Cicatrizes do horror old school

Quem, quando criança, nunca ficou com medo ou aflito vendo um filme, seja por não conseguir entender a trama ou por achá-la muito pesada? Clássicos da Sessão da Tarde e do Cinema em Casa, estes são cinco filmes que, por uma razão ou por outra, me perturbaram em minha infância. Mas atenção: nenhum deles entrou na lista por ser ruim ou por ser bom. Estão aí, num posicionamento meio duvidoso, é verdade, unicamente pelas lembranças que deixaram. Aliás, com certeza faltaram muitos, mas não me lembro bem de todos. Mas, sem dúvida alguma, um ou outro também deve estar em sua memória.

RoboCop, o Policial do Futuro (RoboCop)
Num futuro próximo, a polícia de Detroit é controlada por uma grande empresa (OCP), cujos excutivos inescrupulosos querem substituir policiais por robôs. Um dia, o policial Alex Murphy e sua parceira são emboscados por uma violenta gangue de traficantes. Ela escapa, mas acaba testemunhando a longa tortura e execução do parceiro. Dado como morto, Murphy é transformado pelos cientistas da OCP em um ciborgue chamado RoboCop, que se torna o grande combatente do crime da cidade.

Filme extremamente violento, além de ser uma crítica corrosiva ao comportamento das grandes corporações e dos cientistas que nelas trabalham. A cena da morte de Murphy é violenta, demorada e perturbadora. É bastante incômodo quando ele fica entre a vida e a morte, sendo tratado como cobaia. Já a revanche de RoboCop contra seus algozes é menos perturbadora (até pela catarse que provoca), mas ainda assim violenta e sangrenta.

A Hora do Espanto (Fright Night)
Rapaz voyeur descobre que seu vizinho é um vampiro e tenta convencer meio mundo sobre isso, mas ninguém acredita. Até que ele busca um especialista, o apresentador de um programa de horror chamado A Hora do Espanto. Me chocou colocarem os vampiros em nossa época (ou melhor, nos anos 80) de uma forma natural. Minha cena preferida é a do espelho quebrado, que disparou o alarme “deu merda!”. O filme deu um baita medo. Mesmo.

A Coisa (The Stuff)
Uma misteriosa substância branca e viscosa é encontrada num lago. Ao descobrirem seu sabor delicioso, ela logo é comercializada e faz um tremendo sucesso por ser viciante. Um ex-agente do FBI começa a desconfiar que há algo errado. Um garoto vê a coisa se mexendo na geladeira e depois nota que seus pais passaram a agir estranhamente ao ingerir grandes quantidades da substância. A dupla se une a publicitária que tornou o produto famoso e eles descobrem que a coisa domina e devora as pessoas por dentro.

Fiquei muito tempo sem comer iogurte. Durante uma época, também não comi pão. Só porque, em uma das cenas, eles dizem que o ingrediente secreto da coisa era algo simples, como o fermento para o pão. Era terrível imaginar você sendo devorado pelo seu próprio alimento. Tá certo que o filme pode ser considerado um "terrir", mas a cena do radialista tendo a cara arrebentada de dentro para fora pela coisa foi um momento chocante da minha infância.

Um Lobisomem Americano em Londres (An American Werewolf in London)
Dois mochileiros norte-americanos, David Kessler e Jack Goodman, estão visitando o interior da Inglaterra. Em uma noite, caminhando por uma estrada deserta, são surpreendidos por uma fera. David é atacado. Jack tenta ajudar o amigo, mas acaba dilacerado e morto. Algum tempo depois, em Londres, David passa a ter pesadelos e visões de um Jack em carne viva. O amigo morto afirma que ele foi amaldiçoado. David se tornou um lobisomem. Em noites de lua cheia, ataca pessoas pelas ruas de Londres.

Tive febre quando vi esse filme pela primeira vez. Febre. Fora os pesadelos com lobisomens, até mesmo acordado. E olha que assisti ao longa-metragem acompanhado de meu irmão e de minha mãe. O doentio sonho dentro do sonho, a horripilante e dolorosa cena da metamorfose que rendeu um Oscar ao genial maquiador Rick Baker, os sangrentos ataques da criatura e as conversas com os mortos-vivos despedaçados são cenas de embrulhar o estômago.

Os Três Desejos de Billy Grier (The Three Wishes of Billy Grier)
Após uma consulta médica, um adolescente descobre que sofre de uma raríssima doença sem cura que lhe causa envelhecimento precoce. Mesmo contando com o apoio da mãe, Billy vê sua vida desmoronar e seu corpo definhar, ganhando a perturbadora aparência de uma pessoa idosa. Sentindo a proximidade da morte, ele decide listar três coisas para fazer em vida: aprender a dirigir; perder a virgindade; e tocar saxofone.

O mais traumatizante filme sobre doenças que passou no SBT. Toda vez que era anunciado, me metia um medo irracional. É tão chocante vê-lo sair do consultório dizendo que teve apenas um probleminha no joelho, provavelmente o primeiro sinal da artrite que o atacaria com tudo conforme fosse envelhecendo. Lembro que parei de ver quando ele já estava velho e aproveitava um cochilo da mãe para ir ver a namorada, que não sabia da doença. Não aguentei continuar. Era muito aflitivo assistir a tudo aquilo. Acho que a grande razão desse filme ser tão perturbador é que, no fundo, ele remetia ao medo que eu tinha de ficar velho. Bom, eu tinha sim esse medo, mas na verdade ele mascarava um outro muito maior.

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