The Texas Chainsaw Massacre 2


Continuar um clássico deve ser um trabalho ingrato! A História do Cinema já provou o quanto é difícil um raio cair duas vezes no mesmo lugar, por mais que o original tenha determinado as regras do sucesso: Exorcista 2, Hellraiser 2, Psicose 2, A Hora do Pesadelo 2 e inúmeros outros podem servir de exemplo de produções extremamente inferiores ao primeiro filme. Ainda mais complicado deve ser continuar uma obra que você mesmo criou! Imagina o peso da responsabilidade de George A. Romero (em Despertar dos Mortos) ou Sam Raimi (com Evil Dead 2) quando decidiram fazer uma sequência de seus filmes clássicos! Se os resultados, em sua maioria, são inferiores, o que se pode dizer de Wes Craven e seu pavoroso Quadrilha de Sádicos 2, um longa que praticamente insulta o trabalho original, e Tobe Hooper, com o péssimo O Massacre da Serra Elétrica 2? 

Até então Hooper tinha um currículo regular, com longas eficientes e divertidos como Pague para Entrar, Reze para Sair, Poltergeist - O Fenômeno - embora este tenha tido a influência quase que completa de Steven Spielberg -, Força Sinistra e Invasores de Marte. Contudo, ele vinha de duas produções que fracassaram na bilheteria, o que o fez apostar as fichas na continuação de seu maior sucesso, O Massacre da Serra Elétrica, com o incentivo da produtora Cannon Films
Lançado em 1974, o longa original representou a fase final do movimento hippie - seja no visual colorido em oposição à imagem granulada e o clima sombrio ou na destruição do rótulo paz e amor -, ao apresentar uma viagem de carro de cinco amigos para visitar o túmulo do avô de Sally Hardesty (Marilyn Burns, na melhor interpretação de sua carreira) e seu irmão Franklin (Paul A. Partain). Uma carona a um psicopata e uma parada num matadouro são o prenúncio de um encontro com uma família de canibais e o confronto com uma figura monstruosa e insana que utiliza uma motosserra para destroçar suas vítimas. Ganchos, marretadas, peles e partes humanas servindo de adereços, e a conclusão do horror absoluto num jantar macabro dão o tom do cardápio assustador e violento de um cineasta ousado em um momento de inspiração plena.

Somado aos crimes de Charles Manson, em pauta no início da década de 70, e ao grotesco Aniversário Macabro, de Wes Craven, O Massacre da Serra Elétrica fez uma exposição azeda da humanidade, comprovando que os efeitos da guerra nuclear seriam capazes de criar monstros imensos, mas jamais se igualariam à raça humana. Um exemplo disso está na figura do maior antagonista e o primeiro ícone do gênero, Leatherface, materialização nas telas de um dos piores assassinos da história americana, Ed Gein. Ele não era conhecido pela quantidade de assassinatos cometidos, e, sim, pela forma como lidava com os restos mortais, utilizando-os como partes de seus móveis. Com um contexto assim, dá para entender porque o filme se enquadra facilmente na lista das melhores produções de horror de todos os tempos!

Treze anos se passaram. Na década de 80 o Texas afastaria a imagem ruim em produções menos agressivas ou completamente divertidas como a comédia Férias Frustradas. Tobe Hooper imaginou que poderia voltar às origens, atualizando o pesadelo para a nova fase do cinema conhecida como "terrir" ou "espantomania", com filmes com o título "A Hora..." e vilões irônicos. Um parênteses: apesar da tendência otimista, há cineastas como Clive Barker e Romero, que mantinham a atmosfera tétrica em seus trabalhos e continuações! Foi nesse cenário que Hooper resolveu rever a família de canibais, desenvolvendo o patético O Massacre da Serra Elétrica 2, a partir de um roteiro escrito por L.M. Kit Carson, que anteriormente havia feito o elogiado Paris, Texas, de Wim Wenders.

Carson e Hooper diziam que a base do original era o humor negro - sabe lá de onde tiraram isso! Assim, acreditavam que a continuação deveria acentuar esse humor e o gore, numa sátira aos excessos dos anos 80. Como bem definiu o crítico Roger Ebert, em sua análise para o Chicago Suntimes: A Parte 2 tem muito sangue e mutilação, com certeza, mas não tem o terror do original nem o desejo de ser levado a sério. Ainda que não tenha a mesma seriedade, o longa sofreu com a censura, sendo banido em diversos países como Alemanha e Cingapura; até mesmo a Austrália não achou graça e só conseguiu lançar a continuação no mercado alternativo de VHS na época, e, em DVD, em novembro de 2006. Tudo isso se deve ao talento de Tom Savini, com seus efeitos de maquiagem impressionantes, e não ao argumento ou direção.
1986. Após os eventos do primeiro filme, dois rapazes cruzam a estrada deserta do Texas atirando contra placas de sinalização e outdoors. Eles são Buzz e Rick, dois idiotas que pretendem curtir um final de semana em Dallas. Sob o efeito de drogas, a dupla espanta um caipira da estrada e resolve passar um trote para a radialista  Vanita Stretch Brock (Caroline Williams, de Halloween 2, 2009). Mantendo o telefonema ativo, no caminho, eles são fechados por uma picape, enquanto atravessavam uma ponte remota. O veículo emparelha com o carro dos jovens e passa a acompanhá-los em marcha ré por toda a sua extensão - longa, por sinal - até que surge de sua traseira um cadáver, segurado por ninguém menos do que Leatherface (Bill Johnson, de Future-Kill). Rick tenta acertá-lo com sua arma de fogo, mas não atinge o alvo, enquanto Leatherface ataca o carro com sua motosserra, partindo a cabeça de Buzz. O veículo bate.

