Publicado originalmente no blog Juvenatrix Data: 07/12/05
“O que é a coisa aterrorizante no poço, que queria mulheres?”
Quando encontramos reunidos num mesmo filme de horror os nomes
do cineasta Roger Corman, dos atores Vincent Price e Lon Chaney Jr., do
roteirista Charles Beaumont, dos produtores Samuel Z. Arkoff e James H.
Nicholson, e por fim dos escritores H. P. Lovecraft e Edgar Allan Poe, o
mínimo que podemos esperar é uma prazerosa sessão de entretenimento. “O
Castelo Assombrado” (The Haunted Palace, 1963) é um dos filmes que
juntou esses nomes todos numa única produção, profissionais consagrados
que fazem parte da história do cinema fantástico, através de suas
contribuições inestimáveis para o desenvolvimento desse fascinante
gênero artístico.
A direção e produção é de Roger Corman, mais conhecido como “O
Rei dos Filmes B”, devido ao seu incrível talento em trabalhar com
prazos curtos, aproveitando cenários de outros filmes, tendo à
disposição poucos recursos e orçamentos pequenos sem, contudo, deixar de
lado o interesse dos argumentos obtendo resultados altamente positivos,
além de lançar atores e diretores talentosos, e deixando um enorme
legado de filmes significativos, principalmente aqueles produzidos nos
saudosos anos 60, que tornaram-se objetos de culto e admiração para
colecionadores. O roteiro é de Charles Beaumont, constante colaborador
para criação de histórias fantásticas da série clássica de TV “Além da
Imaginação” (The Twilight Zone, 1959/64). A produção executiva é da
dupla especialista no gênero, Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson,
responsáveis pela AIP (American International Pictures), estúdio com uma
grande quantidade de preciosidades em seu catálogo.
A história é baseada numa novela de H. P. Lovecraft chamada “O
Caso de Charles Dexter Ward” (escrita em 1928), que por sua vez faz
parte do complexo universo ficcional dos misteriosos “Mitos de Cthulhu”,
sendo na verdade a primeira adaptação de uma obra literária do autor
para o cinema. E os produtores aproveitaram também a oportunidade para
inserirem uma breve citação de um poema de Edgar Allan Poe, com o
objetivo de venderem o filme como mais uma adaptação da obra do famoso
escritor, tanto que o nome do filme é o nome desse poema. Como os filmes
baseados em histórias de Poe estavam sendo bem sucedidos, eles
decidiram filmar uma história de Lovecraft sob um rótulo já comprovado,
através dos créditos para Poe. Aliás, tanto um quanto o outro dispensam
comentários, pois são dois dos maiores escritores de horror de todos os
tempos.
E completando essa introdução dos famosos nomes envolvidos em
“O Castelo Assombrado”, o elenco é liderado pelo mestre Vincent Price
num brilhante papel duplo, interpretando Charles Dexter Ward e seu
ancestral, o feiticeiro Joseph Curwen. E ainda tem Lon Chaney Jr. (o
eterno lobisomem no clássico homônimo de 1941), fazendo dessa vez um
personagem coadjuvante. Ambos os atores estão imortalizados na galeria
dos grandes ícones do horror, ao lado de Lon Chaney (o pai), Bela
Lugosi, Boris Karloff, Basil Rathbone, Peter Lorre, Peter Cushing, John
Carradine, Donald Pleasence e Christopher Lee, entre outros.
A história apresenta Joseph Curwen, praticamente de magias
ocultas, que 110 anos antes havia sido queimado vivo na estaca por
aldeões enfurecidos da pequena cidade de Arkham, devido a sua bizarra
conduta de bruxaria e experiências desastrosas envolvendo seres humanos.
Seu espírito está aprisionado num retrato mas consegue se libertar e
tomar posse do corpo de um descendente, Charles Dexter Ward, que chega à
cidade junto com sua esposa Ann (Debra Paget), justamente para conhecer
o enorme castelo que havia herdado de seus ancestrais, e o qual
pertencera ao feiticeiro no passado.
Curwen está agora num novo corpo e volta a contar com o
auxílio dos descendentes de seus antigos assistentes na época, Simon
Orne (Lon Chaney Jr.) e Jabez Hutchinson (Milton Parsons). Atrás de
força e poder sem limites, eles preparam o retorno dos Antigos (ou “The
Old Ones”), seres grotescos e poderosíssimos que dominavam a Terra em
tempos remotos, e que estão adormecidos apenas aguardando uma
oportunidade de retomarem o poder no planeta. Esses monstros indizíveis
foram criados por Lovecraft em seus famosos “Mitos de Cthulhu”.
