Os inimigos de Roma

 Esse artigo foi publicado originalmente no fanzine “Juvenatrix” # 65 (Agosto/2002)

“Não foram externas as causas da derrocada do Império Romano. De há muito o Império não era o mesmo, quando se fragmentou, não foi subitamente, no embate com força poderosa. A invasão dos bárbaros nada fez senão explicitar um longo processo.” – Max Weber – do declínio da cultura antiga

Quando o cinema foi inventado, uma das grandes preocupações dos produtores e diretores de filmes era em resgatar todos os aspectos das culturas antigas em seus épicos. A grande arte ficava assim comprometida em reproduzir em imagens com movimento todas as façanhas do mundo antigo. Quem teve oportunidade de ter assistido o clássico “No Tempo dos Faraós” poderá concordar com minha afirmação. Quanto a mim, recordo-me vagamente do filme por já fazer mais de 20 anos de sua projeção na TV, pelo menos foi a última vez que assisti. O filme mostrava o Império do Egito e a construção de uma grande pirâmide para guardar futuramente a múmia do faraó.

No final do filme, com o sepultamento do faraó, enormes blocos de pedra deslizavam-se por túneis inclinados rompendo vários vasos de cerâmica que uma vez quebrados abriam compartimentos por onde se escoava areia fina do deserto para definitivamente lacrar a pirâmide junto com os que haviam sepultado o faraó, com todos os seus bens e tesouros.

O filme resgatou todos os detalhes que dedicados arqueólogos e historiadores haviam pesquisados sobre o Egito Antigo, afinal todos os bons filmes épicos que tem as suas temáticas voltadas para civilizações antigas precisam impreterivelmente contratar de imediato bons historiadores e arqueólogos capazes de reconstruir através de seus aprofundados estudos, as bases para um bom filme antigo!

O cinema produziu uma enorme quantidade de épicos a saber: “Júlio César”, “Os Dez Mandamentos”, “Sansão e Dalila”, “Davi e Golias”, “O Rei dos Reis”, “Quo-Vadis”, “A Queda do Império Romano”, “Barrabás”, “Ben Hur”, “Demétrio e os Gladiadores”, “Espartácus”, “O Egípcio”, e tantos outros que preencheriam inúmeras folhas descrevendo somente nomes de filmes. Assistindo a uma quantidade significativa destes filmes por várias vezes, pude então identificar minuciosamente todos os inimigos de Roma Antiga.

Por incrível que pareça, muitos dos inimigos não fazem parte daquele contingente antigo de rancorosos conspiradores, mas sim alguns dos próprios produtores dos filmes!

Sempre adorei os filmes de Hollywood, mas somente de uns tempos para cá é que pude fazer minhas comparações e estudos sobre a influência da mídia cinema e TV na mente das pessoas. Todos os filmes sobre Roma Antiga ou pelo menos alguns produzidos por Hollywood, tinham a intenção proposital de mostrar os romanos sempre como cruéis carrascos e criminosos brutais e violentos. Parece e isso é muito visível que os produtores tomaram o partido de difamar ainda mais o Império Romano e ficar do lado dos cristãos e judeus rancorosos.

Não posso negar a espetacular produção destes filmes que adoro fanaticamente, porém é este o único ponto em que estes produtores “pecaram”, em exagerar as cenas, transformando judeus e cristãos em vítimas dramáticas.

É típico da civilização cristã desprezar com veemência desde a história primitiva dos homens até sua evolução e construção de grandes civilizações, é típico e comum olhar Roma com rancor, inveja, indiferença, com ódio, com um orgulho típico de quem não quer admitir jamais a grandeza do Helenismo!

Foi exatamente neste período extremo da humanidade que houve uma desmedida inversão de valores. Apollo, divindade soberba de luz, beleza, equilíbrio, liberdade, limpidez, artes, perfeição humana, graça, vigor, foi substituído por uma típica cena de derrota individual muito comum em Roma pagã. A crucificação! Um pregador típico, surrado, escarnecido, condenado ao flagelo e martírio da cruz, passou a ser o Deus mais venerado no lugar do elegante Apollo Helênico!!!
No filme “Quo-Vadis”, que aprecio fanaticamente, encontrei um ponto forçoso na sua projeção, e foi um amigo que comentou a respeito. José Salles observou uma cena onde Marcus Vinícius, que era um general de tropas romanas vitoriosas, quando este que, antes era um bom romano pagão, passa a pedir para “Jesus” salvar e dar forças aos cristãos que estão sendo penalizados no Coliseu!   

Também a imagem do Imperador Nero ficou comprometida, mostrando um Nero doente, débil, crudelíssimo, repetindo assim o erro histórico fruto da vitória do cristianismo apenas.
A produção da maioria destes filmes era impecável, o cenário perfeito, reproduzindo minuciosamente templos romanos, palácios luxuosos, jardins fenomenais com fontes, estátuas e plantas exóticas, dançarinas muito sensuais e belas, bigas velozes, mas bastava colocar na boca de um personagem cristão uma só palavra contrária que tudo aquilo “sumia” imediatamente. Somente a moral cristã prevalecia nestes filmes!

O ideal pagão ficou muito comprometido em algumas películas de Hollywood. Isto não ocorreu com as produções italianas de épicos, e bastaria fazer os comparativos, vide “Hércules, o Conquistador”, “Sansão e o Tesouro do Rei”, “A Ira de Aquiles”, “O Colosso de Roma”, entre outros, que pelo contrário, buscaram resgatar e valorizar a cultura pagã antiga há muito perdida.
Estes pequenos detalhes passam despercebidos pela maioria dos espectadores e eu não sou um crítico de cinema para ficar apontando eventuais erros de produção, mas se a minha opinião valesse, com certeza eu iria em poucas palavras denunciar a corrupção do cristianismo dentro da cultura antiga, que foi a mais nobre de toda a humanidade e não aquela feita por brutais e desumanos carrascos como muitos filmes tentaram mostrar.

Os inimigos de Roma ainda são muitos, mas para estes, existia uma lei na antiga Roma que fazia qualquer conspirador ladrão, assassino, criminoso, rancoroso, cristão, zelota, invejoso, rebelde, descontente, os por se assim dizer “comunistas da época” tremerem para valer, o martírio da crucificação ou comida para leões...

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