
Publicado originalmente no fanzine Juvenatrix 42 Data: Março de 2000
"Quem
na guerra observar com maior vigilância as intenções do inimigo, e mais
exercitar seu exército, correrá menos perigo, e terá maior probabilidade
de vitória" - Nicolau Maquiavel.
Se por acaso algum de nós formos
pesquisar sobre os principais tiranos da história, com absoluta certeza
iremos depararmos com nomes bastante significativos para o nosso
empreendimento um tanto sinistro. A nossa primeira investida nas páginas
da história nos transportará através do tempo em épocas e períodos
manchados de sangue. Devemos levar em conta, porém, que nem tudo que se
ouviu dizer é verídico ao passo que muitos autores exageraram ao
descrever os acontecimentos.
Um exemplo deste "erro
histórico" ocorreu em cima da memória do Imperador Nero, que é sempre
lembrado como "tirano", "cruel", "incendiário de Roma", etc. Desta forma
Nero é sempre visto como um imperador maldito. Mas antes mesmo destes
"títulos", sabe-se hoje através de fontes confiáveis que Nero era um
homem de cultura, admirador dos gregos e dedicado divulgador da Arte
Helênica. Foi um grande estadista e além de imperador era músico,
cantor, poeta, ator, escritor e homem de grandes ideais!
Quanto às barbáries ocorridas no
seu reinado, de fato também ocorreram muitas, entre crimes,
crucificações, piras humanas, orgias regadas à vinho, depravações
sexuais, etc. Mas não é sobre Nero que irei aprofundar o assunto pois o
título deste artigo diz respeito a um outro personagem da história
conhecido por Vlad Tepes, nascido no ano de 1431 da era cristã, filho
legítimo de Vlad Dracul.
"Dracul" significa "Dragão", uma
tradução um pouco complicada do romeno que pode também significar "o
diabo". A palavra em seu original é "Drac", oriunda de uma antiga ordem
ou irmandade cristã que tinha como um dos objetivos principais combater a
ferro e fogo os turcos. Nota-se aqui uma minúscula contradição, uma
ordem cristã que traduzida entoa "o diabo" ou "dragão", um nobre símbolo
que também é mais oriental que romano.
Nota-se também o caráter
bélico-militar da ordem com objetivo de "guerra santa", uma espécie de
cruzada, pois todos os grandes governantes europeus estavam de prontidão
contra os inimigos dos cristãos. Aqui, cristãos eram todos os que não
fossem islamitas ou pagãos, povos com outras crenças e costumes. E a
Europa toda se denominava cristã por uma questão político-econômica bem
definida onde como já sabemos o povo mais humilde, os camponeses e os
trabalhadores em geral, eram quem sustentavam todos os feudos europeus
que usavam a religião para manipular e abusar da boa fé dos mais
desfavorecidos.
Vlad Tepes nasceu na antiga
Transilvania e a palavra "Tepes" foi uma espécie de apelido que ele
ganhou mais tarde na vida adulta, que significa "empalador", devido ao
seu radicalismo sádico com seus inimigos. Vlad será então sempre
associado como um príncipe tirano, cruel e muito mal. Aqui novamente é
evocado somente o lado perverso de Vlad Tepes, sendo que ele foi um
príncipe justo que lutou a favor de seu povo, porém seu radicalismo
assusta! Poderia voltar na sua árvore genealógica e evocar nomes de
figuras muito curiosas descendentes de diversas raças européias de
guerreiros e povos bárbaros. Os antigos romanos chamavam de bárbaros a
todos os povos nômades, "selvagens", que não tinham uma cultura refinada
herdada pelos gregos. Entre estas diversas tribos destacam-se os
vândalos, ostrogodos, visigodos, burgúndios, anglo-saxões, hunos,
árabes, mongóis, entre a diversidade de outras tribos. Os antepassados
de Vlad Tepes Drácula vinham da Valáquia, uma província romena
localizada mais ao sul da Europa Central, e se formos traçar no papel o
confuso torvelinho de todas estas raças européias, um nome surgirá como o
próprio nome do diabo, Átila! O rei dos hunos, e uma frase deste grande
líder pode ainda ser lida para podermos entender seu temperamento
guerreiro, "A estrela cai, a terra treme, eu sou o martelo do mundo e a
erva não cresce mais por onde o meu cavalo tiver passado!"
