Iniciando
a série de textos que possui a proposta de analisar todos os filmes de
lobisomem estrelados por Paul Naschy (pseudônimo inglês do espanhol
Jacinto Molina), nada melhor do que um olhar sobre a mais famosa das
obras protagonizadas pelo licantropo Waldemar Daninsky, cujo título
original em espanhol é “La Noche de Walpurgis” (1971) e que foi exibido
nos cinemas norte-americanos como o nome de “Werewolf vs. the Vampire
Women”, mas posteriormente foi lançado em VHS e DVD com pelo menos mais
duas ou três denominações diferentes. O porquê de tanta troca de títulos
é algo que não sei explicar, mas, para fins de organização, vamos
adotar neste artigo o nome “A Noite do Walpurgis”, pois é assim que se
chama a versão lançada em DVD nacional pela “Revista Digital Showtime
Clássicos” na antologia “Lobisomens, Vampiros e Zumbis – Volume 1”.
Aliás, este é o único filme do cultuado artista espanhol já lançado no
Brasil, e vale destacar que a versão disponibilizada em nosso país
possui qualidade de som e imagem ruins, além de possuir vários cortes
nas cenas de nudez, sexo e violência explícita. Para quem quiser ver o
filme na íntegra, com excelente qualidade de áudio e vídeo, recomendo a
versão lançada recentemente em DVD nos EUA com o título de “Werewolf
Shadow”.
Dirigido pelo argentino León Klimovsky, que também trabalhou com Naschy
em outro filme da série, chamado “Dr Jekill and The Werewolf”, e foi o
responsável pela direção do conhecido “A orgia noturna dos vampiros”,
este “A Noite do Walpurgis” conta com roteiro de Hans Munkel e do
próprio Paul Naschy, que em algumas versões do filme aparece nos
créditos de roteirista com seu nome verdadeiro, Jacinto Molina.
Naschy (ou Molina, como preferirem) foi o roteirista de praticamente todos os filmes da série, e infelizmente sua criatividade parece ser um tanto limitada, sendo que na maioria das obras a premissa segue sempre uma mesma idéia básica: Waldemar Daninsky é um homem atormentado pela licantropia que procura por um crucifixo sagrado, cuja extremidade mais comprida é formada por uma lâmina similar a um punhal, pois este artefato – se manipulado por uma mulher que o ama – pode matá-lo e libertar sua alma da maldição. No meio do caminho, ele terá que se confrontar com alguns inimigos maléficos, como bruxas, vampiros, mortos-vivos ou cientistas malucos.
Em
“A Noite do Walpurgis”, como poderemos ver, isso não é diferente. O
filme começa com um médico legista (Julio Peña, de “Expresso do Horror”)
e seu assistente chegando no meio da noite ao necrotério de uma pequena
cidade para realizar a autópsia de um suposto assassino que vinha
fazendo vítimas pela região, até ser morto com dois tiros de bala de
prata. O morgue fica bem no meio do cemitério, até chegar lá a dupla
especula sobre os boatos de que o cadáver pertence a Waldemar Daninsky,
um indivíduo com fama de ser lobisomem. O médico, com uma postura
cética, desdenha de tais boatos e retira propositalmente as balas de
prata do cadáver de forma provocativa, dizendo que, de acordo com a
lenda, se estivessem mesmo diante de um lobisomem, ele deveria
ressuscitar no momento em que a prata deixa de estar em contato com o
seu corpo. E como já era de se esperar (menos para o médico fanfarrão),
isso realmente acontece. Daninsky volta à vida, se transforma em
lobisomem, mata os dois responsáveis pela sua autópsia e sai à solta
pela noite. No caminho ainda mata mais uma moça, que sabe-se lá porquê,
andava sozinha pelo meio da mata numa madrugada de lua cheia. Depois
deste último ataque, a câmera ainda dá um close nos seios nus e
lambuzados de sangue da vítima, numa medida que viria a se repetir
várias vezes ao longo da obra. Praticamente toda mulher que é atacada
durante o filme acaba ficando com os peitos de fora, para a alegria dos
malandros de plantão. Apenas depois desta cena é que entram os créditos
iniciais. Sobre essa parte introdutória, impossível não fazer algumas
observações: mesmo se passando de noite, pela lógica da história, as
cenas foram filmadas de dia e depois escurecidas no processo de edição,
criando o chamado efeito de “noite azul”, muito utilizado em filmes dos
