
Um jovem estudante bisbilhoteiro descobre que seu novo vizinho é
um vampiro que está fazendo vítimas entre a população local.
Logicamente, quando ele tenta revelar aos demais a sua descoberta,
ninguém lhe dá crédito, nem seus amigos e tampouco a polícia. Para
piorar, o vampirão vê semelhanças entre a sua namorada e uma antiga
paixão, a muito falecida, e então decide transformá-la em uma criatura
das trevas para que possa acompanhá-lo por toda a eternidade. Sem ter a
quem recorrer e temendo pela própria vida, o rapaz apela para um
decadente apresentador que mantém um programa de TV voltado aos filmes
de terror e que, a muito custo, acaba concordando em ajudá-lo a destruir
o monstro. Este é o enredo de “A Hora do Espanto”, clássico absoluto da
década de 1980 e certamente um dos filmes que mais marcaram a minha
infância. Agora substitua o rapaz bisbilhoteiro por uma moça igualmente
bisbilhoteira (Nina Dobrev), o vampiro por um lobisomem (Peter
Stebbings) e o apresentador de filmes de terror por um apresentador de
documentários sobre caçadas (Kevin Sorbo, da série “Hércules”) e pronto,
eis a premissa de “Never cry werewolf”, filme dirigido por Brenton
Spencer em 2008, sob encomenda para ser exibido no canal Sci-Fi Channel, da televisão norte-americana.
O primeiro aspecto que deve ser ressaltado ao analisarmos esse
filme é que, apesar das inúmeras semelhanças com “A Hora do Espanto” (e
são tantas que me admira não ter havido acusação de plágio), “Never cry
werewolf” é muito inferior ao clássico de Tom Holland. Não há no elenco
nenhum ator do porte de Chris Sarandon ou Roddy McDowall, a direção de
arte é bem inferior e os efeitos especiais e de maquiagem são muito mais
modestos. O roteiro também é irregular, e nos momentos em que tenta
propor algo novo, sem copiar a obra oitentista, acaba sendo
inconsistente e por vezes enrolado. É claro que grande parte desses
deméritos podem ser atribuídos ao fato de que estamos falando de um
filme feito diretamente para a TV, com orçamento diminuto e desprovido
de maiores pretensões, mas mesmo assim era de se esperar algo melhor. Em
nenhum momento o filme chega realmente a engrenar, pois as esparsas
cenas de ação acabam sendo sempre entrecortadas por diálogos clichês e
desnecessários, como se houvesse a necessidade de ficar explicando a
todo o momento os acontecimentos que se desenrolam. E pra piorar, as
explicações muitas vezes não são nada convincentes. Além disso, o
diretor Spencer demonstra não ter a habilidade necessária para mesclar
humor e terror como fez Holland tão brilhantemente duas décadas antes, e
o resultado ficou de tal forma que o filme não funciona
satisfatoriamente nem como humor e tampouco como terror.
Os raros pontos positivos estão quase todos relacionados com o
personagem charlatão de Kevin Sorbo, que protagoniza uma cena divertida
no ataque do cão-demônio (sim, tem um bicho desses no filme!) dentro da
loja, e na hilária cena em cima da árvore, perto do final. Igualmente,
me pareceu interessante a idéia do nerd que entra na confusão
de gaiato e acaba se ferrando, mas infelizmente esse aspecto não foi tão
desenvolvido quanto poderia. A primeira morte do filme também merece
destaque, até porque é a única mais bem elaborada, onde até rola algo
sangrento. Todas as outras são mostradas de relance, ou nem sequer são
mostradas.
Sobre o lobisomem propriamente dito, não se tem muito que
falar, já que ele aparece pouco em cena, e ainda assim em tomadas
rápidas, numa atitude que deixa clara a intenção de dissimular a
escassez de recursos empregada na caracterização da criatura. Esse é
mais um aspecto a se lamentar, já que o visual do monstro não é de todo
ruim, e de acordo com o site “Werewolf Movies”, o responsável pelos
efeitos de maquiagem foi Paul Jones, que trabalhou em filmes como
“Possuída” e “Skinwalkes – amaldiçoados”, o que leva a crer que ele
poderia ter feito algo muito melhor se tivesse mais verba disponível.
No final das contas, os elementos mais atrativos de “Never cry
werewolf” são justamente aqueles copiados de “A Hora do Espanto”, o que
faz com que se chegue a uma óbvia conclusão: entre assistir o inspirador
oitentista e a imitação de segunda linha, deve-se optar pelo primeiro,
sem sombra de dúvida. Mas para quem já conhece a obra-prima de Tom
Holland e quer ver mais uma das várias produções bagaceiras sobre
lobisomem que vêm sendo lançadas nos EUA nos últimos anos, então a obra
de Spencer serve como curiosidade, nada mais do que isso.
“Never cry werewolf” ainda está inédito em DVD no Brasil, mas
do jeito que vão as coisas no nosso mercado de filmes, não seria de se
admirar se amanhã ou depois lançassem por aqui essa produção descartável
enquanto várias outras obras de qualidade inquestionável permanecem à
espera do devido lançamento.
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