Podemos apenas imaginar como
alguns dos antepassados de Vlad Tepes Drácula agia em seu próprio tempo
onde o aço, o ferro, o fogo, o sangue e o ódio eram os ingredientes
básicos da realidade medieval por estas terras tão selvagens. O contexto
histórico que culmina em Drácula é tão complexo que somente ele
preencheria um novo artigo, mas tomemos um atalho para mergulharmos nos
relatos de horror do século XV onde surge um Drácula real, muito
diferente daquele do cinema, se bem que o Drácula cinematográfico é uma
sombra do Drácula histórico devido à generalidade de um escritor
irlândes chamado Bram Stoker, bastante citado nos meus artigos.
"Gela-me o sangue quando sopra o
sinistro Haraverus alta noite quando eu, mergulhado no silêncio da
minha solidão cismo em seu personagem... e como um louco sinto-me no
dever e obrigação de pronunciar seu nome! Inspiro-me na sombra maléfica
de Drácula e vejo diante de mim todos os seus inimigos visíveis e
ocultos, cismo, e meu espírito mergulha no pesadelo:
Ah! Se eu pudesse empalar meus
inimigos, em estacas pontiagudas de madeira. Sepultá-los vivos em seus
jazigos, para que tiritem na hora derradeira! De Vlad Drácula sou
espelho fiel e contra o mundo lutarei, minha espada de ódio e fel será
para eles o testamento!"
Sim! Às vezes componho versos
simplificados, longe de esperar glória, escrevo para preencher o
tempo... Mas o espectro de Drácula ainda assombra-me, tento compreender o
temperamento e a personalidade deste homem, mas é em vão! Ele é
sinistro demais para nossa limitada compreensão e o mal tem um aspecto
diverso.
Muitos relatos foram escritos a
seu respeito, um deles editador por Ambrosiu Huber no ano de 1499 na
cidade alemã de Nuremberg. Descreve coisas horrendas e assustadoras onde
um homem, mais conhecido como Drácula, o Calamitoso, empalou um número
considerável de seres humanos. O método de empalar consiste em
atravessar o indivíduo com uma enorme lança pontiaguda feita na maioria
das vezes com dois ou três metros de comprimento. Desta forma a
empalação tornou-se uma das mortes mais cruéis equipara somente à
crucificação. Isto é, se não exceder-se a este outro método de morte. A
crucificação também tem seu lado horrendo, e Cristo deve Ter sofrido o
diabo quando ficou dependurado na cruz do calvário junto a dois ladrões,
pois a morte demora e o sangue escoa lentamente...
Em alguns casos a empalação
produz uma morte imediata no indivíduo. Em outros o indivíduo agoniza
lentamente e o sofrimento é absoluto!
Observando uma xilogravura que
já foi rara, mas hoje é muito conhecida por vários estudiosos no
assunto, pois foi publicada no livro "Em busca de Drácula e outros
vampiros", dos autores Raymond T. McNally e Radu Florescu, esta sempre
horrenda imagem surge como um autêntico documento de época. Tentarei
descrevê-la para melhor entendermos a questão:
Bem ao fundo, pequenas
montanhas, arbustos e árvores, logo em seguida a imagem de uma
fortificação militar ou castelo medieval cheio de janelas e torres como
pontos de observação sobre os invasores turcos.
Tudo isso no canto direito da
parte de cima do desenho, mas mesmo antes de percebermos essa paisagem,
ao lado esquerdo da ilustração existem uma quantidade enorme de espetos e
lanças pontiagudas que transpassam os corpos de um número razoável de
indivíduos. Todos eles mortos ou agonizando como que estupefatos pela
barbaridade diabólica dos seus próprios destinos, realmente uma morte
horrível. Mais abaixo deste detalhe, uma espécie de carrasco ou servo
executa uma tarefa um tanto macabra para espanto dos leigos. Ele difere
vários golpes com um machado em corpos mutilados e esquartejando-os em
pedaços, joga a cabeça deles em um caldeirão a ferver em fogo brando.
Braços, cabeças, mãos, pés, dorsos, estão espalhados pelo chão... À
direita desta cena está Vlad Tepes Drácula, vestido com uma rupa típica
da região. Ele parece estar sentado em frente de uma mesa de madeira
forrada e bem servida com pão, vinho e carne...
Parece que Drácula fazia suas
refeições assistindo a estas atrocidades com os olhos de indiferença.