anos de 1960 e 1970. O problema é aqui o truque não funcionou e chega a
ser constrangedor ver os caras andando entre as lápidas do cemitério,
com lanternas em mãos e o sol brilhando direto. Outra coisa bizarra foi a
constatação de que o cadáver de Daninsky estava nu sobre a mesa do
necrotério, coberto apenas por um lençol antes da autópsia, mas no
momento em que se transformou em lobisomem apareceu misteriosamente todo
vestido de preto! Também é digna de menção a ridícula cena em que o
lobisomem mata o assistente do médico. Dá pra ver claramente que o
monstro acerta uma rápida cabeçada no sujeito, algo assim de dois
segundos, e no instante seguinte a vítima aparece no chão, morta e
ensanguentada, como se tivesse tido o rosto mutilado ou a garganta
dilacerada. Isso evidencia uma característica do lobisomem que viria a
ficar evidente ao longo do filme: além de atacar suas vítimas da forma
tradicional, com mordidas e arranhões, ele também agride quem vier a
cruzar o seu caminho com cabeçadas, safanões e tabefes! Assim, antes
mesmo de entrarem os créditos iniciais, já dá pra perceber claramente
como Klimovsky é um diretor fraco, e que o filme será cheio de erros de
continuidade, atuações constrangedoras e cenas estapafúrdias, que ao
invés de assustarem ou provocarem tensão, só conseguem arrancar boas
risadas dos espectadores. Ou seja, um filme trash até a medula.
A
ação então nos mostra a estudante de doutorado Elvira (Gabi Fuchs)
explicando para o seu namorado, o inspetor Marcel (Andrés Resino) que
ela e uma colega chamada Genevieve (a belíssima Barbara Capell) estão de
partida para uma região isolada no norte da França, onde acreditam
estar enterrado o cadáver da condessa húngara Wandessa Dárvula de
Nadasdy, que no século XV foi morta por praticar assassinatos e cultos
satânicos, além de recair sobre ela a suspeita de ser uma vampira, que
bebia do sangue de jovens virgens para se manter eternamente jovem e
bela. Nota-se aqui a clara inspiração para a personagem na história real
da condessa Bathory, que teve uma trajetória similar de loucura e
crimes hediondos.
Ao chegarem a tal região, onde se destacam as onipotentes ruínas de um gigantesco castelo medieval, as moças encontram Waldemar Daninsky, que diz ser um escritor que está vivendo na região em busca de inspiração para escrever suas obras. Prestativo, ele logo convida as moças para ficar hospedadas na sua mansão, o que elas aceitam de bom grado. Quando Daninsky fica sabendo que as duas pesquisadoras estão atrás da tumba da condessa Wandessa, ele logo se propõe a ajudar, pois de acordo com antigos documentos medievais, a vampira foi morta com a cruz de prata de Mayenza, justamente o único artefato que, ao ser manuseado por uma mulher apaixonada, pode matar o lobisomem e libertar sua alma da maldição. Logicamente, Daninsky não conta que ele já estava na região justamente a procura da tumba da condessa, mas as moças ingênuas não desconfiam de nada. Quando o cadáver da vampira é finalmente encontrado, Genevieve retira a cruz que estava cravada em seu peito, e neste gesto acaba se cortando e deixando seu sangue escorrer sobre o esqueleto em decomposição. Previsivelmente, isso faz com que, ao chagar da noite, a condessa ressuscite e passe a atacar os habitantes da região para beber-lhes o sangue. Para piorar, está se aproximando a dita “Noite de Walpurgis”, uma data específica que, de acordo com uma lenda ancestral, permite que o diabo se materialize na Terra, se devidamente invocado através de um ritual satânico. Caberá agora a Waldemar Daninsky impedir que a condessa vampira realize a cerimônia invocatória, ao mesmo tempo em que precisará aproveitar a oportunidade de ter encontrado a cruz de Mayenza para tentar se livrar de sua maldição, pois a lua cheia se aproxima e logo o lobisomem surgirá.
Tenda
em vista esses elementos centrais do enredo, a impressão que fica é que
haveria boas idéias suficientes para render um bom filme, mas
infelizmente essas idéias legais acabam ofuscadas pelos inúmeros furos
grotescos do roteiro, e são tantos que nem vale a pena elencá-los aqui.
