
Sem sombra de dúvida, os filmes
de horror mais infames e grotescos já produzidos vem da terra do Sol
Nascente (Japão) sob o título de “Guinnea Pig” (Za Ginipiggu, no original).
Abrangendo sete filmes, dois documentários de making-of, e um
'Slaughter Special', esta série foi produzida entre 1985 e 1991, e sua
produção têm um lugar especial na história japonesa de filmes de horror,
em parte devido à sua (má) reputação, e em parte devido ao fato de que
eles realmente são um anacronismo total: nenhum outro filme foi
produzido (melhor ou mesmo semelhante) a violência pura e indecente de Satoru Ogura, seu produtor/escritor/criador.
Feito com um orçamento minúsculo
e com dinheiro suficiente apenas para cobrir a música incidental, a
série ganhou notoriedade mundial em 1991, graças ao ator americano
Charlie Sheen, que, em uma das exibições da franquia, teve a idéia de
que as cenas de tortura de “Guinnea Pig: The Devil’s Experiment” (Ginī Piggu: Akuma no Jikken, 1985)
eram na verdade autênticos filmes snuff. Ele então travou uma guerra
pessoal contra a série, relatando os filmes para a Motion Picture
Association of America e ao FBI, além de reforçar um papel ativo e
público para encerrar a exportação da série em todo o mundo. Desde
então, os departamentos de diversos países participaram de costumeiras
apreensões às importações da franquia. A loucura desta “caça às bruxas”
chegou a um limite tão estúpido que um fã de horror que tentou ter um
exemplar do DVD enviado para a Inglaterra chegou a ser processado e
multado pela aquisição do “produto maldito”.
O que o Sr. Sheen (um ícone dos bons costumes como todos nós sabemos!)
e os demais censores não sabem é que não existe melhor propaganda que a
proibição e sendo assim, a notoriedade dos filmes “Guinea Pig” atingiu
um público cada vez maior. Também é importante salientar que os filmes
da série são extremamente underground, muito longe de se tornarem obras
de arte (às vezes descendo para um território absolutamente barato e brega em boa parte de seus efeitos).
De fato, como em todos os filmes mais extremos, a possibilidade de
aparecerem “imitadores da arte” é uma perspectiva muito real e muito
assustadora. Basta lembrar que o próprio Stanley Kubrick proibiu seu
próprio filme "A Clockwork Orange", (A Laranja Mecânica, no Brasil)
no Reino Unido por 25 anos devido ao fato de aparecerem incidentes
“copycat” de estupro e violência. Kubrick temeu até a sua morte que tal
ficção pudesse ter resultados desastrosos nas mentes de certas pessoas
que têm inclinações para esse tipo de comportamento criminoso.
De uma forma estranha, “Za
Ginipiggu” nos traz algumas perguntas difíceis, além de nos oferecer um
teste sobre nossa própria moralidade, para não mencionar um teste da
nossa atitude para com os nossos próprios limites sobre a dor e a
mortalidade. “Za Ginipiggu” força você a dar uma olhada, longa e dura,
sobre o fato da sua própria morte no futuro, e deixa você pensar sobre o
que pode acontecer com você mesmo numa situação semelhante.
Quando a série foi adquirida
pela empresa JHV “Guinea Pig 2: Flower of Flesh and Blood” causou uma
grande indignação no público. Os produtores se viram forçados a mudar o
estilo dos filmes de modo que era evidente que eles eram “filmes
apropriados” ao público. Resolveram então manterem a violência gráfica e
o grotesco, mas com temas menos enraizados na realidade cotidiana (como
por exemplo, os filmes “Guinea Pig 2: Android of Notre Dame”, de 1988,
que foi a tentativa da série de produzir um sci-fi, “Guinea Pig 3:
Shudder! The Man Who Doesn't Die”, de 1986, que é um gore-horror-comédia
e também “The Guinea Pig: Mermaid in a Manhole”, de 1988, que conta com
um enredo surreal sobre sereias que vivem em esgotos).