Alimenta-se e zombava dos inimigos condenados ao martírio. Refletindo
ainda nesta horrenda xilogravura do século XV aproximadamente, associo
esta imagem a uma cena do filme "Scars of Dracula", ou "O Conde
Drácula", produção da inglesa Hammer Films estrelando Christopher Lee
como o Conde Drácula. Em um determinado momento do filme, o servo fiel
do conde, um indivíduo barbudo e cabeludo com uma cara de louco que
lembra mais um lobisomem devido às grossas pestanas acima dos olhos,
esquarteja o corpo de uma jovem morta a golpes de punhal pelo próprio
vampiro. Os pedaços de seu belo corpo são jogados em um recipiente e o
servo faz todo o serviço assobiando com um ar de indiferença, devido à
já estar acostumado à rotina dessa sinistra tarefa...
Seria esta cena uma alusão à xilogravura?
Um outro filme que faz uma breve
alusão do processo de empalação é em "Drácula", de 1979, estrelando
Frank Langella como o Conde Drácula.
Bem no final do filme, no porão
do navio Czarina Catherine, que seguia seu destino para a Romênia,
Drácula luta com Abrahan Van Helsing e Jonathan Harker e na sua fúria
sanguinária acaba empalando Van Helsing, que agoniza vertendo em sangue
pela boca. Mas este consegue içar um gancho enorme de remoção de cargas
que transpassa as costas de Drácula, que em seguida é hasteado com
violência para fora do navio indo agonizar dependurado no alto do mastro
de frente ao seu inimigo de morte, o sol escaldante do meio dia...
Voltemos ao Drácula da Idade
Média, e mais relatos surgem ao seu respeito descrevendo-o como cruel e
justo, à medida certa de um bom príncipe! Entre os relatos podemos
extrair trechos sobre uma belíssima taça empalhada em ouro que fora
colocada próxima de uma fonte em uma pequena praça nas proximidades de
Tiagoviste. Vlad Drácula colocou-a de propósito ali para que todos
pudessem beber água fresca, e por muito tempo ninguém ousou roubar a
taça, tal era o temor pela justiça de Drácula. Mas certa vez, um cigano
roubou a taça da fonte, este foi então capturado e após tortura cruenta
ele foi esquartejado e cozido em um enorme caldeirão de ferro, depois em
seguida foi servido de comida aos seus comparsas obrigando-os a comer a
carne cozida do ladrão cigano que havia roubado a dita taça de ouro!
"Comam-no! Pois é assim que se faz justiça no reinado de Vlad Tepes Drácula!..."
Imaginemos só esta justiça
ferrenha aqui em nosso país, quantos infelizes não seriam cozidos em
panelas de ferro, a começar pela choldra de políticos canalhas que
compõe todo o poder público, estenderia depois empalando os patifes que
compõe os partidos de esquerda, seguindo sempre o rastro de todo o
indivíduo que colabora para denegrir a imagem do Brasil! Utopias...
Mas a justiça de Vlad Tepes
Drácula é muito diversa disto que chamamos e conhecemos por justiça, não
é simbolizada por uma mulher de olhos vendados segurando uma balança. A
justiça de Drácula é a Espada de Aço Afiada! Talvez seja por isso que
ela funcionava, afinal, como escreveu Nicolau Maquiavel em uma de suas
obras, "O Príncipe", considerado o melhor livro produzido por ele, "Um
príncipe deve usar da crueldade ou piedade de acordo com as
circunstâncias." E ainda adverte Maquiavel que "é muito mais vantajoso
para um príncipe ser mais temido que amado, pois o amor acaba mas o
temor permanece!"
De fato, Drácula foi muito
temido e este temor transformou sua imagem no Diabo encarnado, nenhum
outro personagem da história foi tão temido. Se bem que existiram outros
tipos excêntricos e cruéis, como é o caso de Gilles de Rais, nascido em
1404 e morto em 1440. Este violentou, sodomizou e matou mais de 140
criancinhas, além de abusar sexualmente de rapazotes e ninfetas,
torturando-os até uma morte sangrenta.
Vlad Tepes Drácula parece também
que sentia um certo prazer sádico ao mandar executar suas vítimas, e no
caso de mulheres infiéis ou arrogantes (que faziam-se de difíceis não
querendo entregar-se para o prazer). Uma destas infelizes, Vlad Drácula
mandou que seus órgãos sexuais fossem extirpados e depois a mesma fora
esfolada viva e exposta à multidão de curiosos! Costumava também mandar
cortar os mamilos dos seios e em outros casos atravessava com um
comprido espeto de ferro em brasa a vagina de alguma mulher que sendo
virgem, perdera a virgindade em aventuras ocasionais. O espeto de ferro
emergia pela boca da vítima!
