De
uma maneira geral, a franquia “Grito de Horror” costuma ser bastante
lembrada pelos fãs de filmes de terror tanto pela sua extensão (sete
obras produzidas entre 1981 e 1997) quanto pela sua irregularidade.
Depois do brilhante filme original dirigido pelo cultuado Joe Dante
vieram várias sequências cujo nível de qualidade varia de razoável para
péssimo. As partes II e III, em especial, estão entre os piores filmes
que já tive o desprazer de assistir em toda minha vida. Tão ruins que
sujaram o nome da série para sempre, de tal forma que, mesmo tendo sido
produzidas nos anos seguintes algumas sequências de qualidade superior,
ainda assim foram recebidas com frieza ou desprezo por parte do público e
principalmente da crítica, resultando sempre em fracassos de
arrecadação.Este “Grito de Horror IV – Um Arrepio na Noite” (The Howling IV), lançado em 1988, se constitui em uma tentativa por parte dos produtores de reerguer a franquia depois do fiasco monumental dos dois filmes anteriores, e vejam só, a alternativa encontrada para isso foi elaborar uma obra que praticamente reinicia a série partindo da mesma premissa do filme original, estratégia bastante difundida atualmente para tentar trazer de volta velhas séries decadentes. Em outras palavras: este filme é praticamente um remake do primeiro “Grito de Horror”, cuja idéia básica foi retirada do livro “The Howling”, de autoria do norte-americano Gary Brandner. Ainda não tive oportunidade de ler o livro, até em virtude do fato dele nunca ter sido publicado no Brasil, mas o que se comenta é que “Grito de Horror IV – Um arrepio na noite” é mais fiel a obra literária em vários aspectos que foram deixados de lado no filme original por Joe Dante, principalmente no que se refere as questões ligadas a religiosidade.
Dirigido por John Hough (do perturbador “Incubus”) e roteirizado por Freddie Rowe (que posteriormente escreveria também o roteiro de “Grito de Horror V – O Renascimento”) o enredo deste quarto filme inicia nos apresentado Marie (Romy Windsor), uma famosa escritora de romances que sofre um verdadeiro surto psicótico depois de ser atormentada por sucessivas alucinações envolvendo a imagem de uma freira misteriosa. Seguindo orientações médicas, Richard (Michael T. Weiss), o marido da escritora, decide alugar uma cabana em uma floresta próxima a uma cidadezinha isolada e cujos habitantes se mostram estranhos e misteriosos. O objetivo do casal era passar alguns dias sossegados em contato com a natureza aparentemente bucólica da região, mas tudo começa a se complicar quando Marie afirma ouvir sinistros uivos vindos da mata durante praticamente todas as noites. Além disso, aparece na área uma ex-freira chamada Janice (Susanne Severeid) investigando a morte de uma companheira de congregação ocorrida no local. Logo Marie e Janice descobrem que a freira morta é a mesma das alucinações da escritora, o que as leva a crer que, de fato, algo muito estranho ocorre por aquelas bandas. Para deixar as coisas ainda mais complicadas, Richard se envolve com uma mulher esquisita que é dona de um antiquário e, em uma noite em que os dois se encontram na floresta, o canastrão é mordido por um misterioso animal, o que faz com que, a partir de então, ele vá se tornando progressivamente mais estranho e agressivo. Logicamente, por trás de todos esses mistérios e acontecimentos insólitos está uma verdadeira alcatéia de lobisomens que vive disfarçadamente na região. Até aqui, nenhuma grande novidade em relação ao enredo do filme de Joe Dante. O que muda são os elementos secundários, pois a idéia básica é exatamente a mesma.
Mas, infelizmente, apesar das similaridades do roteiro, o filme de Hough é muito inferior ao clássico que originou a franquia. O elenco deste “Grito de Horror IV – Um Arrepio na Noite” é péssimo, com atores que atuam o tempo todo de forma inexpressiva. Também não ajuda em nada o fato dos diálogos serem bobos e forçados em sua maioria, e o próprio diretor demonstra incapacidade para tornar a coisa mais natural, uma vez que insiste em dar closes nos personagens que estão falando, em um recurso que muitas vezes nos passa a impressão de estarmos assistindo a uma novela bagaceira e não a um filme de terror. Além disso, a obra é conduzida em um ritmo lento, arrastado e que provoca um marasmo que aborrece e irrita. Durante os primeiros 70 minutos, pouquíssima coisa acontece de fato e os raros ataques dos lobisomens são mostrados de maneira rápida e indireta, sem absolutamente nada que mereça ser destacado. Apenas nos 20 minutos finais é que o filme realmente engrena e aí tudo acontece de forma verdadeiramente empolgante, o que nos leva a pensar que o filme poderia ser muito melhor se o diretor Hough tivesse se preocupado em tornar a sua obra um pouco mais dinâmica, conferindo-lhe maior regularidade ao invés de concentrar todos os elementos de destaque na conclusão da história.
