Frankenstein Meets the Wolfman - 1943


 
Em 1943, a popularidade do Monstro de Frankenstein - personagem de maior êxito comercial dos filmes de horror da Universal - parecia estar em baixa. Apesar do redundante sucesso e das grandes bilheterias obtidas por filmes como “Frankenstein” de 1931 e “A Noiva de Frankenstein” de 1935, os dois filmes seguintes, “O Filho de Frankenstein” de 1939 e “O Fantasma de Frankenstein” de 1942 não obtiveram boa resposta, nem por parte do público e nem por parte da crítica, o que levava a crer que a fórmula adotada na saga da infeliz criatura já estava saturada.
 
Porém, se o monstro sozinho já não fazia mais o sucesso de outrora, algum executivo da Universal deve ter imaginado que, acompanhado de outro personagem clássico, talvez a criatura de Frankenstein retomasse os seus melhores índices de popularidade, o que de certa forma acabou se concretizando. Para protagonizar a nova produção ao lado do personagem criado por Mary Shelley, a Universal decidiu apostar no Lobisomem, sua mais recente criação, e cujo filme original, de 1941, havia sido a melhor bilheteria obtida pelo estúdio naquela década que se iniciava.
 
Para elaborar aquele que viria a ser o primeiro crossover dos filmes de horror, a Universal decidiu recrutar boa parte dos profissionais que trabalharam em “O Lobisomem”, deixando o enredo que colocaria lado a lado dois monstros sagrados do horror a cargo do renomado roteirista Curt Siodmak, responsável também pelo inventivo e elogiado roteiro do filme de 1941. Boa parte do elenco de astros que atuou naquele filme foi reunido novamente, com a participação de Maria Ouspenskaya, Patric Knowles, Bela Lugosi, no papel do Monstro de Frankenstein e Lon Chaney Jr como Larry Talbot, o Lobisomem. O experiente George Waggner, que produziu e dirigiu “O Lobisomem” volta na função de produtor, deixando a direção nas mãos do competente Roy William Niell, e a caracterização dos monstros ficou novamente a cargo do genial maquiador Jack Pierce. Com uma equipe de profissionais desse nível, o resultado de “Frankenstein encontra o Lobisomem” não poderia ser outro além do sucesso.
 
Provavelmente em virtude de o roteiro ter sido escrito por Siodmak, responsável pela criação de todo o universo ficcional de “O Lobisomem”, o crossover acaba se concentrando quase que em sua totalidade no personagem de Larry Talbot, relegando ao Monstro de Frankenstein o papel de mero coadjuvante, algo que viria a se repetir também nas produções posteriores.
 
O filme já começa com uma belíssima visão panorâmica de um lúgubre e sinistro cemitério, envolto pelas sombras em um vale desolado de árvores decrépitas, em um esplendido trabalho de cenografia, marca registrada das produções da Universal desse período. Então vemos dois homens se esgueirarem pelo local até invadirem a cripta destinada aos mortos da família Talbot. Logo ficamos sabendo se tratar de uma dupla de ladrões de sepulturas, cujo objetivo é violar o caixão de Larry Talbot (Lon Chaney Jr) para se apossar das jóias e do dinheiro que supostamente haveriam sido sepultadas com ele. Quando o caixão de Talbot é aberto, os dois sujeitos se surpreendem ao ver que o corpo se encontra intacto, apesar de já ter sido sepultado há três anos. Também causa espanto o fato de o cadáver estar coberto por uma grande quantidade de flores de acônito, cujo nome popular é “mata-lobos”, e que de acordo com as lendas européias tem o poder de neutralizar a maldição do lobisomem, da mesma forma que ocorre com o alho em relação à mitologia dos vampiros.
 
Cada vez mais assustados, os ladrões decidem se apossar das jóias de Talbot e sair daquele sinistro local o mais rapidamente possível. Porém, quando a luz da lua cheia ilumina o interior da cripta através de uma pequena janela, o corpo de Talbot revive e agarra o pulso de um dos marginais. Apavorado, seu companheiro foge em disparada enquanto ouve os gritos e urros vindos da cripta à suas costas.
 
