Publicado originalmente no blog Juvenatrix Data: 07/12/05
Os anos 1950 e 60 foram um período especial para o cinema
fantástico, com centenas de produções de baixo orçamento que
apresentaram uma infinidade de divertidos argumentos de horror e ficção
científica criando uma grande variedade de sub-gêneros dentro dessa
temática principal. Existem os filmes que retratam invasões alienígenas
ao nosso planeta; aqueles que mostram a aventura do Homem no espaço; os
que introduzem insetos gigantes criados por exposição à doses de
radiação; os que apresentam monstros enormes ocultos e que são
acidentalmente libertados; aqueles que enfocam o fim do mundo numa
guerra atômica fatal; os que falam de viagens no tempo e para outras
dimensões desconhecidas; os que especulam sobre o futuro da humanidade; e
entre muitos outros mais, aqueles que tratam sobre os conhecidos
“cientistas loucos” em meio as suas incríveis experiências e que se
transformam em monstros devido ao insucesso de seus projetos obscuros.
Esse último tipo de temática é um dos mais interessantes,
sendo responsável pela produção de uma grande quantidade de fascinantes
filmes onde destaca-se um que é pouco conhecido, mas um fiel
representante desse gênero, “Alta Voltagem” (The Projected Man),
produzido na Inglaterra em 1966. O nome nacional para o filme até que
não foi mal escolhido, tendo uma relação direta e coerente com a
história, porém o melhor certamente teria sido a tradução literal do
original em inglês, passando para “O Homem Projetado”. Todos os
elementos característicos do cinema fantástico da época, e mais
especificamente do sub-gênero “homens transformados em monstros”, estão
presentes em “Alta Voltagem”, apresentando um cientista envolvido num
projeto secreto para o transporte de matéria através de projeção pelo
espaço e tempo, que sofre uma sabotagem tendo como consequência a sua
transformação numa horrenda criatura disforme assassina e sedenta de
vingança.
O conceituado Dr. Paul Steiner (Bryant Haliday) está liderando
uma equipe formada ainda pelo técnico perito em laser Dr. Chris Mitchel
(Ronald Allen) e pela patologista Dra. Patricia Hill (Mary Peach), numa
experiência secreta patrocinada por uma fundação do governo inglês,
“The Farber Research Foundation”, que por sua vez é dirigida pelo
inescrupuloso Dr. Blanchard (Norman Wooland). O projeto tem por objetivo
o transporte de matéria, tanto inanimada quanto orgânica, através do
espaço e tempo, transformando os objetos em energia armazenada numa
célula eletrônica para sua posterior projeção em outro lugar.
Porém, o projeto está sendo acompanhado também pelo Sr. Latham
(Derrick de Marney) que uma vez associado ao Dr. Blanchard, está
interessado em seu fracasso para poder afastar o cientista Dr. Steiner e
se apoderar de sua invenção. Eles então planejam uma demonstração
sabotada da experiência para um famoso cientista de Genebra, Dr. Lembach
(Gerard Heinz), que representava um grupo de investimento ao projeto.
Com o fracasso, o Dr. Steiner recebeu a notícia do cancelamento de seu
trabalho obrigando-o a uma atitude desesperada para salvar o projeto,
realizando uma experiência em si mesmo, desintegrando seu corpo no
laboratório para reintegrá-lo posteriormente em sua casa. Porém, algo
saiu errado nas mãos da secretária da fundação, Sheila Anderson (Tracey
Crisp), que foi recrutada para auxiliar o cientista em seu objetivo,
quando ela, assustada e sem preparo técnico, interrompeu o programa de
projeção no meio do processo, reintegrando o Dr. Steiner perto de sua
casa porém transformado num monstro elétrico violentamente deformado na
metade direita de seu rosto, além também do braço direito que passou a
transmitir uma carga de alta voltagem em qualquer objeto em que tocasse,
causando a morte no caso de pessoas.
Descobrindo sua nova condição de monstro, o cientista encontra
um grupo de assaltantes tentando arrombar uma parede e eles são suas
primeiras vítimas fatais. Os criminosos Harry (Sam Kydd), Steve (Terry
Scully) e Gloria (Norma West), além de um descuidado gato preto, são
assassinados por eletrocussão apenas com o toque da mão direita do
cientista, que tem também uma parte de sua mente deteriorada pelo
fracasso da experiência.