Sabemos que existem muitos casos em que, mesmo com roteiros
problemáticos, bons diretores conseguiram contornar as deficiências e
conceber belos filmes, mas no caso de “A Noite do Walpurgis” o trabalho
de direção é tão ruim que acaba contribuindo para que tudo vá por água
abaixo. Creio que a principal deficiência de Klimovsky é a sua total
incapacidade de dirigir apropriadamente os atores, de forma que vemos
durante o filme inteiro diálogos estapafúrdios, com os atores proferindo
suas falas de forma inexpressiva em alguns momentos, mas exageradamente
espalhafatosa em outros, sem falar nas cenas de ação, que são todas
forçadas e mal encenadas de tal forma que é impossível conter o riso a
cada vez que alguém se põe a lutar.
Para quem possui um conhecimento um pouco mais amplo sobre filmes de lobisomem, também fica fácil identificar muitos elementos de “A Noite do Walpurgis” que foram descaradamente copiados de obras do ciclo da Universal das décadas de 1930 e 1940, como o fato de Daninsky dizer que foi contaminado pela licantropia ao ser atacado por um lobisomem no Tibete (exatamente como acontece em “O Lobisomem de Londres”, de 1935), o fato de ele trazer no peito uma cicatriz em forma de pentagrama (como o personagem Larry Talbot em “O Lobisomem”, de 1941 e nos outros filmes da série), e a simples idéia do licantropo andar sempre a procura de uma forma de morrer e ter sua alma libertada ao invés de buscar propriamente uma cura (idéia básica de vários filmes da saga de Larry Talbot).
Os aspectos técnicos da produção também não ajudam nem um pouco, e aqui não é valida a desculpa do baixo orçamento disponível, pois existem erros gritantes que poderiam ser facilmente resolvidos com um pouco mais de atenção ou competência. Como exemplo, podemos citar a cena em que aparece um zumbi, e fica evidente que, apesar do rosto descarnado e decomposto, suas mãos e pés estão intactos e perfeitamente “saudáveis”. E existe também uma cena hilária onde um sujeito tenta atacar Daninsky com uma faca, mas acaba levando um safanão e caindo sobre a lâmina de sua própria arma. Além de o indivíduo fazer contorcionismos engraçadíssimos ao ser perfurado, nem sequer uma gota de sangue sai do ferimento. E o que dizer da roupa do lobisomem, que se regenera a cada transformação? Ao amanhecer, Daninsky sempre aparece retornando para casa sujo e com as roupas rasgadas, mas basta a lua cheia surgir e lá está ele trajando sua indefectível camisa preta de botões. Ou será que ele possui um estoque de tais camisas e as veste a cada transformação? E por falar no visual do lobisomem, ele até que não desaponta. Claramente inspirado no monstro imortalizado pelas interpretações de Lon Chaney Jr, o lobisomem Daninsky possui o rosto e mãos bastante peludos, além de presas e garras que conseguem transmitir uma sensação ameaçadora. Eis uma das poucas coisas que realmente dá certo no filme. Quanto as cenas de transformação, elas basicamente empregam os mesmos recursos que eram bastante difundidos em produções da era “pré Rick Backer”, utilizando sobreposições de imagens para representar o crescimento dos pelos, além de truques simples do tipo: a transformação começa, Daninsky cai atrás de uma mesa e já levanta de lá mais peludo e com as presas compridas, um close mostra o rosto da mocinha assustada e quando a câmera volta a enfocar o lobisomem ela já está quase que totalmente transformado, e assim por diante.
E como nem tudo são falhas, podemos destacar como pontos positivos deste filme a ousadia de algumas cenas (levando em consideração que ele foi produzido em 1971), de forma que não há economia no derramamento de sangue nos ataques do lobisomem e das vampiras, bem como as já mencionadas cenas de topless que são bastante frequentes. Também temos passagens de discretas cenas de lesbianismo, uma vez que a condessa Wandessa parecia gostar de beijar os lábios e apalpar os seios das donzelas que escolhe como vítimas. Aliás, “apalpar os seios” é uma atitude recorrente nesse filme, principalmente entre as mulheres. Existe inclusive uma cena de luta entre duas delas que acontece numa espécie de calabouço onde parece que o objetivo é ver quem é capaz de desnudar por primeiro os peitos da outra, uma vez que, em meio a puxões de cabelo e safanões, ambas ficam o tempo inteiro puxando a blusa uma da outra, como se esse fosse o alvo primordial. Não há como conter as risadas nessa cena!
