
"A beleza é verdade, a verdade é beleza, isto é tudo quanto conheceis na Terra e tudo quanto necessitais conhecer". - John Keats

Um exemplo da minha afirmação é o filme Drácula, estrelando como ator principal Frank Langella. Lançado no ano de 1979, é uma adaptação do romance de Bram Stoker, muito bem feita, e em nenhum momento Drácula mostra seus afiados caninos, mas em compensação é um excelente filme de terror com todas as situações que culminam num monstruoso desfecho de amor, crime, sedução e morte, envolto em uma atmosfera de horror. Drácula aqui se apresenta sem nenhum traço de crueldade, porém sua postura e suas palavras é que vão enchendo o filme de mistério, mas no fundo da alma ele é o vampiro demônio sedutor e cruel...

Logo na primeira cena, na abertura do filme, a banda Bauhaus está tocando num salão gótico, a faixa por eles gravada em homenagem e memória ao ator Bela Lugosi. É exatamente a música Bela Lugosi is Dead. Em destaque está a exuberante beleza de Miriam (Catherine Deneuve), que é uma vampira vênus que contracena com John (David Bowie), o grande astro do rock and roll.
O casal habita um luxuoso apartamento ricamente decorado com peças de arte entre quadros, esculturas e cortinas, junto à um grande piano onde tocam-se obras de Sebastian Bach, Delibes e Schubert, e o filme todo se dá ao som das obras excepcionais destes célebres músicos, dando à cada cena um toque mais profundo de mistério, erotismo, terror e poesia. John envelhece aceleradamente, pois ele foi contaminado pela bela Miriam, que sugou sua vida, em especial sua juventude. Ela, a cada nova vítima em que suga-lhe o sangue, rejuvenesce e fica mais bela, ao passo que a vítima tem morte instantânea ou envelhece gradualmente como é o caso de John.
A Dra. Sarah (Susan Sarandon, outra vênus em beleza) pesquisa em seu

A Dra. Sarah faz uma visita ao apartamento de Miriam com o objetivo de avaliar a degeneração física de John. A vampira diz que John viajou para longe, despistando-a. Aqui seus olhares novamente se entrecruzam como se uma percebesse vivamente a extrema beleza e jovialidade da outra, e neste impulso proibido de desejo e luxúria, Miriam e Sarah, após uma conversa amena, deixam-se entregar-se sem resistência.

Miriam drenou parte de seu sangue para o corpo de Sarah e agora a doutora está contaminada, condenada à vida eterna e como uma vampira ela só irá sobreviver se beber sangue humano. Começa então o martírio de Sarah, que não entende a transformação que ocorre em seu organismo, o qual fica debilitado, mergulhado na depressão, com dores, angústias, febres, suores frios, medo... e por fim, uma estranha sede...
Percebemos nitidamente que o vampirismo foi usado como uma metáfora para dar enlace a uma atitude sexual de forte impacto às próprias paixões e aspirações humanas. A fome de viver aperta o indivíduo, que se vê impelido a buscar e dar continuidade de vida através do sangue, o símbolo perpétuo da vida eterna.
Na sequência do filme, Sarah desentende-se com

De repente, Miriam precipita-se do alto do sótão e cai a pique estourando todos os ossos de seu corpo. Os espectros também começam a decompor-se como que formados por cinza e poeira da morte!
Miriam, a bela "vampira vênus" como eu a havia chamado no começo desse texto, vai virando uma velha decrépita e seus louros cabelos vão esbranquecendo lentamente, desfigurando-se seu belo rosto, e transformando-se numa horrenda caveira que tem o aspecto roxo da própria morte.
Depois desta impressionante cena de terror, sobre o efeito especial da câmera, o filme vai acabando embalado na sonata para violino e piano de Franz Schubert, voltando novamente à beleza e poesia que foram o pano de fundo de todo o filme. Agora, Sarah começará tudo outra vez... para sempre, como herdeira da maldição de Miriam, a mais bela mulher vampiro que o cinema já produziu...
FOME DE VIVER (The Hunger, Inglaterra, 1983). MGM, 100 minutos
Direção: Tony Scott Roteiro: James Costigan, Ivan Davis Elenco: Catherine Deneuve (Miriam Blaylock); David Bowie (John Blaylock); Susan Sarandon (Sarah Roberts); Cliff De Young (Tom Haver); Beth Ehlers (Alice Cavender); Dan Hedaya (Lieutenant Allegrezza); Rufus Collins (Charlie Humphries); Suzanne Bertish (Phyllis)
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