Iniciando sua trajetória de vingança, o monstro elétrico vai
atrás de seus traidores e mata o Sr. Latham no laboratório da fundação
quando este tentava roubar as fitas magnéticas com os cálculos das
experiências e depois vai até a casa do Dr. Blanchard e faz o mesmo com
ele através de uma forte descarga elétrica. Porém, o cientista deformado
estava se enfraquecendo e precisava de mais energia elétrica, indo
buscar a fonte de energia na fundação. Em seu encalço está um
investigador da polícia, Inspetor Davis (Derek Farr), que o procura por
causa das vítimas eletrocutadas, culminado num confronto final no
laboratório entre a polícia e o “homem projetado”.
“Alta Voltagem” tem um roteiro simples, mas super divertido,
com todos os clichês característicos das histórias de “cientistas
loucos”. O Dr. Steiner era um homem inteligente e comprometido com seu
trabalho, procurando uma forma de proporcionar o bem à humanidade, porém
após a sabotagem de sua pesquisa e sua transformação em monstro, ele
tornou-se insano e assassino vingativo. Seu laboratório era repleto de
instrumentos científicos típicos da época como enormes painéis cobertos
por botões de todos os tipos, interruptores, medidores analógicos,
alavancas de acionamento, luzes e rolos de fitas magnéticas. Seu projeto
para transporte de matéria já havia sido tema anteriormente em outro
filme clássico do gênero, “A Mosca da Cabeça Branca” (The Fly, 1958),
com o grande Vincent Price num papel secundário e com David Hedison
interpretando um cientista que se transformou em monstro devido à
invasão de uma mosca na câmara de teletransporte, que ocasionou uma
fusão entre eles gerando uma criatura com corpo de homem e cabeça e uma
das mãos de mosca, e igualmente uma mosca com cabeça e mão humanas.
A idéia de um projeto científico secreto ser pressionado por
corte de verbas e cancelamento, fato que obrigou o cientista Dr. Steiner
a realizar uma experiência em si mesmo vindo a se transformar no
macabro “homem projetado”, também encontra um paralelo em diversos
outros filmes como no episódio piloto da série de televisão “O Túnel do
Tempo” (The Time Tunnel, 1966), onde o jovem cientista Dr. Anthony
Newman se viu obrigado por pressões de cancelamento do projeto, de
realizar uma experiência utilizando-se dele próprio como cobaia,
lançando-se numa enorme máquina em forma de túnel ainda em testes, que o
levaria para uma viagem desconhecida pelo tempo, onde acabou se
perdendo não conseguindo mais voltar ao seu próprio tempo, vivendo uma
série de aventuras em épocas passadas e futuras.
Como curiosidade, em “Alta Voltagem”, assim como na maioria
dos filmes de “homens transformados em monstros”, aparece a clássica
cena da criatura carregando em seus braços uma bela jovem semi nua,
nesse caso o “homem projetado” levando a bela secretária Sheila
desacordada, apenas em trajes íntimos.
O cinema fantástico teve seu melhor momento entre a década de
1930 e meados dos anos 70, abrangendo um período de aproximadamente 40
anos onde foram filmadas à exaustão todo tipo de histórias desse
fascinante gênero artístico que é o horror e a ficção científica. E o
principal ápice foi seguramente o período compreendido entre os anos 50 e
60, que nos presenteou com uma infinidade de filmes simples e
despretensiosos, mas que garantem agradáveis momentos do mais puro
entretenimento. “Alta Voltagem” ou “O Homem Projetado” está certamente
entre eles.
Alta Voltagem (The Projected Man, Inglaterra, 1966). Duração:
77 minutos. Filmado no “Merton Park Studios”, em Londres, não
disponível no mercado brasileiro de vídeo VHS e DVD. Direção de Ian
Curteis. Roteiro de John C. Cooper e Peter Bryan, baseados em história
original de Frank Quattrocchi. Produção de Michael Klinger, Tony Tenser,
John Croydon e Maurice Foster. Fotografia de Stanley Pavey. Direção de
Arte de Peter Mullins. Edição de Derek Holding. Efeitos Especiais de Flo
Nordhoff, Robert Hedges e Mike Hope. Maquiagem de Eric Carter. Música
de Kenneth V. Jones. Elenco: Mary Peach, Bryant Haliday, Norman Wooland,
Ronald Allen, Derek Farr, Tracey Crisp, Derrick de Marney, Gerard
Heinz, Sam Kydd, Norma West, Terry Scully, Frank Gatliff, John Watson,
Alfred Joint, Rosemary Donnelly, David Scheuer.






































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