
Publicado originalmente no blog Juvenatrix Data: 08/12/05
Uma autêntica produção de Ficção
Científica com elementos de Horror, oriunda dos nostálgicos anos 60,
com história sem nenhuma originalidade, uma imensidão de furos e
situações inverossímeis no roteiro, atores incrivelmente inexpressivos,
monstros vagabundos, e efeitos especiais extremamente toscos (miniaturas de naves espaciais e maquetes de cidades futuristas), mas bastante trabalhosos e fantásticos para a época. Essa seria uma definição ideal em poucas palavras para “O Lodo Verde” (The Green Slime, 1968),
um típico exemplar do mais puro cinema bagaceiro, e por causa
justamente de tudo isso, uma diversão mais que garantida para quem
aprecia filmes pouco comentados e mais desconhecidos, e produções
repletas de falhas não propositais.
“O Lodo Verde” é uma produção
internacional, numa parceria entre os Estados Unidos, Japão e Itália,
inteiramente filmado num estúdio na capital japonesa Tóquio. A história
apresenta uma base espacial chamada Gamma 3, operando em órbita da Terra e descobrindo a existência de um imenso asteróide, batizado de Flora,
que está em rota de colisão com nosso planeta. O asteróide tem seis
milhões de toneladas de rocha e se chocará com a Terra em menos de dez
horas (é inacreditável como os
incompetentes cientistas não conseguiram descobrir com mais
antecedência a existência de um objeto imenso no espaço capaz de
destruir nosso planeta num impacto catastrófico).
Para evitar a tragédia, um grupo de astronautas liderado por Jack Rankin (Robert Horton),
é enviado da Terra com destino à base espacial Gamma 3, e de lá rumo ao
asteróide numa missão para detoná-lo com uma poderosa explosão,
perfurando o solo com potentes brocas especiais e implantando explosivos
de grande poder de destruição. Curiosamente, o mesmo argumento serviu
de base trinta anos depois para a história de Armageddon, um blockbuster com um elenco famoso liderado por Bruce Willis, e que teve um orçamento milionário, boa parte gasto em efeitos especiais super sofisticados.
O comando das operações na Terra é do oficial Jonathan Thompson (Bud Widom), e a base especial é comandada por Vince Elliott (Richard Jaeckel), um antigo amigo de Rankin, os quais tiveram problemas de relacionamento no passado (Rankin afirma que Elliott não tem preparo emocional para liderança e comando). Ainda existe o agravante de ambos formarem um triângulo amoroso com a médica Lisa Benson (a italiana Luciana Paluzzi), que está trabalhando em Gamma 3 e que abandonou Rankin para ficar noiva de Elliott.
No asteróide, enquanto os
astronautas preparavam a detonação das bombas, eles entraram em contato
com uma misteriosa substância gosmenta verde que parecia ser uma espécie
de forma de vida alienígena. Após o sucesso da missão com a explosão do
asteróide gigante, eles retornam à base espacial levando
involuntariamente consigo uma amostra do “lodo verde”, graças ao Dr. Halvorsen (Ted Gunther), que estava ansioso por conhecer uma criatura desconhecida, justificando seus atos com o tradicional clichê “pelo bem do conhecimento científico”.
Uma vez se alimentando de energia elétrica, a gosma viva se transforma
num monstro verde com tentáculos e um único olho central vermelho, que
tem o poder de se reproduzir sozinho em alta escala pelas células do
sangue verde, além de curar seus próprios ferimentos, se regenerando
automaticamente. As criaturas emitem um ruído irritante e esquisito, e
matam suas vítimas queimadas através de eletrocussão.
A partir daí, a base espacial é
rapidamente infestada pelos monstros, obrigando o comando a decretar
estado de quarentena, e mediante a impossibilidade de matá-los, os
sobreviventes são obrigados a se refugiarem numa nave com destino à
Terra, condenando Gamma 3 à destruição e levando consigo as criaturas
formadas pelo “lodo verde”.
O filme possui tantas falhas,
tantos furos no roteiro, tantas situações absurdas e muitas vezes
ridículas, e tudo realizado de forma não proposital, que o resultado
final acaba tornando-se uma grande diversão num genuíno representante do
cinema fantástico bagaceiro.
A seguir, vale a pena registrar
alguns exemplos de cenas que reforçam a ideia exposta acima. Os foguetes
espaciais são miniaturas que soltam fumaça e fazem barulho, em efeitos
incrivelmente toscos (quando comparado por exemplo às naves de “2001: Uma Odisséia no Espaço”, produzido no mesmo ano).