Estes filmes, definitivamente moderados, ainda conseguiram alcançar
limites de repulsa que nenhum outro filme asiático (ou não!) jamais
conseguiu.
LISTA DOS FILMES

Guinea Pig: Devil's Experiment (ギニーピッグ 悪魔の実験 Ginī Piggu: Akuma no Jikken, a.k.a. "Unabridged Agony"). Produzido em 1985 como o primeiro filme, “Guinea
Pig: Devil's Experiment” gira em torno de um grupo de homens que
seqüestram e torturam uma jovem de todas as formas possíveis, como parte
de um experimento sobre os limites do corpo humano frente à dor. Foi
produzido por Hideshi Hino.
Guinea Pig 2: Flower of Flesh and Blood (ギニーピッグ2 血肉の華 Ginī Piggu: Chiniku no Hana).
Também foi produzido e dirigido em 1985 por Hideshi Hino, com base em
seus mangás de horror. O enredo gira em torno de um homem vestido como
um samurai (interpretado pelo próprio Hino) que seqüestra uma mulher.
Ele a droga e então começa a desmembrá-la para finalmente, acrescentar
partes de seu corpo para uma bizarra e extensa coleção de humanos mortos
em uma estufa.
Guinea Pig 3: Shudder! The Man Who Doesn't Die (ギニーピッグ3 戦慄! 死なない男 Ginī Piggu: Senritsu! Shinanai otoko).
É o terceiro filme da franquia. Produzido em 1986, gira em torno de uma
cena bizarra em que um homem tenta se matar e se surpreende quando
descobre que não pode sentir qualquer dor. O filme é mais zombeteiro do
que os dois anteriores, e envolve um elaborado plano de vingança contra a
garota que levou o personagem principal a tentativa de suicídio.
The Guinea Pig: Mermaid in a Manhole (ザ・ギニーピッグ マンホールの中の人魚 Za Ginī Piggu: Manhōru no naka no Ningyo).
Este episódio fala sobre um artista que está tentando lidar com a morte
recente de sua esposa. Um dia, ao visitar os esgotos sob as ruas de
Okinawa, ele se depara com uma sereia que ele encontrou uma vez quando
criança, mais precisamente na época em que os esgotos da cidade
costumavam ser um grande rio.
Guinea Pig 2: Android of Notre Dame (ザ・ギニーピッグ2 ノートルダムのアンドロイド Za Ginī Piggu 2: Nōtorudamu no Andoroido).
É o quinto da série e foi produzido em 1988. Sua trama gira em torno de
um anão cientista que tenta encontrar uma cura para uma doença grave
que aflige sua irmã.
Guinea Pig 4: Devil Woman Doctor (ギニーピッグ 4 ピーター の 悪魔 の 女医 さん Gini Piggu 4: Pita não Akuma no Joi-san). Apesar de produzido em 1986 como o quarto filme, “Guinea Pig 4: Devil Woman Doctor” foi o sexto a ser lançado e conta a história de um médico(?) (interpretado pelo travesti Shinnosuke Ikehata)
que trata seus pacientes com técnicas bizarras e requintes de
crueldade. Foi dirigido por Hajime Tabe e este episódio mudou o tom da
série, de horror gráfico e grotesco para uma comédia pastelão
extremamente violenta.
Guinea Pig 7: Slaughter Special (ギニーピッグ7 惨殺スペシャル Ginī Piggu 7: Zansatsu Supessharu).
É o sétimo e último da série. Ele funciona basicamente como um "pior de
tudo", mostrando os momentos mais horríveis e bizarros dos primeiros
filmes.
ADENDO: Em
2005, a empresa norte-americana Unearthed Films lançou a primeira bOX
verdadeiramente completa com todos os seis filmes da franquia, o
Making-Of, os documentários e o Slaughter Special. A Box também vinha
com diversos extras, incluindo o mangá no qual “Mermaid in a Manhole” se
baseou. A Unearthed Films também lançou os filmes com capas
reversíveis, ou seja, com as capas americanas junto das originais
japonesas.
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