emular aquele tipo de novela bizarra com atuações não muito realistas. Aquele tipo de diálogo, aquele tipo de atuação, os personagens andando pra câmera na hora dos seus close-ups, é aquele espírito que queremos pegar. Eu amo o seriado, mas pra quem não conhece Sombras da Noite talvez pareça um filme que Ed Wood faria".
 
O interessante do personagem Barnabas(Depp) é o fato dele ser um vampiro que mata suas vítimas para tomar o sangue sem frescuras, porém continua mantendo sua aristocracia de espírito, sensibilidade, lealdade a família e a consciência de que matar pessoas é algo realmente desprezível... mas não tem jeito e nem sempre é algo pessoal. Enfim, assistam DARKSHADOWS e divirtam-se!
 
Sobre a saturação dos vampiros hoje em dia: "Pra mim, os vampiros nunca foram moda, porque a gente aqui assiste a filmes de vampiros desde os cinco anos de idade. Sempre assistimos. Não encaramos então [fazer um filme de vampiro] como uma coisa positiva ou negativa, e sim buscamos o seriado e tentamos pegar dali as coisas de que gostávamos, tudo o que era único e pessoal", diz Burton. Depp completa: "Para nós, resgatar Barnabas não tem a ver com a moda dos filmes de vampiros, mas com a ideia de fazer um filme clássico de monstros".
 

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