Inicialmente, é preciso fazer a ressalva de que, para curtir
adequadamente essa produção espanhola de 2004, é necessário que se evite
o impulso natural que temos de sempre associar os filmes recentes que
assistimos com outros clássicos do seu respectivo gênero. Esqueça filmes
como “A Hora do Lobisomem”, “Grito de Horror” ou “Um Lobisomem
americano em Londres”. Esse “Romasanta” é totalmente diferente, e
poderia se enquadrado muito mais no gênero drama do que propriamente
terror.
Provavelmente para os apreciadores de filmes de horror, o
primeiro nome que chama a atenção quando os créditos surgem na tela é o
do produtor Brian Yuzna, responsável pela produção da cultuada franquia
“Re-Animator” (sendo que também dirigiu o 2º e o 3º filme da série) e
também encarregado da direção de filmes como “A Volta dos Mortos-vivos
3” e o hiper-trash “O Dentista”. O elenco também possui alguns nomes
conhecidos, como Julian Sands (“Aracnofobia”, “Warlock – O Demônio”,
“Encaixotando Helena”) no papel de Romasanta, a belíssima Elsa Pataky
(Beyond Re-animator) e John Sharian, que já fez participações em filmes
como “O Operário”, “Drácula II: Ascensão” e “O Resgate do Soldado Ryan”.
Dirigido pelo desconhecido diretor espanhol Paco Plaza, essa
obra mostra uma história supostamente inspirada em um caso real
acontecido na Espanha em 1852, quando um tal Manuel Blanco Romasanta foi
preso por ter assassinado mais de dez pessoas, e no seu julgamento
alegou ter cometido os crimes por se transformar em lobisomem.O filme
tem um desenvolvimento lento, mais calcado nos diálogos do que nas cenas
de ação, o que pode se revelar um tanto quanto chato para quem aprecia
filmes mais dinâmicos e agitados. De qualquer forma, é interessante
salientar que a obra se desenvolve em meio a uma ambientação um tanto
quanto obscura, e por diversos momentos apresenta algumas cenas bastante
pesadas, não economizando no sangue, e mostrando explicitamente imagens
de mutilações, animais esquartejados, cadáveres putrefatos e até
algumas ousadas cenas de nudez (masculina e feminina). Em uma dessas
cenas, em especial, uma garota está tomando banho em uma espécie de
banheira improvisada, quando o personagem de Julian Sands chega e começa
a masturbá-la. Algo que chama a atenção por nos fazer pensar o quanto
seria improvável de se ver cena semelhante na maioria filmes americanos
atuais, onde a “caretice” e a censura parecem estar voltando a imperar.
Um dos pontos altos do filme é a convincente atuação de Julian
Sands, que consegue conferir uma personalidade tridimensional ao seu
personagem, que hora age com astúcia e fúria no encalço de suas vítimas,
e em outros momentos se mostra melancólico e deprimido por ver sua vida
seguir um caminho de violência e morte do qual não consegue se livrar.
Também é interessante a abordagem que é dada para a questão da
licantropia, que era vista pelos personagens de forma misteriosa e
controversa, apontada por alguns como uma simples, porém pouco conhecida
doença mental, e por outros como algo verdadeiramente maldito, obra do
diabo.
Temos ainda uma interessante e nojenta cena de metamorfose, de
uma forma bem diferente do que costumamos a ver nos filmes do gênero.
Entre os aspectos negativos, chama a atenção a já mencionada
lentidão, que torna o ritmo do filme irregular e um pouco maçante em
alguns momentos, e também a indecisão que marca tanto o roteiro como a
própria direção do trabalho, fazendo com que a obra não se defina em
apostar em um drama obscuro ou descambar para o terror propriamente
dito. O resultado parece ter ficado em um meio termo onde temos a nítida
impressão de que faltou alguma coisa para que o filme engrenasse de
vez. Também não se pode deixar de mencionar o ridículo subtítulo
nacional, afinal em nenhum momento o filme concentra suas ações
relevantes em uma casa, fazendo que esse “A Casa da Besta” soe tão falso
quanto apelativo.
No geral, “Romasanta” não chega a ser um grande filme, não vai
se tornar um clássico do gênero, mas é uma obra bastante original e
instigante, e que, ao meu ver, vale a pena ser conhecida.






































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