A ação corta para algumas horas depois, no vilarejo de Cardiff, onde um policial encontra o corpo de um homem desconhecido desmaiado na rua, com um grande ferimento na cabeça. Um novo corte nos leva ao dia seguinte, onde o Dr Frank Mannering (Patric Knowles) e o Inspetor Owen (Dennis Hoey) interrogam o desconhecido no hospital para onde ele foi levado pelo policial que o encontrou. Bastante confuso e atordoado, o desconhecido diz apenas se chamar Larry Talbot e que é natural do vilarejo de Llanwelly, mas que não se lembra como foi parar até ali e nem de que forma machucou a cabeça. Desconfiado, o Inspetor Owen liga para a Polícia de Llanwelly para obter informações sobre Talbot, sendo então informado de que ele morreu três anos antes. Na mesma noite, Talbot se transforma em lobisomem e ataca um policial na rua.
 
No dia seguinte, o próprio Talbot toma a iniciativa de dizer ao Dr Mannering e ao Inspetor Owen que se transformou em um monstro e cometeu um assassinato. O médico acredita que Talbot é simplesmente um doente mental e ordena que o prendam em uma camisa-de-força. O Inspetor, por sua vez, desconfia que o homem é um impostor, e decide ir até a aldeia de Llanwelly para obter informações sobre a família Talbot.
 
Ao chegar na aldeia vizinha, o Inspetor é informado que Larry Talbot foi morto por seu próprio pai, que pensava estar agredindo um lobo que vinha aterrorizando as redondezas. Ao visitar a cripta da família Talbot, o Inspetor Owen e seus companheiros encontram o cadáver do ladrão de sepulturas, mas percebem que o corpo de Larry Talbot desapareceu de seu caixão. Intrigado, o Dr Mannering, que acompanhava o Inspetor, decide ligar para o hospital onde seu paciente estava preso, e descobre que ele fugira durante a noite, depois de, aparentemente, ter rasgado a camisa-de-força com os dentes.
 
Novamente a ação do filme pula para vários dias depois, onde Larry Talbot acaba encontrando a cigana Maleva (Maria Ouspenskaya) que era mãe de Bela, o lobisomem que o mordeu e lhe transmitiu a maldição no filme anterior. Talbot pede ajuda para a velha, dizendo que se não for possível cura-lo da maldição, que pelo menos ela lhe mostre uma forma de morrer, para que assim ele pudesse ter paz. Comovida, a cigana diz que nada pode fazer pelo pobre infeliz, mas que tem conhecimento da existência de um genial cientista chamado Frankenstein que talvez possa lhe ajudar. Assim, Talbot e Maleva partem para uma longa viagem até a Vasaria, onde esperam encontrar o Dr Frankenstein.
 
Depois de vários dias em uma árdua viagem, a dupla chega ao vilarejo incrustado no alto das montanhas. Porém, para a sua infelicidade, acabam descobrindo que tanto o Dr Frankenstein quanto o seu monstro morreram quando a população local ateou fogo em seu castelo. Para piorar ainda mais as coisas, naquela noite a lua cheia surge e Talbot se transforma em lobisomem, matando uma habitante da aldeia.
 
