Il tuo vizio è una stanza chiusa e solo io ne ho la chiave - 1972


O primeiro miado italiano de um gato preto baseado no texto genial de Edgar Allan Poe foi ouvido em 1972. Sob o comando de Sergio Martino, antes dele pisar na "Montanha dos Canibais" e visitar a "Ilha dos Homens-Peixe", Il tuo vizio è una stanza chiusa e solo io ne ho la chiave é seu maior título, ainda que não seja seu melhor trabalho. O nome original é uma referência ao primeiro giallo do diretor, "O Estranho Vício da Senhora Ward" - depois viriam mais dois até esta homenagem ao conto mais famoso de Poe. 

Embora seja conhecido por aqui como "No Quarto Escuro de Satã", a obra é também lembrada por inúmeros títulos como Gently Before She Dies, Eye of the Black Cat e Excite Me!. Este último, estilo "exploitation", deve-se ao tom da produção, repleta de erotismo e cenas de sexo gratuitas presentes em alguns trabalhos de Martino. Poderia se enquadrar numa tragédia familiar se o sangue vermelho e gosmento não tivesse ali, além das luvas pretas e lâminas reluzentes. Martino deu vida à uma trama de vingança, sedução e morte, com diversas reviravoltas e lugares-comuns, além de um gato preto chamado Satã.
O escritor falido Oliviero Rouvigny (Luigi Pistilli, de "A Mansão da Morte", de Bava) é um tremendo filho-da-puta (peço desculpas pelo termo chulo, mas não encontrei um meio melhor de defini-lo com precisão). Mora numa mansão sinistra com sua sofredora esposa Irina (Anita Strindberg, de "A Cauda do Escorpião") e a empregada. Logo na cena inicial, durante uma festa promovida aos hippies de um acampamento local - com uma cena de nudez belíssima de Dalila Di Lazzaro (de "Phenomena", da Dario Argento) - ele humilha a mulher e a empregada, e ainda força o sexo com ambas. 

Mais tarde, um passeio à livraria, a atendente deixa evidente um caso entre os dois, desde um flerte na época em que ela era apenas uma aluna de Oliviero. Pouco depois, no local do encontro, ela é assassina por uma figura misteriosa, usando roupas negras e uma lâmina curvada. Acusado pelo assassinato, Oliviero pede a ajuda da esposa para contornar as suspeitas do Inspetor (Franco Nebbia), e ela demonstra novamente sua fragilidade e subordinação ao marido safado. A situação torna-se mais drástica quando chega ao local a sobrinha de Oliviero, a sedutora Floriana (Edwige Fenech, de "O Albergue 2"), que resolve transar com todo mundo e jogar para todos os lados, sem definir sua posição. 
Observando todas as ações como um espectador misterioso, o gato Satã tem a admiração do marido e, consequentemente, a raiva de Irina. Num dos dois momentos "Poe" do filme, ela ataca o animal com uma tesoura e arranca seu olho esquerdo. Quem lembra do texto original, verá similaridade desse acontecimento com o gato Pluto, vítima de seu dono. O felino do conto sofre mais do que Satã, embora a versão de Martino o coloque em destaque por diversas vezes. Ele acompanha as intrigas da família, observando e julgando os atos com seu olhar amarelado, somente aguardando o momento de revelar os corpos. 

No Quarto Escuro de Satã tem os méritos de uma livre adaptação de um texto clássico de Edgar Allan Poe, além da boa atuação de Luigi Pistilli. Peca pela falta de originalidade e ousadia nas mortes, na narrativa lenta, amarrada pelas cenas de sexo gratuitas. Numa delas, a mais absurda que se pode imaginar, Floriana resolve transar com o entregador numa condição extremamente artificial: sem beijá-la uma vez sequer, ele pede que ela tire toda a roupa e improvisa uma cama. O sexo rola como se estivessem fazendo um trabalho em conjunto, sem afeto algum. Tão ato não se justifica pela afeição sentida por ambos, incluindo uma proposta de fuga.

Um bom giallo, mas sem o suspense e o mistério das boas produções do período.

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