Dessa forma, acredito que a melhor maneira de encarar esse filme é assim mesmo, através das risadas. Até pode ser que lá no início da década de 1970 esse filme tenha sido chocante ou assustador de forma que para o público da época essas virtudes pudessem compensar as falhas, mas hoje em dia, passados quase 40 anos, a obra envelheceu desfavoravelmente, fazendo com que suas virtudes não correspondam mais a nada de memorável, ficando apenas as falhas em primeiro plano. Portanto, se você não costuma ligar para os defeitos dos filmes, ou, assim como eu, vê nesses defeitos uma possibilidade bem humorada de diversão descompromissada, então talvez devesse dar uma chance ao “lobisomem espanhol” e curtir uma obra de um período em que, a despeito da ingenuidade e da precariedade, tais filmes se tornavam objeto de culto e admiração.
Naschy (ou Molina, como preferirem) foi o roteirista de praticamente todos os filmes da série, e infelizmente sua criatividade parece ser um tanto limitada, sendo que na maioria das obras a premissa segue sempre uma mesma idéia básica: Waldemar Daninsky é um homem atormentado pela licantropia que procura por um crucifixo sagrado, cuja extremidade mais comprida é formada por uma lâmina similar a um punhal, pois este artefato – se manipulado por uma mulher que o ama – pode matá-lo e libertar sua alma da maldição. No meio do caminho, ele terá que se confrontar com alguns inimigos maléficos, como bruxas, vampiros, mortos-vivos ou cientistas malucos.
Em
“A Noite do Walpurgis”, como poderemos ver, isso não é diferente. O
filme começa com um médico legista (Julio Peña, de “Expresso do Horror”)
e seu assistente chegando no meio da noite ao necrotério de uma pequena
cidade para realizar a autópsia de um suposto assassino que vinha
fazendo vítimas pela região, até ser morto com dois tiros de bala de
prata. O morgue fica bem no meio do cemitério, até chegar lá a dupla
especula sobre os boatos de que o cadáver pertence a Waldemar Daninsky,
um indivíduo com fama de ser lobisomem. O médico, com uma postura
cética, desdenha de tais boatos e retira propositalmente as balas de
prata do cadáver de forma provocativa, dizendo que, de acordo com a
lenda, se estivessem mesmo diante de um lobisomem, ele deveria
ressuscitar no momento em que a prata deixa de estar em contato com o
seu corpo. E como já era de se esperar (menos para o médico fanfarrão),
isso realmente acontece. Daninsky volta à vida, se transforma em
lobisomem, mata os dois responsáveis pela sua autópsia e sai à solta
pela noite. No caminho ainda mata mais uma moça, que sabe-se lá porquê,
andava sozinha pelo meio da mata numa madrugada de lua cheia. Depois
deste último ataque, a câmera ainda dá um close nos seios nus e
lambuzados de sangue da vítima, numa medida que viria a se repetir
várias vezes ao longo da obra. Praticamente toda mulher que é atacada
durante o filme acaba ficando com os peitos de fora, para a alegria dos
malandros de plantão. Apenas depois desta cena é que entram os créditos
iniciais. Sobre essa parte introdutória, impossível não fazer algumas
observações: mesmo se passando de noite, pela lógica da história, as
cenas foram filmadas de dia e depois escurecidas no processo de edição,
criando o chamado efeito de “noite azul”, muito utilizado em filmes dos
anos de 1960 e 1970. O problema é aqui o truque não funcionou e chega a
ser constrangedor ver os caras andando entre as lápidas do cemitério,
com lanternas em mãos e o sol brilhando direto. Outra coisa bizarra foi a
constatação de que o cadáver de Daninsky estava nu sobre a mesa do
necrotério, coberto apenas por um lençol antes da autópsia, mas no
momento em que se transformou em lobisomem apareceu misteriosamente todo
vestido de preto! Também é digna de menção a ridícula cena em que o
lobisomem mata o assistente do médico. Dá pra ver claramente que o
monstro acerta uma rápida cabeçada no sujeito, algo assim de dois
segundos, e no instante seguinte a vítima aparece no chão, morta e
ensanguentada, como se tivesse tido o rosto mutilado ou a garganta
dilacerada. Isso evidencia uma característica do lobisomem que viria a
ficar evidente ao longo do filme: além de atacar suas vítimas da forma
tradicional, com mordidas e arranhões, ele também agride quem vier a
cruzar o seu caminho com cabeçadas, safanões e tabefes! Assim, antes
mesmo de entrarem os créditos iniciais, já dá pra perceber claramente
como Klimovsky é um diretor fraco, e que o filme será cheio de erros de
continuidade, atuações constrangedoras e cenas estapafúrdias, que ao
invés de assustarem ou provocarem tensão, só conseguem arrancar boas
risadas dos espectadores. Ou seja, um filme trash até a medula.