Revoltados, os moradores partem ao encalço do monstro, perseguindo-o até o alto da colina onde estão as ruínas do castelo do Dr Frankenstein. Na ânsia de fugir, o lobisomem acaba caindo nos porões do antigo castelo, e dali vai parar nas catacumbas existentes nos seus subterrâneos. Ao acordar no dia seguinte, novamente em sua forma humana, Talbot acaba encontrando o Monstro de Frankenstein congelado no interior das catacumbas, e decide libertá-lo. A sua intenção era fazer com que a criatura lhe mostrasse onde o Dr Frankenstein guardava seus livros e suas anotações, na esperança de que em meio ao material do cientista pudesse haver algo que o ajudasse a se livrar de seu tormento. Infelizmente, as coisas mais uma vez não ocorrem como Talbot queria, e agora ele precisa procurar outra alternativa para tentar solucionar o problema que tanto o aflige, ao mesmo tempo em que precisará também encarar o Dr Mannering, que estava seguindo-o desde Cardiff. Como se não bastasse, o Monstro de Frankenstein invade a aldeia em uma noite de festa, espalhando o pânico entre a população e levando os moradores a se reunir na tentativa de destruir a perigosa criatura. Em meio a esse contexto, as situações se desenrolam de tal forma que um confronto mortal entre o Lobisomem e o Monstro de Frankenstein se tornará assustadoramente inevitável.
 
Com esse enredo simples, mas ao mesmo tempo bem consistente e com uma intrincada gama de ricos personagens, “Frankenstein encontra o Lobisomem” se constitui em um dos melhores filmes do período, e certamente é o exemplar que melhor desenvolve o personagem do Lobisomem/Talbot, sendo, ao meu ver, até superior ao filme original, cujo roteiro se preocupou bastante em montar uma mitologia e um universo ficcional para o personagem e acabou apresentando pouca ação ou momentos mais densos. Felizmente, isso é corrigido nesta seqüência, onde podemos ver o Lobisomem em plena atividade. Além disso, os efeitos especiais evoluíram bastante em relação ao filme original, apresentando transformações melhor elaboradas e um visual do Lobisomem mais animalesco, e de certa forma mais convincente. A maquiagem de Bela Lugosi como o Monstro de Frankenstein ficou igualmente impressionante e até mesmo assustadora, embora não supere a medonha e inesquecível caracterização imortalizada por Boris Karloff.
 
Outro ponto positivo do filme é a atuação de Chaney Jr, que agora parece mais à vontade no papel que lhe conferiu o estrelato, atuando de forma mais espontânea, o que confere mais dramaticidade e credibilidade ao seu personagem. Maria Ouspenskaya também é um show à parte interpretando a cigana Maleva. A impressão que temos é que realmente poderíamos encontrá-la em um acampamento cigano à beira de uma rodovia qualquer, lendo a mão de viajantes ou vendendo artesanatos. Quanto a atuação de Lugosi, não há muito que comentar, uma vez que o seu personagem além de caricato aparece pouco em cena, mas nos momentos que o faz não deixa de causar o devido impacto.
 
Além do início, no cemitério, que impressiona pelo macabro trabalho cenográfico e pela envolvente aura de mistério, o filme ainda trás ótimas cenas, como no momento em que o Lobisomem está sendo perseguido através das montanhas pelos aldeões, o confronto final entre os monstros nas ruínas do castelo do Dr Frankenstein e o momento em que Larry Talbot se transforma em Lobisomem no hospital. Essa transformação, em especial, chega a ser mencionada por Rick Baker no documentário “Monster by Moonlight” como um dos mais marcantes trabalhos de efeitos especiais daquele período.
 
Mas além da ação e do suspense, o filme ainda trás bem dosadas cenas de humor negro, que apesar de discretas, servem para dar um contraponto cômico a certas passagens da história, como os ríspidos diálogos entre o Prefeito de Vasaria e o enxerido taberneiro local, a parte em que um cantor folclórico passa a perturbar Talbot com suas musiquinhas irritantes, e principalmente o momento em que o Monstro de Frankenstein passa a arremessar barris sobre os habitantes de Vasaria depois de invadir (e destruir) a festa que estes promoviam.
 
Em razão de todos esses aspectos, “Frankenstein encontra o Lobisomem” é um filme indispensável para os apreciadores do inesquecível ciclo de filmes de horror em preto-e-branco da Universal, pois se constitui em um dos mais belos trabalhos elaborados pelo estúdio naquele período. Da mesma forma, é simplesmente obrigatório para todo fã de filmes de lobisomem que queira conhecer um pouco mais sobre a fascinante trajetória do maior ícone licantropo de todos os tempos.

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