Publicado originalmente no blog Juvenatrix Data: 06/12/05
De todos os filmes com histórias situadas dentro do subgênero
do cinema de horror que trata o tema de casas assombradas por fantasmas
perturbados, um dos maiores representantes é uma produção despretensiosa
de baixo orçamento do final dos anos 50, fotografada em preto e branco,
com duração de apenas 75 minutos, dirigida pelo criativo cineasta
William Castle e estrelada pelo lendário Vincent Price, no ápice de sua
carreira de sucesso.
Em “A Casa dos Maus Espíritos” (House on Haunted Hill, 58), um
milionário excêntrico, Frederick Loren (Vincent Price), convida cinco
pessoas desconhecidas (mas escolhidas criteriosamente), para
participarem de uma festa assombrada numa mansão alugada e com fama de
amaldiçoada por causa de um passado de violência envolvendo o
assassinato de sete pessoas. O desafio proposto pelo playboy rico é para
os convidados passarem uma noite inteira na casa e caso sobrevivam à
macabra experiência, receberiam um cobiçado prêmio de US$ 10 mil cada
um.
O grupo é formado por Watson Pritchard (Elisha Cook Jr.), um
homem bêbado e atormentado pelo passado obscuro de uma mansão de sua
propriedade e onde ocorreram vários assassinatos violentos e anormais;
Lance Schroeder (Richard Long), um galã piloto de testes de aviões a
jato, homem corajoso e ganancioso pelo prêmio em dinheiro; Dr. David
Trent (Alan Marshal), um médico psiquiatra interessado em estudar os
efeitos de histeria no grupo provocado pelo medo; além de duas mulheres,
a jornalista Ruth Bridgers (Julie Mitchum), que além do dinheiro quer
também coletar informações para um artigo sobre fantasmas; e a bela e
jovem Nora Manning, uma datilógrafa funcionária de uma das empresas de
Frederick Loren, escolhida por necessitar do dinheiro para sua família
impossibilitada de trabalhar por causa de um acidente. Ao grupo junta-se
ainda Annabelle Loren (Carol Ohmart), a quarta esposa do misterioso
milionário e anfitrião, uma bela mulher mas infeliz no casamento, com
uma crise conjugal que evidencia apenas interesses na relação. A enorme
mansão ainda tem um casal de velhos empregados formado pelo assustador
Jonas Slydes (Howard Hoffman) e sua tétrica esposa cega (interpretada
por Leona Anderson).
A festa, supostamente em homenagem à Annabelle, demonstra
claramente uma característica de excentricidade, onde após as
apresentações entre o anfitrião e os convidados, é formalizado o desafio
do prêmio em dinheiro para quem sobrevivesse naquela noite, onde depois
da meia-noite todas as portas seriam trancadas e seria impossível sair
ou solicitar ajuda externa, com os empregados deixando a casa apenas
para os cinco convidados, além do casal de anfitriões.
Uma série de eventos misteriosos passa então a envolver o
ambiente sinistro da casa, aumentando a tensão com um clima perturbador
de claustrofobia, com direito a sangue pingando do teto, porão com um
tanque de ácido corrosivo, portas rangendo que abrem e fecham sozinhas,
cabeças decepadas, enforcamento, assassinatos, paredes que se
movimentam, tempestade com relâmpagos, piano que toca sozinho,
candelabro despencando do teto, aparições de fantasmas e esqueletos, e
outras bizarrices mais, as quais tentam tornar cada vez mais dificultosa
a tarefa de sobreviver àquela noite na “casa da colina amaldiçoada”.
“A Casa dos Maus Espíritos” custou apenas US$ 150 mil e
recebeu um incrível retorno de bilheteria que motivou William Castle a
continuar filmando suas produções baratas. O sucesso comercial desse
filme serviu até de inspiração para o lendário Alfred Hitchcock fazer
também o seu filme de baixo orçamento, nascendo para nossa sorte o
antológico clássico em preto e branco “Psicose” (Psycho, 60). O roteiro
de Robb White, que colaborou com Castle em vários outros filmes,
consiste basicamente numa história simples de mansão assombrada por
fantasmas, possuindo todos aqueles elementos típicos do estilo. Mas a
presença de Vincent Price, a campanha criativa de marketing, e o fato de
pertencer à década de ouro do cinema fantástico, tornaram-no uma
preciosidade que não pode deixar de fazer parte do acervo de horror dos
colecionadores e apreciadores de filmes antigos.