A
ação então nos mostra a estudante de doutorado Elvira (Gabi Fuchs)
explicando para o seu namorado, o inspetor Marcel (Andrés Resino) que
ela e uma colega chamada Genevieve (a belíssima Barbara Capell) estão de
partida para uma região isolada no norte da França, onde acreditam
estar enterrado o cadáver da condessa húngara Wandessa Dárvula de
Nadasdy, que no século XV foi morta por praticar assassinatos e cultos
satânicos, além de recair sobre ela a suspeita de ser uma vampira, que
bebia do sangue de jovens virgens para se manter eternamente jovem e
bela. Nota-se aqui a clara inspiração para a personagem na história real
da condessa Bathory, que teve uma trajetória similar de loucura e
crimes hediondos.Ao chegarem a tal região, onde se destacam as onipotentes ruínas de um gigantesco castelo medieval, as moças encontram Waldemar Daninsky, que diz ser um escritor que está vivendo na região em busca de inspiração para escrever suas obras. Prestativo, ele logo convida as moças para ficar hospedadas na sua mansão, o que elas aceitam de bom grado. Quando Daninsky fica sabendo que as duas pesquisadoras estão atrás da tumba da condessa Wandessa, ele logo se propõe a ajudar, pois de acordo com antigos documentos medievais, a vampira foi morta com a cruz de prata de Mayenza, justamente o único artefato que, ao ser manuseado por uma mulher apaixonada, pode matar o lobisomem e libertar sua alma da maldição. Logicamente, Daninsky não conta que ele já estava na região justamente a procura da tumba da condessa, mas as moças ingênuas não desconfiam de nada. Quando o cadáver da vampira é finalmente encontrado, Genevieve retira a cruz que estava cravada em seu peito, e neste gesto acaba se cortando e deixando seu sangue escorrer sobre o esqueleto em decomposição. Previsivelmente, isso faz com que, ao chagar da noite, a condessa ressuscite e passe a atacar os habitantes da região para beber-lhes o sangue. Para piorar, está se aproximando a dita “Noite de Walpurgis”, uma data específica que, de acordo com uma lenda ancestral, permite que o diabo se materialize na Terra, se devidamente invocado através de um ritual satânico. Caberá agora a Waldemar Daninsky impedir que a condessa vampira realize a cerimônia invocatória, ao mesmo tempo em que precisará aproveitar a oportunidade de ter encontrado a cruz de Mayenza para tentar se livrar de sua maldição, pois a lua cheia se aproxima e logo o lobisomem surgirá.
Tenda
em vista esses elementos centrais do enredo, a impressão que fica é que
haveria boas idéias suficientes para render um bom filme, mas
infelizmente essas idéias legais acabam ofuscadas pelos inúmeros furos
grotescos do roteiro, e são tantos que nem vale a pena elencá-los aqui.
Sabemos que existem muitos casos em que, mesmo com roteiros
problemáticos, bons diretores conseguiram contornar as deficiências e
conceber belos filmes, mas no caso de “A Noite do Walpurgis” o trabalho
de direção é tão ruim que acaba contribuindo para que tudo vá por água
abaixo. Creio que a principal deficiência de Klimovsky é a sua total
incapacidade de dirigir apropriadamente os atores, de forma que vemos
durante o filme inteiro diálogos estapafúrdios, com os atores proferindo
suas falas de forma inexpressiva em alguns momentos, mas exageradamente
espalhafatosa em outros, sem falar nas cenas de ação, que são todas
forçadas e mal encenadas de tal forma que é impossível conter o riso a
cada vez que alguém se põe a lutar.Para quem possui um conhecimento um pouco mais amplo sobre filmes de lobisomem, também fica fácil identificar muitos elementos de “A Noite do Walpurgis” que foram descaradamente copiados de obras do ciclo da Universal das décadas de 1930 e 1940, como o fato de Daninsky dizer que foi contaminado pela licantropia ao ser atacado por um lobisomem no Tibete (exatamente como acontece em “O Lobisomem de Londres”, de 1935), o fato de ele trazer no peito uma cicatriz em forma de pentagrama (como o personagem Larry Talbot em “O Lobisomem”, de 1941 e nos outros filmes da série), e a simples idéia do licantropo andar sempre a procura de uma forma de morrer e ter sua alma libertada ao invés de buscar propriamente uma cura (idéia básica de vários filmes da saga de Larry Talbot).
