Publicado originalmente no blog Juvenatrix Data: 07/12/05
O produtor e diretor Roger Corman é conhecido como um dos principais realizadores dos chamados filmes de baixo orçamento, principalmente dos gêneros horror e ficção científica, e mais notavelmente na década de 1960, período mais produtivo e criativo de sua carreira. Ele é o responsável por diversas e eternas pérolas do cinema fantástico, como “A Loja dos Horrores” (1960), “Muralhas do Pavor” (1962), “O Corvo”, “O Homem dos Olhos de Raios-X” e “O Castelo Assombrado” (todos de 1963), ou “A Máscara Mortal” (1964), citando apenas alguns de sua extensa filmografia.
Ele trabalhou com atores veteranos e imortais como Boris
Karloff, Vincent Price e Peter Lorre, ou ainda jovens promessas na época
como Ellen Burstyn, Jack Nicholson e Robert De Niro, esses dois últimos
são considerados hoje entre os maiores atores em atividade na indústria
de cinema.
Ele também lançou grandes profissionais por detrás das câmeras
como Peter Bogdanovich, Martin Scorsese ou Francis Ford Coppola, este
último um dos mais respeitados diretores da atualidade com obras como a
trilogia sobre a máfia “O Poderoso Chefão” (1972 / 74 / 90), o clássico
da Guerra do Vietnã “Apocalypse Now” (1979), ou ainda o horror de
“Drácula de Bram Stocker” (1992), entre vários outros filmes de grande
relevância.
O que poucos sabem é que o primeiro filme de Coppola foi na
verdade uma história de horror, justamente quando ele trabalhava na
equipe de produção de Roger Corman, que deu a oportunidade para ele
dirigir “Demência 13” (Dementia 13), com roteiro do próprio Coppola. Na
época, ele assinava somente como Francis Coppola, sem o nome
intermediário “Ford”, que passou a usar somente mais tarde, a partir de
seus próximos filmes.
“Demência 13” é um típico filme “B”, filmado em preto e branco
em 1963 em locações na Irlanda. Roger Corman estava querendo um roteiro
de uma história como elementos similares aos do clássico “Psicose”
(1960), dirigido por Alfred Hitchcock poucos anos antes, algo envolvendo
uma maldição familiar. Coppola escreveu então seu argumento e ao
apresentá-lo à Corman, recebeu a oportunidade de dirigir o seu primeiro
filme.
(Atenção: o texto a seguir contém spoilers)
O filme conta a história de uma maldição envolvendo uma nobre
família irlandesa que vive no enorme Castelo Haloran, uma edificação de
pedra no melhor estilo gótico, e que foi atingida por uma tragédia
envolvendo a morte de Kathleen (Barbara Dowling), uma jovem criança que
afogou-se no lago da residência quando brincava com seu irmão Billy.
Após o acidente fatal, a família se separou ficando apenas a matriarca
Lady Haloran (Eithne Dunn) vivendo no castelo com seus criados Arthur
(Ron Perry) e Lillian (Derry O´Donovan).
Porém, a família, formada ainda pelos irmãos John (Peter
Read), o escultor de estátuas Richard (William Campbell) e o jovem Billy
Haloran (Bart Patton), se reúne todos os anos para celebrar o memorial
da morte da irmã Kathleen, cuja sepultura nos jardins do castelo é
mantida sempre revestida de flores por sua mãe, que sente-se culpada
pela morte da criança e nunca se recuperou da perda prematura da filha.
Exatamente sete anos mais tarde, a família reúne-se novamente
para mais um memorial. Porém, antes de partir para o castelo, John, que
sofre do coração, tem um ataque cardíaco e seu corpo é ocultado por sua
esposa Louise (Luana Anders) para que Lady Haloran não saiba da morte do
filho e possa incluí-la no testamento da família. E para se juntar a
eles, a noiva de Richard, Kane (Mary Mitchell), vem de Londres com o
objetivo também de se casar o mais rápido possível.
Enquanto a família está novamente reunida, um assassino começa
a atuar nas imediações do castelo utilizando um machado para dilacerar
suas vítimas. Após o desaparecimento de Louise, mortalmente golpeada com
machadadas, e de um vizinho caçador, Simon (Karl Schanzer), decepado
violentamente enquanto se arrastava pelo chão à procura de coelhos
selvagens, além da loucura se apossar da mente de Lady Haloran, o médico
da família, Dr. Justin Cale (Patrick Magee), é chamado para ajudar e
ele passa a investigar a maldição que ronda o local envolvendo a morte
da jovem Kathleen no lago.
Os destaques ficam por conta das assustadoras locações, o
castelo macabro, e a fascinante concepção visual que mesclada a uma
trilha sonora sobrenatural combinam perfeitamente para um ambiente de
horror. Sem contar a forte violência para a época da produção, com as
cenas dos assassinatos de Louise no lago, com seu sangue misturando-se
às águas saindo de seu corpo por poderosos golpes de machado, e a
decapitação precisa de Simon com sua cabeça rolando também para as águas
misteriosas do lago.
Existem similaridades em sua história com o clássico
“Psicose”, na idéia central de uma família atormentada por uma maldição.
Em “Psicose”, um assassino psicopata, Norman Bates (Anthony Perkins),
está obcecado pela influência de sua mãe super protetora mesmo após sua
morte. Ele guarda o cadáver da mãe e a loucura se apossa de sua mente
com ele apresentando uma dupla personalidade, a sua própria e uma
doentia influenciada pela mãe morta. Já em “Demência 13”, uma família é
tragicamente atingida pela morte prematura de uma menina por afogamento
num acidente envolvendo um de seus irmãos. Alguns anos mais tarde, a
loucura atinge parte de seus membros e um assassino portando um machado
começa a rondar o castelo em que vivem.
A famosa cena do assassinato do chuveiro em “Psicose”, onde
uma jovem garota (interpretada por Janet Leigh) é violentamente
esfaqueada quando tomava o banho, tem o seu paralelo em “Demência 13”,
na cena onde uma mulher também é violentamente morta com golpes de
machado quando saía de um lago.
A década de 1960 foi extremamente significativa para o cinema
de horror, num período em que foram produzidos dezenas de filmes de
baixo orçamento, porém com qualidades que marcaram para sempre a
história do gênero. Um filme como “Demência 13”, assinado por Roger
Corman e Francis Ford Coppola, fotografado em preto e branco, com uma
história de horror clássica, castelo gótico, mortes violentas para a
época, e sendo uma obra que poucos conhecem... não é preciso dizer mais
nada... a diversão é garantida.
Observação:
O filme foi lançado no mercado brasileiro de vídeo VHS pela
“Continental” em 1997 como “Dementia 13”, fora de catálogo há muito
tempo. E também foi distribuído em DVD pela “Multi Media Group” como
“Demência 13”, em 2005, trazendo como materiais extras a biografia e
filmografia do diretor Francis Ford Coppola, além de uma galeria com 20
fotos do cineasta e cartazes de alguns de seus filmes.
Demência 13 (Dementia 13 / The Haunted and the Hunted, Estados Unidos, 1963) Preto
e Branco. Duração: 75 minutos. Direção e roteiro de Francis Ford
Coppola. Produção de Roger Corman. Fotografia de Charles Hannawait.
Direção de Arte de Albert Locatelli. Música de Ronald Stein. Elenco:
William Campbell, Luana Anders, Patrick Magee, Bart Patton, Mary
Mitchel, Eithne Dunn, Peter Read, Karl Schanzer, Ron Perry, Derry
O´Donovan, Barbara Dowling.
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