O diretor e produtor americano William Castle, nascido em New
York em 1914 e falecido na Califórnia em 1977, ficou eternamente
conhecido no cinema de horror por sua criatividade em campanhas de
marketing no lançamento de seus filmes produzidos com pouco dinheiro. Em
“Macabro” (Macabre, 58), ele ofereceu apólices de seguro de vida para
quem morresse de medo no cinema. Já em “A Casa dos Maus Espíritos”, o
diretor utilizou um dispositivo especial para assustar o público nas
salas de exibição, um sistema batizado de “Emergo”, que consistia num
esqueleto humano iluminado movimentado por um complexo mecanismo de
polias, cordas e correias, que era arremessado por cima das pessoas
justamente na cena do filme onde um esqueleto emergia de um tanque de
ácido. Suas inovações em interagir com o público continuaram e no ano
seguinte, em “Força Diabólica” (The Tingler), ele inventou um truque
chamado de “Percepto” onde as cadeiras do cinema vibravam e liberavam
pequenos choques elétricos nas cenas de tensão do filme. E em 1960, com
“Treze Fantasmas” (13 Ghosts), o efeito inovador dessa vez, conhecido
por “Illusion-O”, era um óculos de papel com uma das lentes na cor azul e
a outra vermelha, que permitia ao espectador visualizar os espectros do
filme.
Em 1993, o diretor Joe Dante homenageou o criativo William
Castle em seu filme “Matinee – Uma Sessão Muito Louca” (Matinee), que
contava justamente a história de um cineasta nos anos 50 que inovava o
gênero horror e ficção científica com filmes baratos e sistemas de
interação com o público dos cinemas.
O selo “Dark Side” (que já editou também a revista de horror
“Cine Monstro”) presenteou o público que aprecia os filmes antigos de
horror e lançou “A Casa dos Maus Espíritos” em 2004 por aqui no formato
DVD, trazendo como material extra uma pequena sinopse, além de um
interessante trailer original de cinema legendado em português, e duas
boas biografias do diretor William Castle e do lendário astro Vincent
Price.
Curiosamente, o filme é o último trabalho da curta carreira
artística de Julie Mitchum, irmã do consagrado ator Robert Mitchum. O
esqueleto que aparece na história recebeu uma atenção especial nos
créditos finais, onde os produtores registraram sua participação
informando a interpretação dele mesmo. A casa utilizada para as
filmagens de tomadas externas foi construída em 1924 em Los Angeles. Em
1999 foi produzida uma refilmagem pela “Dark Castle”, com direção de
William Malone e que recebeu o nome por aqui de “A Casa da Colina”
(House on Haunted Hill). O ator Geoffrey Rush, que fez o papel do
milionário Stephen Price, tem o sobrenome de seu personagem igual ao
sobrenome do cultuado astro Vincent Price de “A Casa dos Maus
Espíritos”. E reparando bem, coincidentemente ambos os atores até que
possuem semelhanças físicas. Aliás, no filme de 1958, o milionário
Frederick Loren oferecia a quantia de US$ 10 mil para cada um dos
convidados passarem uma noite numa casa assombrada, e na refilmagem de
mais de quarenta anos depois, o valor do prêmio oferecido subiu para
incríveis US$ 1 milhão, ou seja, cem vezes mais, refletindo a mudança
para os tempos modernos.
“A Casa dos Maus Espíritos” (House on Haunted Hill, Estados Unidos, 1958). Allied
Artists, Preto e branco, 75 minutos. Direção e produção de William
Castle. Roteiro de Robb White. Fotografia de Carl Guthrie. Música de Von
Dexter. Edição de Roy Livingston. Direção de Arte de David Milton.
Efeitos Especiais de Herman Townsley. Maquiagem de Dick Jack Dusick.
Elenco: Vincent Price (Frederick Loren), Carol Ohmart (Annabelle Loren),
Richard Long (Lance Schroeder), Alan Marshal (Dr. David Trent), Carolyn
Craig (Nora Manning), Elisha Cook Jr. (Watson Pritchard), Julie Mitchum
(Ruth Bridgers), Howard Hoffman (Jonas Slydes), Leona Anderson (Sra.
Slydes), Esqueleto (Ele mesmo).
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