Os astronautas andam e em determinado momento até correm normalmente
enquanto estão no asteróide, ignorando a ação da gravidade. Numa cena em
especial, quando os astronautas estão em fuga num foguete tentando
escapar dos efeitos da explosão do asteróide, o líder da missão Rankin
ordena ao piloto para acionar a velocidade máxima, a qual colocaria em
extremo perigo a estabilidade da nave. Com a recusa de bom senso do
piloto, o comandante levanta-se de seu lugar e aciona pessoalmente a
alavanca de aceleração numa atitude de “homem de coragem e bravura” (e pouca inteligência)
que consegue arrancar algumas risadas involuntárias do espectador. Em
outro momento, quando os astronautas chegam à base espacial, após o
sucesso da missão, eles são corretamente encaminhados para um
compartimento de descontaminação, mas o procedimento de segurança é
totalmente violado quando a afobada médica Lisa invade a sala para
recepcionar seu noivo Elliott. Talvez o ápice das cenas bagaceiras seja o
momento em que os “heróis” Rankin e Elliott escapam da base
espacial infestada de monstros, e que está à deriva prestes à explodir.
Eles se lançam no espaço até encontrarem o refúgio de uma nave de
resgate.

Como curiosidade, é interessante citar que tanto no interior das naves quanto na sala de controle de Gamma 3, é encontrada uma infinidade daqueles tradicionais elementos sempre presentes nos filmes de FC antigos, ou seja, painéis com luzes piscando, cheios de botões, telas grandes, visores, além de computadores enormes.
Felizmente, o filme recebeu um
título nacional muito bem escolhido e apropriado, apenas traduzindo o
original “The Green Slime” para “O Lodo Verde”. Aliás, existem vários
outros nomes alternativos que foram adotados na distribuição pelo mundo
como os enormes “After the Destruction of Space Station Gamma: Big Military Operation” e “Gamma #3 Big Military Space Operation”, os manjados demais “Battle Beyond the Stars”, “The Battle of Space Station Gamma” e “Death and the Green Slime”, o italiano “Il Fango Verde”, e o japonês “Gamma Sango Uchu Daisakusen”. Quanto à tagline escolhida para a divulgação do filme, algo como “O Lodo Verde está chegando!”,
podemos dizer que é óbvia e comum demais, sem criatividade, onde os
produtores poderiam certamente ter pensado numa outra frase bem mais
interessante.
Algumas curiosidades sobre os envolvidos no projeto de “O Lodo Verde” são que o diretor japonês Kinji Fukasaku (1930/2003)
é o mesmo responsável por dois filmes de horror japoneses mais atuais e
conhecidos pela alta dose de violência de suas histórias, “Battle Royale” (2000)
e a continuação produzida três anos depois. Quanto ao elenco, o casal
principal de atores é muito inexpressivo, sendo que o americano Robert
Horton nasceu em 1924 e não possui grandes destaques em sua filmografia,
já a italiana Luciana Paluzzi, nascida em Roma em 1937, provavelmente
nunca estudou a arte de atuar pois é uma atriz muito ruim. O único ator
com algum destaque é o americano Richard Jaeckel (1926/1997), com uma carreira com 95 filmes, sendo um rosto conhecido em inúmeras séries de TV dos anos 60 e reconhecido pelo papel do Sargento Clyde Bowren no clássico da Segunda Guerra Mundial “Os Doze Condenados” (The Dirty Dozen, 67).
“O Lodo Verde” (The
Green Slime, Estados Unidos / Japão / Itália, 1968). Metro Goldwyn
Mayer (MGM). Duração: 90 minutos. Direção de Kinji Fukasaku. Roteiro de
Tom Rowe e Charles Sinclair, baseados na história de Ivan Reiner e Bill
Finger. Produção de Walter Manley e Ivan Reiner. Fotografia de Yoshikazu
Yamasawa. Música de Charles Fox e Toshiaki Tsushima. Edição de Osamu
Tanaka. Efeitos Especiais de Akira Watanabe. Elenco: Robert Horton
(Jack Rankin), Luciana Paluzzi (Lisa Benson), Richard Jaeckel (Vince
Elliott), Bud Widom (Jonathan Thompson), Ted Gunther (Dr. Halvorsen),
David Yorston, Robert Dunham, Gary Randolf, Jack Morris, Eugene Vince,
Don Plante, Linda Hardisty, Richard Hylland, Kathy Horan, Ann Ault,
Susan Skersick, Helen Kirkpatrick, Carl Bengs, Linda Miller, Strong
Ilimaiti, Enver Altenbay, Tom Scott, Patricia Elliott.
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