
Alguns personagens reais que
ficaram marcados para sempre na história da humanidade por causa de suas
condutas perversas, serviram de base para a adaptação de livros e
filmes que exploraram suas imagens de vilões sangrentos. O famoso
guerreiro Vlad Tepes, que no século XV na região da Valáquia, tornou-se
um nobre extremamente temido nos campos de batalha e que tinha o hábito
de empalar seus inimigos derrotados, inspirou o escritor Bram Stoker a
criar o vampiro Conde Drácula.
Mas um outro exemplo também
significativo, de uma pessoa imensamente cruel que serviu de base para a
criação de algumas histórias no cinema, numa espécie de versão feminina
de Vlad Tepes, foi a Condessa Erzsebet Bathory (1560/1614),
que viveu na Hungria e durante o início do século XVII foi a
responsável pela tortura e assassinato doloroso de centenas de mulheres
jovens e virgens para utilizar o sangue delas em banhos com o objetivo
de rejuvenescimento de sua pele, ou que pelo menos influenciassem no
retardamento da ação impiedosa da velhice sobre sua beleza e vitalidade.
Entre os filmes que abordaram a terrível Condessa Bathory um destaque é
a produção da Hammer, A Condessa Drácula (Countess Dracula, 71), com direção de Peter Sasdy e tendo a belíssima Ingrid Pitt (falecida em 23/11/2010) na liderança do elenco, ao lado de Nigel Green e Sandor Elès.
O filme inicia com o funeral do Conde Ferencz Nadasdy, um glorioso soldado que é casado com a Condessa Elisabeth Nodosheen (a estonteante Ingrid Pitt) e que tinha uma filha, Ilona (Lesley Anne-Down),
enviada à Viena aos seis anos de idade para fugir da ameaça de invasão
dos turcos na Hungria no final do século XVI. Enquanto a cerimônia é
realizada, um rapaz chega atrasado em seu cavalo. É o jovem soldado
Tenente Imre Toth (Sandor Elès), filho do General Toth, um grande amigo do Conde Nadasdy durante a guerra.
Após o enterro, seus parentes,
amigos e principais serviçais se reuniram no castelo para a leitura do
testamento. Para o Capitão Dobi (Nigel Green),
administrador do castelo durante muitos anos, foram destinadas as armas
e uniformes de guerra pertencentes ao falecido. Para o erudito e
historiador Mestre Fabio (Maurice Denham),
a herança foi a enorme biblioteca do castelo, repleta de livros
valiosos. O jovem Imre Toth ganhou de presente os estábulos e todos os
cavalos. Já a condessa herdou o castelo e toda a fortuna da família, mas
deveria dividir com sua filha Ilona.
Visivelmente decepcionada e
descontente com a notícia, a condessa começou a demonstrar os traços de
sua personalidade perversa, intensificados ainda mais quando ela
maltratava uma das camareiras, a jovem Teri (Susan Brodrick),
que costumava preparar o seu banho com água quente. Foi numa dessas
ocasiões que houve um acidente com a empregada e um pouco de seu sangue
jovem e virgem respingou no rosto cansado e cheio de rugas da “condessa
sangrenta”, revelando para ela um segredo misterioso para o
rejuvenescimento de sua pele.


A partir daí, apaixonada pelo
jovem recém chegado Imre Toth, ela recebe a ajuda do amante por muitos
anos Capitão Dobi para conseguir donzelas que seriam assassinadas para
recolher o sangue. A Condessa também tinha o amparo de sua acompanhante
Julie Sentash (Patience Collier),
que auxiliava no macabro processo encobrindo os assassinatos da polícia
local, cujos trabalhos de investigação dos desaparecimentos das jovens
mulheres ficou a cargo do Capitão Balogh (Peter Jeffrey).
Enquanto isso, quando Ilona
retornava de Viena com destino ao funeral do pai ela fora sequestrada no
meio do caminho pelo Capitão Dobi a mando de sua própria mãe, sendo
mantida encarcerada numa casa na floresta sob a vigilância de um homem
rude e mudo, Janco (Peter May).
Dessa forma, a perversa Condessa Drácula poderia tomar o seu lugar, e
uma vez jovem e bonita novamente graças aos banhos de sangue, ela
poderia conquistar o amor do novo visitante, o soldado Imre.
“A Condessa Drácula” possui
todos aqueles elementos típicos dos filmes da “Hammer” ambientados na
Europa medieval, com castelos imponentes repletos de aposentos enormes e
habitados por nobres ricos, uma aldeia com camponeses pobres e
supersticiosos, carruagens e florestas com árvores fantasmagóricas. Como
boa parte dos filmes da produtora inglesa, a narrativa é mais pausada,
porém sempre envolta naquela atmosfera gótica que tanto fascina sua
imensa legião de fãs ao redor do mundo.
O filme foi lançado no início
dos anos 70, onde a produtora estava tentando levantar o entusiasmo do
público por seus filmes, os quais estavam sofrendo uma decadência devido
a um inevitável desgaste do gênero. E para tentar atingir esse
objetivo, a “Hammer” estava investindo em mais erotismo em suas
histórias, com belas atrizes em discretas cenas de nudez, mas que eram o
suficiente para despertar a atenção, e com isso tivemos o privilégio de
ver a beleza da atriz Ingrid Pitt em cenas sensuais no papel da
condessa sangrenta.
Aliás, este filme de Peter Sasdy, ao lado de “Carmilla, a Vampira de Karnstein”, produzido um ano antes, e de “Luxúria de Vampiros” e “As Filhas de Drácula”
(ambos de 71), representam os principais filmes do estúdio inglês
explorando a sensualidade de belas atrizes como a dinamarquesa Yutte Stensgaard,
uma das mais lindas da história do cinema, e que infelizmente teve uma
carreira muito curta, abandonando as telas ainda muito jovem depois de
atuar em “Luxúria de Vampiros”.
Um grande equívoco da Hammer foi
a escolha do nome do filme, vinculando com o vampiro Drácula e
mostrando claramente a intenção de marketing em lucrar em cima de um
nome comercial bem sucedido. Seria muito melhor se a produtora optasse
pelo nome “Condessa Bathory”, já que a história é inspirada em fatos
reais de suas atrocidades.