Curwen retorna também à Arkham para se vingar dos aldeões que o
executaram na fogueira, assassinando seus descendentes também
queimando-os vivos. Quando ele estava na estaca aguardando ser consumido
pelo fogo e pela dor infernal de sua carne ardendo em chamas, Curwen
rogou uma terrível maldição para seus carrascos:
“Assim como a vila de Arkham se rebelou contra mim,
eu renascerei dos mortos contra Arkham. Cada um de vocês, Ezra Weeden,
Micah Smith, Benjamin West, Priam Willet, Gideon Leach. Todos vocês,
seus filhos e netos, se arrependerão desta noite. De hoje em diante
estarão amaldiçoados.”
O filme possui aqueles elementos típicos do horror gótico,
como o imenso castelo sombrio localizado numa colina sinistra e ladeado
por um cemitério, e a pequena cidade misteriosa que impõe medo aos seus
visitantes (o condutor da carruagem que trouxe Ward e a esposa insistiu
para que eles não ficassem na vila). Algumas cenas antológicas são
quando eles estão caminhando à noite nas ruas solitárias e sombrias de
Arkham, e são surpreendidos por um grupo de humanos mutantes,
verdadeiras aberrações onde homens, mulheres e crianças tornaram-se
vítimas de históricas experiências genéticas mal sucedidas, as quais
eram realizadas por Curwen no passado ao inseminar belas mulheres com as
lendárias e profanas criaturas dos mitos. Outra cena de destaque é
justamente quando uma dessas criaturas monstruosas aparece de forma não
explícita num poço nos porões do castelo, justificando a questão
proposta pela tagline do filme, e que está reproduzida no início desse
texto.
Algumas curiosidades sobre “The Haunted Palace”.
* O filme recebeu outros títulos originais alternativos como “The Case of Charles Dexter Ward” e “The Haunted Village”.
* O agora famoso e cultuado cineasta Francis Ford Coppola,
responsável pelo clássico de guerra “Apocalypse Now”, pela trilogia da
máfia “O Poderoso Chefão” e pelo horror moderno “Drácula de Bram
Stoker”, começou sua carreira trabalhando ao lado de Roger Corman, e
nesse filme ele colaborou de forma não creditada na concepção do
roteiro, com alguns diálogos adicionais.
* Algumas citações lovecraftianas são claramente mencionadas no
filme, como as entidades malignas “Cthulhu” e “Yog Sothoth”, e o
lendário livro proibido dos mortos “Necronomicon”, quando o médico da
cidade de Arkham, Dr. Willet (Frank Maxwell), explica para Ward a origem
de seu ancestral Curwen e as lendas em torno de sua feitiçaria.
* O filme foi lançado no mercado brasileiro de vídeo VHS pela
extinta “Globo Vídeo”, e está fora de catálogo há muitos anos, estando
ainda inédito em DVD por aqui.
* A história “O Caso de Charles Dexter Ward”, de Lovecraft, também
foi adaptada para o cinema em 1991 no ótimo “Renascido das Trevas” (The
Resurrected), dirigido por Dan O’Bannon e com Chris Sarandon.
* O diretor de arte de “O Castelo Assombrado” foi Daniel Haller,
que curiosamente foi o diretor dois anos mais tarde em 1965 de um outro
filme baseado em história de Lovecraft e produzido pela AIP. Trata-se de
“Morte Para Um Monstro” (Die, Monster, Die!), com Boris Karloff e
roteiro inspirado no conto “A Cor Que Caiu do Céu”.
O Castelo Assombrado (The Haunted Palace, Estados Unidos, 1963). American
International Pictures. Duração: 87 minutos. Direção e produção de
Roger Corman. Roteiro de Charles Beaumont, baseado em história de H. P.
Lovecraft. Produção Executiva de Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson.
Fotografia de Floyd Crosby. Música de Ronald Stein. Edição de Ronald
Sinclair. Direção de Arte de Daniel Haller. Maquiagem de Ted Coodley.
Elenco: Vincent Price (Charles Dexter Ward / Joseph Curwen), Debra Paget
(Ann Ward), Frank Maxwell (Ian Willet / Dr. Willet), Lon Chaney Jr.
(Simon Orne), Leo Gordon (Edgar Weeden / Ezra Weeden), Elisha Cook Jr.
(Gideon Smith / Micah Smith), John Dierkes (Benjamin West / Sr. West),
Cathie Merchant (Hester Tillinghast), Milton Parsons (Jabez Hutchinson),
Bruno VeSota, Darlene Lucht, Guy Wilkerson, I. Stanford Jolley,
Barboura Morris, Harry Ellerbe.
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