Quando os lobisomens finalmente entram em cena, aquilo que vemos é tão bom que quase salva o filme. A criação dos monstros ficou a cargo de uma equipe comandada pelo conceituado Steve Johnson, responsável pelos efeitos de obras como “A Volta dos Mortos-Vivos III” e “A Hora do Pesadelo IV”, além de ter concebido aquele que, na minha opinião, é o mais bem elaborado e convincente lobisomem já apresentado em uma produção do gênero: o do filme “Lua Negra”. Para quem não lembra, Johnson foi assistente de Rick Backer na produção dos efeitos especiais de “Um Lobisomem Americano em Londres”, experiência que certamente contribuiu para que ele se tornasse um especialista na elaboração do visual de criaturas licantrópicas.
Um dos elementos mais interessantes deste filme é o fato de que, assim como no original, os lobisomens têm pleno controle sobre a transformação, podendo metamorfosear-se em sua forma monstruosa ou retroceder para a condição humana conforme bem entenderem. Isso faz com que, nos momentos em que realmente aparecem pra valer, os licantropos se apresentem sob as mais variadas formas: semi-transformados, apenas com garras afiadas e presas pontiagudas sobre uma aparência predominantemente humana, em forma híbrida, onde permanecem bípedes, mas com o corpo completamente coberto por uma densa camada de pelos e predominância de traços lupinos e monstruosos, ou ainda completamente convertidos em lobos, embora de proporções avantajadas e olhos vermelhos e demoníacos.
Ainda dando destaque para os efeitos especiais, é interessante mencionar a única e longa cena explícita de transformação, que acontece de forma bastante original, onde o corpo de determinado personagem - por estar se transformando pela primeira vez - começa a se decompor de forma grotesca e dolorosa, com sua pele, músculos e ossos se liquefazendo em uma poça de sangue e gosma, para depois se reestruturar e emergir com sua anatomia já convertida em algo horrendo e monstruoso. Muitos anos depois, essa idéia foi reaproveitada de forma similar em uma cena de metamorfose do filme “Romasanta – A Casa da Besta”.
Também considero empolgante e macabra a batalha final travada dentro de uma igreja, onde são ressaltados os aspectos religiosos e satânicos que permeiam toda a investigação proposta ao longo do filme. Além disso, para uma obra que foi desenvolvida de forma convencional e até monótona durante a maior parte de sua duração, o final até que se mostra corajoso e ousado em certa medida, uma vez que não poupa personagens centrais de um destino trágico. A “surpresa final” que fecha o filme também fez com que ele ganhasse alguns pontos a mais na minha avaliação, uma vez que pressupõe uma perspectiva pessimista, que foge da obviedade.
De uma maneira geral, fica até difícil proferir um parecer conclusivo sobre o filme, justamente pelo fato dele ter dois atos bastante distintos: um longo, maçante e desanimador e outro empolgante e divertido, porém curto. Se você tiver paciência para agüentar 70 minutos de conversa fiada e desenvolvimento sonolento, é bem possível que se surpreenda com os últimos 20 minutos onde finalmente aparece aquilo se espera ver em um filme desse tipo: lobisomens. Mas se você já sabe que a moral da história é a mesma do primeiro filme (embora desenvolvida de forma muito menos interessante) e não anda com muita paciência, então talvez a solução seja apelar para o controle remoto e pular diretamente para o clímax da obra e curtir alguns bons momentos de tensão, gore e monstros desenvolvidos com ótimos efeitos de maquiagem, bem superiores ao CGI utilizado na maioria das produções atuais.
“Grito de Horror IV – Um Arrepio na Noite”, foi lançado em DVD no Brasil no ano de 2008 pela LW Editora em uma edição que traz também no mesmo disco o filme anterior da franquia, o péssimo “Grito de Horror III – A Nova Raça”, e pode ser encontrado em balaios de lojas de artigos do gênero ou mesmo na internet por preço popular.





































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