“A Condessa Drácula” já havia
sido lançado em vídeo VHS no Brasil pela extinta VTI, e depois foi
lançado no formato DVD também através do selo Dark Side da Works
Editora, tendo sido sendo distribuído nas bancas de jornais encartado na
revista Dark Side DVD número 9 (Junho de 2005).
Como material extra, temos apenas um trailer legendado em português de
aproximadamente três minutos de duração, e a revista traz várias
matérias interessantes abordando desde o próprio filme em questão, como
também Monster – Desejo Assassino (2003), com Charlize Theron e
Christina Ricci, uma filmografia sobre a Condessa Bathory no cinema, e
uma análise dos perfis da atriz polonesa Ingrid Pitt, protagonista de
filmes como Carmilla, a Vampira de Karnstein, A Casa Que Pingava Sangue (antologia da “Amicus” filmada em 70)
e O Homem de Palha (73), e do diretor húngaro Peter Sasdy, responsável
por outras obras-primas do estúdio inglês Hammer como O Sangue de
Drácula (70), com Christopher Lee. Por curiosidade, o DVD de A Condessa
Drácula foi distribuído também em duplicidade pela LWE com outra capa a
partir de 16/12/05.
Em 2004 foi produzido um filme independente nacional gravado em VHS inspirado na famosa condessa húngara. Intitulado Countess Erzebeth Bathory, escrito e dirigido pelo pesquisador e escritor Marcos T. R. Almeida,
de Mauá (SP), o filme procura retratar com fidelidade e conhecimento
como deveria ser o reinado de sangue da Condessa Bathory, mostrando as
horríveis sessões de tortura e os violentos assassinatos de belas
camponesas para a retirada do sangue a ser utilizado em macabros banhos
com o propósito de rejuvenescimento. Vale destacar a atuação corajosa da
atriz Denise Vargas,
musa do cinema underground, como a malévola Condessa Bathory, em cenas
memoráveis nos banhos de sangue e nos momentos sensuais com outras
mulheres. O fanzineiro Marcos T. R. Almeida também é o
autor de um brilhante artigo de pesquisa histórica sobre a perversa
condessa chamado Orgia de Sangue na Corte de Elisabeth Bathory, publicado originalmente em Janeiro de 2000 no fanzine Juvenatrix.
Outra curiosidade é relacionada à música, pois existiu uma banda sueca de Death Metal chamada Bathory, que foi criada no início dos anos 80 por Tomas Quorthon Forsberg (que infelizmente morreu em 07/06/2004).
Apesar do fim da banda, ela será para sempre lembrada como uma das mais
importantes dentro da história do Metal mundial, sendo parte integrante
do movimento desde os primórdios do estilo. Alguns de seus discos como
Bathory, The Return..., Under the Sign of the Black Mark e Blood Fire
Death são verdadeiros marcos do gênero. Uma outra banda importante desse
estilo musical, a inglesa Venom, gravou em 1984 uma excelente faixa intitulada “Countess Bathory”, a qual foi regravada em 1992 como cover pelos suecos da não menos excepcional banda Unleashed.
A filmografia inspirada na
Condessa Bathory é bem pequena quando comparamos por exemplo com o
vampiro Drácula, inspirador de uma infinidade de filmes, e além de
Condessa Drácula, podemos citar alguns outros também do início da década
de 70 como Lábios de Sangue (71), o espanhol A Força do Diabo (72), de Jorge Grau, e Contos Imorais (74), de Walerian Borowczyk.
A Condessa Drácula (Countess Dracula, Inglaterra, 1971). Hammer.
Duração: 93 minutos. Direção de Peter Sasdy. Roteiro de Jeremy Paul,
baseado em história de Alexander Paal e Peter Sasdy, adaptado do livro
“The Bloody Countess”, de Valentine Penrose. Produção de Alexander Paal.
Fotografia de Ken Talbot. Música de Harry Robinson. Maquiagem de Tom
Smith. Edição de Henry Richardson. Elenco: Ingrid Pitt (Condessa
Elisabeth Nodosheen), Nigel Green (Capitão Dobi), Sandor Elès (Tenente
Imre Toth), Maurice Denham (Mestre Fabio), Patience Collier (Julie
Sentash), Peter Jeffrey (Capitão Balogh), Lesley-Anne Down (Ilona
Nodosheen), Leon Lissek (Sargento), Jessie Evans (Rosa), Andrea Lawrence
(Ziza), Susan Brodrick (Teri), John Moore (Padre), Peter May (Janco),
Sally Adcock (Bertha).





































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