No dia seguinte, o tenente Lefty Enright (Dennis Hopper de Terra dos Mortos), tio de Sally e Franklin, chega ao local do acidente. Ele está investigando os crimes da família canibal há 13 anos, incluindo o desaparecimento de seus sobrinhos, esbarrando em questões judiciais e nas lendas criadas sobre Leatherface. Lefty pretende escrever um artigo sobre o caso nos jornais, algo que interessa a radialista Stretch, que leva a ele a fita com o áudio da gravação do assassinato de Buzz e Rick. Ele a convence a tocá-la a cada uma hora em sua rádio para que o público fique sabendo do que acontece por lá, embora, na verdade, queira apenas fazer dela uma isca, provocando a família canibal.
Durante o programa, Stretch recebe a visita de Chop Top (Bill Moseley, de Halloween - O Início), irmão do caronista do primeiro filme e que estaria no Vietnã na época em que Sally enfrentou Leatherface. Um pouco de horror psicológico do visitante até a chegada de Leatherface para atacá-la com sua motosserra. Até o momento, o filme caminha bem: não mantém o clima do original, mas tem um enredo curioso sobre os prováveis conflitos. Eis que a qualidade descamba quando o assassino que veste peles humanas se apaixona pela radialista, fazendo momentos sexuais com sua arma e cutucando-a entre as pernas. O colega de trabalho de Stretch, L.G. McPeters (Lou Perryman, de Meninos não Choram, falecido em 2009), surge no local, sendo atacado violentamente com golpes na cabeça. Leatherface mente que matou a radialista, e a dupla vai embora levando o corpo de L.G..

Se antes a família evitava largar suas vítimas para evitar que a polícia investigasse os crimes, na continuação, além de Rick e Buzz, a radialista é deixada para trás por ser magra (!!!). Ou seja, se a intenção era a discrição, como evitariam qualquer polêmica ao supostamente assassinarem a DJ depois que ela resolveu provocá-los? Com certeza, uma grande investigação iria ocorrer e os ideais de Lefty seriam comprovados! Dá para perceber o quanto o roteiro possui grandes falhas, tornando-se pior na segunda metade, com a apresentação dos insanos membros da família e palhaçada assumindo de vez a produção.

Stretch decide segui-los, sem saber que Lefty também faz o mesmo. Chegam a um circo, com a exibição de corpos como parte da atração (!!!), onde a radialista cairá em uma armadilha e será mais uma vez salva por Leatherface, ao passo que Lefty resolverá destruir o ambiente, principalmente ao se deparar com um cadáver numa cadeira de rodas, acreditando ser Franklin. Além de Leatherface e Chop Top, a família ainda é composta pelo cozinheiro Drayton Sawyer (Jim Siedow, reprisando o papel) e o vovô mumificado. E ainda resta espaço para a aparição da vovó, num altar ao estilo Sexta-Feira 13 - Parte 2!
Mesmo sem parte da pele e exposição da carne em algumas partes do corpo, além dos ferimentos na cabeça, L.G. ainda está vivo! Ele ajuda Stretch a se soltar antes do suspiro final, quando a radialista resolve assumir que o amava. Leatherface, vulgo Bubba, terá mais um momento romântico com a moça, colocando nela a pele do rosto de L.G. e iniciando uma valsa macabra. Lefty depois encontrará o assassino numa luta mortal de motosserras; e Stretch terá que encarar Chop Top pelas cavernas do circo. Discursos moralistas, frases de efeito, jantar com cadáveres, dança com a motosserra...compõem O Massacre da Serra Elétrica 2, numa versão piorada do filme original.

Numa primeira conferida, o filme de Tobe Hooper pode até garantir alguma diversão. No entanto, a avaliação vai piorando a cada nova tentativa, quando detalhes toscos surgem à tona - incluindo a postura irregular de Leatherface - e o roteiro apresenta seus problemas. Por um bom tempo, acreditei que o diretor tivesse feito um trabalho mal feito em resposta à pressão da Cannon, até ler algumas entrevistas em que ele elogia a própria postura e exibe sua criação com orgulho. E não é o único: por incrível que pareça O Massacre da Serra Elétrica 2 é considerado por muitas pessoas como superior ao original, alcançando o status de cult. 

Para falar a verdade, prefiro mil vezes a terceira, a quarta parte e até o remake e sua continuação do que O Massacre da Serra Elétrica 2. Os olhos arregalados de Matthew McConaughey e a mordida do lábio de Renée Zellweger, em O Massacre da Serra Elétrica 4 - O Retorno, são muito mais interessantes do que esta continuação engraçadinha. Aliás, se há uma palavra que possa resumir o segundo filme é palhaçada. Talvez seja por esse motivo que tenham escolhido o circo como palco dos horrores da família Sawyer.

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