Não há dúvidas, são relatos
horripilantes que uma vez lidos, jamais esquecemos e se fossemos pôr no
papel todos os documentos medievais referentes à Vlad Tepes Drácula,
teríamos em mãos um dos manuscritos mais horrendos de que se tem
registro, e é po isso que o personagem "Drácula" excede em terror
equiparado a qualquer outra criatura deste lúgubre universo.
Todo homem consciente da
transitoriedade da vida, da fragilidade do organismo, do corpo, que sabe
com profundidade o quanto a humanidade é má e traiçoeira, aquele que
tem uma visão ampla de que todas as relações humanas são fundamentadas
no interesse, que o sonho de um dia habitar um castelo é uma utopia,
quando considera o cubículo que está confinado em sua mísera habitação
insalubre, ah! Todo homem que olha para esse exército de mulheres
jovens, ninfetas cheirando o frescor da juventude e se vê velho, exilado
do amor, excluído dos prazeres mais seletos desta vida! Aqueles que,
rodeados de inimigos, se vêem derrotados pela dialética bastarda da
mesquinha realidade que é labutar, trabalhar para não morrer de fome.
Todo homem que mesmo sofrendo todo tipo de injustiça social, aquela
derivada do poder público, da política corrupta, aquele que mesmo
sofrendo todo tipo de assalto, conserva um traço de cultura e
consciência, este pelo menos uma vez na vida, deve ter-se fascinado por
"Drácula", um anti-herói maldito que vinga e promove sua própria justiça
sem precisar de se sujeitar à humilhações oriundas de uma civilização
degenerada, de uma forma absoluta.
Sim! Drácula é uma lembrança da
mais malvada e cruel criatura que já marcou a civilização, e esta sombra
vem fascinando os homens sensitivos cada vez mais, apesar de toda a
mancha negra que paira sobre a memória desta criatura. O vulto espectral
de Vlad Tepes Drácula renasce hoje em histórias em quadrinhos, em
pinturas, gravuras, desenhos, gibis, fanzines (que é o nosso caso),
livros específicos de vampirismo, literatura gótica, revistas de
história, e no cinema, a invenção mais elevada da ciência!
E nos filmes produzidos, um que
realmente dá no que pensar foi Nosferatu (1922)! "Nosferatu, nunca diga
esta palavra, evite dizê-la pois ela é como o canto do pássaro agourento
da morte..."
Nosferatu, o sinônimo da peste,
doença e morte em massa, um vampiro com dentes de rato, que vive
confinado em um velho castelo e dorme de dia em um caixão, e à noite
acorda para beber o sangue dos vivos!
Mas se Vlad Tepes Drácula
possuía longos cabelos crespos e um bigode à moda prícipesca da época,
Nosferatu é careca e sem o dito bigode. Aqui ele transcedeu como que
reencarnado numa imagem de cinema de forma grotesca e agressiva
conservando porém o aspecto de nobre ao habitar sempre um castelo!
As imagens do filme Nosferatu
tem o aspecto de um sonho mau, um pesadelo atormentado, mudo, sempre
pestilento, mórbido, carregado de imagens medonhas onde o espectador é
sempre mais um dos integrantes do enredo...
Nota-se que através da
literatura, Drácula ganhou realmente a imortalidade e a imagem do
demônio é apenas uma inspiração de horror grosseira equiparada à sombra
de Drácula que foi verídica. Mas Drácula não pode carregar sozinho esta
reputação de cruel. Outros casos ocorreram de monstruosidades cometidas
por outros homens, e o ilustre antropólogo italiano Paulo Mantegazza nos
relata o seguinte:
-
"Schaaffhausen fala de um respeitável senhor da Silésia que gostava
tanto de sangue humano fresco, que sua mulher compassivamente se fazia
sangrar todos os anos, para satisfazer o irresistível apetite do marido
antropófago".
- "Os caraíbas preferiam do homem cozido a nuca e o pescoço, outros as nádegas, as coxas e as pernas".
-
"Agradava muito aos habitantes das ilhas Marquesas, o sangue sugado
através do crânio, e, em Nukahiva, Krusenstein encontrou devidamente
furadas, todas as caveiras humanas."
- "Na África Central, são bocados prediletos os peitos e mãos das mulheres."
