La Casa Dalle Finestre Che Ridono a.k.a. The House with Laughling Windows - 1976


Este giallo é um dos poucos exemplares do diretor Pupi Avati no campo do fantástico, além deste temos apenas mais quatro filmes que se encaixam na categoria: “Le Strellenel Fosso” (1978), o ótimo “Zeder” (1983), “L' Arcano Incantatore” (1996) e “Il na Scondiglio” a.k.a. “The Hideout” (2007), visto que sua filmografia, com mais de 40 títulos, é composto em sua maioria por dramas históricos e biográficos e algumas comédias. Também é um dos trabalhos mais impactantes e cultuados do diretor.

Aqui acompanhamos a trajetória de Stefano (Lino Capolicchio que, curiosamente, dois anos depois faria outro personagem chamado Stefano em outro giallo: “Solamente Nero”a.k.a. “Bloodstained Shadow”, de AntonioBido, mas as semelhanças entre os filmes param por aí), um restaurador que vai até uma cidadezinha interiorana isolada, aonde tem como trabalho recuperar a pintura de São Sebastião (uma imagem curiosa em si: o santo amarrado e sendo esfaqueado por duas figuras femininas sinistras), num afresco da igreja local, feito por um pintor com um passado nebuloso e que teve um fim trágico. 


Mal chega e ele recebe ligações anônimas lhe ameaçando se caso realize seu trabalho, como se não bastasse isso ele encontra um velho amigo, Antonio (Giulio Pizzarini), que também pede para que ele aborte o serviço e caia fora dali. As coisas ficam mais intrigantes quando esse mesmo amigo acaba parecendo morto. Nosso detetive amador acaba, com sua investigação, adentrando dos segredos do pequeno vilarejo e nos levando a conhecer personagens peculiares como a idosa inválida (Pina Borione) que vive de suas reminiscências de uma viagem ao Rio de Janeiro. Tem ainda a bela e suspeita Francesca (Francesca Marciano) com quem Stefano acaba se relacionando, e o bebum da cidade, Coppola (Gianni Cavina), o único habitante que disposto a revelar os segredos sórdidos do lugar ao visitante. O resultado nos levará a um coquetel de religiosidade, sexualidade e transformismo,de forma que só os italianos poderiam fazer, claro que para chegar até aí alguns cadáveres tombaram pelo caminho.


Uma aviso é preciso ser feito para os incautos: se você é daqueles que gostam de um roteiro onde tudo é mastigadinho e do atual ritmo montanha-russa dos filmes atuais então eu recomendo que mantenha distância disso aqui. A narrativa é pausada e extremamente lenta o que com certeza poderá afugentar muitos espectadores. Por outro lado, aqui se valoriza aqui o clima, atingindo em alguns momentos um teor atmosférico ímpar. Para isso temos a bela trilha de autoria de Amadeo Tommasi, que pontua exemplarmente a ação, e a fotografia de Pasquale Rachini, que faz um belo paralelo entre cinema e pintura, que ajudam, e muito, no clima onírico pretendido. Como a cena de abertura: num tom monocromático vemos um homem sem camisa e amarrado sendo esfaqueado por duas mulheres com o rosto oculto semelhante à imagem da pintura que veremos mais tarde, acompanhado pela trilha sonora e uma ameaçadora gravação em off. 


Isso sem falar na própria casa que dá nome ao título da obra, e que aparece no clímax da trama. Uma construção curiosa que ainda mantém sua força visual. Essa obra dialoga com outros dois belos exemplares Gialli, anteriores a esse: o protagonista, artista, e o poder de ilusão do olhar me remeteram ao “Profondo Rosso” (1975) de Dario Argento, enquanto o vilarejo hipócrita, que esconde por trás de sua religiosidade arcaica perversões sexuais me fez recordar de “Non si Sevizia Un Paperino” (1972) de Lucio Fulci.

Lento e atmosférico. E com alguns momentos de pura poesia, “A Casa com Janelas Sorridentes” é obrigatório para admiradores não só do cinema fantástico europeu, como do cinema de gênero em geral.

0 comentários:

Postar um comentário