
Publicado originalmente na coluna Sangria
George A. Romero vai ser sempre associado a sua trilogia de zumbis
("Night Of The Living Dead", "Dawn Of The Dead" e "Day Of The Dead”),
mas se você cavar mais fundo em sua carreira vai descobrir que ele fez
já fez outros filmes com temas variados (não tão vangloriados, mas
dignos de nota) como “Season of the Witch”, de 1972 (conhecido também
como “Hungry Wifes” e onde Romero conheceu a atriz Christine Forrest com
quem é casado até hoje) que conta sobre uma dona de casa que se vê
envolvida numa trama sobre bruxaria e assassinato, “Martin” (1977) e
“Bruiser” (A Máscara do Terror”, de 2000).
O
velho Romero deu a este filme de vampiro o mesmo tratamento que ele já
havia feito (e ainda faz!) aos zumbis - um tratamento intenso e
realista. A trama segue as aventuras de Martin, um rapaz que afirma ter
84 anos, apesar de sua aparência jovial, e que bebe sangue humano para
sobreviver crendo em ser um vampiro. O jovem rapaz chega em Pittsburg
para tentar viver uma vida normal entre seus familiares. Mas mesmo entre
parentes, Martin não é bem visto, principalmente porque sua necessidade
por sangue deve ser saciada periódicamente. Mesmo sem compartilhar da
mesma maldição que acomete a família de Martin, seu tio é, contra sua
própria vontade, obrigado a lhe dar suporte. Uma única condição é
imposta: não importam quais sejam as circunstâncias, Martin não deve,
jamais, atacar alguém da comunidade.
Tecnicamente, o filme se mostra superior ao que seu orçamento
permitiria, mas isso se dá ao excelente roteiro que despreza a
necessidade de efeitos especiais mirabolantes e o que realmente conta é a
mão segura de Romero na direção. John Amplas (numa impressionate
estréia), como Martin, e Lincoln Maazel formam uma
parceria indispensável no filme, mas não significa que as
interpretações sejam dignas de um Oscar, mas isso não vem ao caso pois
estamos falando de filmes da década de 70, uma epoca de deboche e
liberalismo cultural. Em “Martin” não há ninguém que passe a idéia de
herói ou referencial moral. Mesmo o padre (interpretado pelo próprio
Romero) aparece bebendo e enfrenta uma saia justa com o tio de Martin
justamente por tentar omitir uma opinião mais… humana! Uma outra
curiosidade da produção é que a primeira colaboração entre o grande Tom
Savini e George Romero foi no próprio filme “Martin”.
"Martin" consegue ser, ao mesmo tempo, um perturbador drama psicológico e um filme de terror genuíno que apresenta um discurso sobre a intolerância e o preconceito, já trabalhados por George Romero em seus filmes anteriores.
Martin
é um vampiro como jamais fora apresentado no cinema: uma criatura com
mais sede de humanidade do que do sangue propriamente dito e mesmo o
personagem flerta irônicamente com o estereotipo do vampiro tradicional
em algumas cenas. Em suma, o velho Romero gosta mesmo é de falar do
maior e mais temível monstro de todos: aquele que guardamos dentro de
nós mesmos.






































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