- "A
carne humana tem sido comida crua e cozida, na Polinésia, os viajantes
descrevem complacentemente os guerreiros cozidos no forno recheados de
batatas e servidos num tabuleiro com seus ornamentos."
-
"Alguns vasos encontrados em antigos túmulos britânicos eram muito
provavelmente destinados a recolher o sangue de vítimas humanas."
- "O
Rei Peppel do Rio Bonny (África), deu um jantar de gala por uma vitória
em que foi feito prisioneiro o Rei Amakrée. Os comerciantes europeus
foram convidados para o jantar no qual entre outras coisas, foi servido o
coração ainda palpitante, de Amakrée.Comeu-o Peppel dizendo: 'Eu trato
assim os meus inimigos!'"
Enfim, não posso trancrever toda
a obra de Paulo Mantegazza para não fugir do assunto sobre as
crueldades de Vlad Tepes Drácula, mas é bom ilustrar um pouco através da
geografia mundial que a crueldade, assassinato e antropofagia são
crimes diversos em qualquer civilização!
Devo admitir então que o que faz
às vezes um único nome carregar má fama ou reputação não é pela
exclusividade de sua maldade, mas porque outros ocorridos desta natureza
já há muito caíram no esquecimento ou foram cometidos no anonimato por
outros indivíduos, em algum lugar no tempo e no espaço. Vlad Tepes
Drácula deve ser analisado não somente pelo seu lado criminoso, mas
justo também, pois das ditas "vítimas" por ele mandado empalar, a
maioria eram inimigos invasores turcos que também degolavam pessoas sem
piedade.
Vlad, muito antes de exercer o
poder obsoluto, fora certa vez capturado pelos turcos othomanos e é
muito provável que aprendeu com seus inimigos o uso desmesurado do
terror e o profundo desprezo pela vida, quando livre jurou levantar a
espada em defesa da cristandade. Mas com o passar do tempo, a antiga
Roma e o mundo haviam distanciado-se do "Príncipe Cristão".
Todas as fortificações mandadas
construir por Vlad, além das já construídas por alguns de seus
antepassados, eram feitas com muralhas de pedra bruta reforçadas com
tapumes para repelir a artilharia dos inimigos. Desta forma, no cume dos
Cárpatos erguiam-se imponentes castelos, alguns hoje em ruínas!
Estes Montes Cárpatos na Romênia
parecem ser uma horripilante e arrepiante parada na fronteira oriental
da Europa e marcam os limites de um reino preso entre a história e o
horror. Ali, naquelas paragens pitorescas envoltas de vegetações
diversificadas, numa terra denominada "além dos bosques", Transilvânia,
reinou Vlad Tepes Drácula...
Se pudessemos mapear essa região
também denominada "terra dos fantasmas" como um turista privilegiado,
percorrendo hoje alguns pontos significativos desta mórbida odisséia,
descobriríamos que o espírito atormentado que se relaciona com estas
paragens, é muito mais peculiar do que julgamos, nós os amantes do
macabro e do desconhecido. Pois os relatos relacionados ao vampirismo e
de um mal sobrenatural é tão evidente que até o mais frio cético ou ateu
sentiria gelar em sua mísera alma. Seria porém um ótimo empreendimento
conhecer de perto os castelos habitados por Drácula e pisar pelo menos
uma vez na vida em Bucareste, uma das cidades fundadas por Vlad Tepes
Drácula.
Acredito que uma viagem a um
local exótico, uma cidade ou país desconhecido, vale por muitos livros
lidos e como disse Albino Forjaz de Sampaio, "para sabermos o quanto
somos insignificantes devemos viajar...". Sim, seria uma experiência
fascinante percorrer esta terra tão sinistra por onde o próprio Bram
Stoker passou fazendo levantamento de informações históricas a respeito
de Drácula, antes de elaborar sua obra.
Antes de terminar este escrito,
não posso esquecer um outro relato de horror sobre o príncipe das
trevas. Nos dias atuais, é comum em algumas cidades da Alemanha, grupos
de neonazistas skinheads espancar e incendiar mendigos e imigrantes
turcos ou de qualquer outra etnia racial. Isso deixa as pessoas chocadas
e horrorizadas. No tempo de Vlad, este, certa vez, mandou recolher e
alimentar uma quantidade significativa de mendigos e miseráveis. Após
saciá-los, Vlad perguntou a eles: "O que mais vocês querem que eu faça
por vocês?". Os miseráveis então responderam já saciados: "Príncipe
Vlad, alivia a nosa dor e pobreza!". Vlad então mandou a seus soldados
que trancassem todas as saídas do pátio do castelo e mandou que os
mesmos ateassem fogo nos mendigos e estes arderam até a morte, sob
gritos desesperados e como tochas humanas debateram-se em uma cena cruel
e ao mesmo tempo horripilante.