Os aspectos técnicos da produção também não ajudam nem um pouco, e aqui não é valida a desculpa do baixo orçamento disponível, pois existem erros gritantes que poderiam ser facilmente resolvidos com um pouco mais de atenção ou competência. Como exemplo, podemos citar a cena em que aparece um zumbi, e fica evidente que, apesar do rosto descarnado e decomposto, suas mãos e pés estão intactos e perfeitamente “saudáveis”. E existe também uma cena hilária onde um sujeito tenta atacar Daninsky com uma faca, mas acaba levando um safanão e caindo sobre a lâmina de sua própria arma. Além de o indivíduo fazer contorcionismos engraçadíssimos ao ser perfurado, nem sequer uma gota de sangue sai do ferimento. E o que dizer da roupa do lobisomem, que se regenera a cada transformação? Ao amanhecer, Daninsky sempre aparece retornando para casa sujo e com as roupas rasgadas, mas basta a lua cheia surgir e lá está ele trajando sua indefectível camisa preta de botões. Ou será que ele possui um estoque de tais camisas e as veste a cada transformação? E por falar no visual do lobisomem, ele até que não desaponta. Claramente inspirado no monstro imortalizado pelas interpretações de Lon Chaney Jr, o lobisomem Daninsky possui o rosto e mãos bastante peludos, além de presas e garras que conseguem transmitir uma sensação ameaçadora. Eis uma das poucas coisas que realmente dá certo no filme. Quanto as cenas de transformação, elas basicamente empregam os mesmos recursos que eram bastante difundidos em produções da era “pré Rick Backer”, utilizando sobreposições de imagens para representar o crescimento dos pelos, além de truques simples do tipo: a transformação começa, Daninsky cai atrás de uma mesa e já levanta de lá mais peludo e com as presas compridas, um close mostra o rosto da mocinha assustada e quando a câmera volta a enfocar o lobisomem ela já está quase que totalmente transformado, e assim por diante.
E como nem tudo são falhas, podemos destacar como pontos positivos deste filme a ousadia de algumas cenas (levando em consideração que ele foi produzido em 1971), de forma que não há economia no derramamento de sangue nos ataques do lobisomem e das vampiras, bem como as já mencionadas cenas de topless que são bastante frequentes. Também temos passagens de discretas cenas de lesbianismo, uma vez que a condessa Wandessa parecia gostar de beijar os lábios e apalpar os seios das donzelas que escolhe como vítimas. Aliás, “apalpar os seios” é uma atitude recorrente nesse filme, principalmente entre as mulheres. Existe inclusive uma cena de luta entre duas delas que acontece numa espécie de calabouço onde parece que o objetivo é ver quem é capaz de desnudar por primeiro os peitos da outra, uma vez que, em meio a puxões de cabelo e safanões, ambas ficam o tempo inteiro puxando a blusa uma da outra, como se esse fosse o alvo primordial. Não há como conter as risadas nessa cena!
Dessa forma, acredito que a melhor maneira de encarar esse filme é assim mesmo, através das risadas. Até pode ser que lá no início da década de 1970 esse filme tenha sido chocante ou assustador de forma que para o público da época essas virtudes pudessem compensar as falhas, mas hoje em dia, passados quase 40 anos, a obra envelheceu desfavoravelmente, fazendo com que suas virtudes não correspondam mais a nada de memorável, ficando apenas as falhas em primeiro plano. Portanto, se você não costuma ligar para os defeitos dos filmes, ou, assim como eu, vê nesses defeitos uma possibilidade bem humorada de diversão descompromissada, então talvez devesse dar uma chance ao “lobisomem espanhol” e curtir uma obra de um período em que, a despeito da ingenuidade e da precariedade, tais filmes se tornavam objeto de culto e admiração.







































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