Mas se naqueles tempos as coisas
já não eram tão fáceis, pior foi ficando na medida que as guerras
multiplicaram as barbáries de sangue.
A queda de Constantinopla, a
conhecida como "Roma Oriental", fundada no passado remoto pelo Imperador
Constantino, com o objetivo de dominação na fronteira com o oriente
próximo, foi marcada por violentos combates de othomanos com cristãos.
Ilustrações da época nos dão uma idéia deste conflito que parece Ter
dado um fim no império romano no oriente e marcado também o fim da idade
média no calendário cristão. Os exércitos turcos, radicais e dispostos a
tomar a cidade ou morrer, massacraram definitivamente os cristãos que
resistiam por detrás das muralhas fortemente construídas em volta de
Constantinopla. Este violento combate se deu em 1453 aproximadamente.
O diretor de cinema Francis Ford
Coppola, ao elaborar o roteiro de seu filme Drácula de Bram Stoker,
lançado em 1992 fazendo absoluto sucesso, produziu uma excelente imagem
logo no início do filme, fazendo uma alusão à queda de Constantinopla. A
cidade arde em chamas, fumaça negra cobre o cenário e uma enorme cruz
de pedra desprende-se do topo de uma igreja, provavelmente a antiga
igreja de Santa Sophia. A enorme cruz cai e se desfaz em pedaços no
chão! Que cena espetacular!
A imagem ganha seu potencial
embalada na excelente trilha sonora composta pelo compositor Wojcieh
Kilar. Observamos então não só uma referência da queda de Constantinopla
mas a vitória absoluta sobre o cristianismo e uma excelente recordação
de que não é esta a religião oficial da humanidade, pois mesmo já
fazendo dois mil anos de cristandade, esta doutrina não obteve vitória
na parte oriental do mundo!
Vlad Tepes Drácula, para
afugentar e horrorizar os invasores, mandou empalar mais de 20.000
prisioneiros turcos. Estes ficaram expostos em um vale durante mais de
uma semana. Os que presenciaram estas imagens ficavam estupefatos de
terror perguntando-se uns aos outros: o que se pode fazer com um homem
capaz disto?
Mas não se chamava Abraan Van
Helsing o verdadeiro inimigo de Drácula, mas sim um poderosíssimo sultão
da tomada de Constantinopla, o temido Mehmed II, que organizou
diligências fortemente armadas com um elevado número de guerreiros para
invadir a Valáquia. Em uma das investidas, Vlad fora ferido por uma
lança pontiaguda ou flechas e provavelmente tenha morrido assim,
existindo porém uma outra versão de que ele teria sido capturado vivo,
levado como prisioneiro e fora mais tarde decapitado. Isto no ano de
1476, a mando do sultão Mehmed II.
Mas não encontrou descanso após a
sua morte, e segundo relatos de documentos seus restos mortais foram
sepultados em um mosteiro em uma pequena ilha em Snagov. Mas para maior
espanto dos que o temiam, por uma casualidade do destino ou mãos
vingadoras de Jeová, uma violenta tempestade com ventos e raios caiu nas
proximidades destruindo boa parte da antiga edificação que era de
madeira. E com o passar dos tempos, mudanças das mais variadas se deram
no mosteiro e para completar o quadro de horror, o caixão e o corpo de
Drácula desapareceram misteriosamente...
Milhares haviam sido empalados
no seu reinado de pavor e assim restava a lembrança da mais sinistra e
terrível criatura que espalhou o horror na civilização.
O rei dos não mortos não está
deitado em seu túmulo, talvez divague para sempre como o espectro mais
atormentado de que se tem registro, sua imagem nunca será apagada da
história. Ainda que seja mil vezes mais odiado, Drácula é um mito, uma
lenda, uma história de horror verídica que ainda nos causa muitos
calafrios, principalmente quando soa a meia-noite em ponto e assombrados
lemos a inscrição do seu nome em algum artigo de livro, ou revista com
referência sobre tamanho horror.
Que a sua justiça caia um dia sobre todos os nossos inimigos visíveis e ocultos...
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